Aggretsuko e a indústria de software

Vitor Navarro
Codando a vida adoidado
3 min readJul 30, 2018

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Após assistir a primeira temporada do anime Aggretsuko no Netlfix, fiquei com uma sensação martelando em minha mente, algo me dizia internamente que aquilo tudo era muito familiar.

Antes de discorrer sobre essa sensação é melhor fazer uma breve introdução de Aggretsuko.

Hello Kit© da SANRIO

Um anime lançado em 2018, baseado nos personagens da SANRIO (você deve conhecer essa gatinha ao lado e não ela não está no anime), que tem como protagonista uma panda vermelha chamada Retsuko sem perspectiva de vida após terminar seus estudos e se ver presa em uma grande corporação na área de contabilidade.

Retsuko é uma jovem como todas as outras dentro da sociedade e sempre faz o melhor de si, mesmo quando sofre nas mãos dos outros, e por isso ela tem um segredo super secreto, ela canta death metal no karaokê para liberar a tensão, frustração, ódio, tristeza e todos outros sentimentos negativos. O karaokê é o santuário da Retsuko.

Após alguns episódios ficou evidente para mim uma forte conexão entre a situação de Restuko e a indústria de software.

Antes de continuar, vamos resgatar uma memória minha…..

No Scrum Gathering Rio de 2016 tive a sorte de participar de uma roda de discussão que falava abertamente sobre os abusos e seus impactos, e o relato do próprio organizador dessa roda foi extremamente preocupante. Ele precisou largar a área de tecnologia e se afastar completamente de qualquer ligação relacionada ao seu trabalho para poder se curar, sim CURAR, ele ficou muito doente e com uma depressão profunda.

Qual a relação disso com Aggretsuko? E a do anime com a indústria?

Saímos do mundo acadêmico para a indústria com a crença de que "AGORA SIM MINHA VIDA VAI MUDAR", e de certa forma não estamos errados. Não querendo parecer demasiado negativo mas depois de 10 anos passando por diversas empresas, conhecendo diversas pessoas e participando de diversos eventos o que posso constatar é que as empresas de software comem as almas de seus funcionários no café da manhã e o resto de suas energias no jantar.

Entre todos os relatos, o que já presenciei ou tenho histórias próximas:

  • Crunch times, situações em fim de projeto onde quase todo mundo trabalhar até 3x mais do que o normal e muitos nem saem dos escritórios.
  • Ausência de tempo particular
  • Abuso de poder, agressão verbal (às vezes física), assédio moral e sexual
  • Horas extras implícitas e não pagas. Compreende-se que quem fica veste a camisa e faz parte do time, não precisa ser pago faz porque ama o que faz. Além dos comentários babacas “Ah você já vai?”, “Ah como assim mas o chefe nem saiu ainda…”
  • Vantagens em troca da sua vida sem compensação financeira, como festas incríveis, fliperamas, pufes, cachorro no escritório, entre outros em troca do seu esforço. “e o salário oh”

Todos esses itens aparecem durante todo o anime e muitas vezes mais de uma vez por episódio.

Mesmo usando o tom de comédia e deboche o anime acaba por retratar um tema pesado e por isso fiquei muito satisfeito tanto pelo conteúdo de qualidade quanto pelo tema retratado. Acredito que é uma forma de abrirmos um diálogo sobre tudo que está completamente errado quando tratamos de “gerir” pessoas.

Se você se encontrar em situações dessa seja na condição de líder ou liderado assista o anime, reflita sobre o tema, ajude-nos a melhorar a indústria de software ou peça ajuda para resolver esses problemas. Não vamos esperar colegas e amigos entrarem em colapso para reagir a esse comportamento tóxico, equipes saudáveis criam empresas saudáveis e prósperas.

E vocês já passaram por isso? Querem falar sobre suas histórias ou precisam de ajuda? Vamos trocar idéias! Se preferir falar no privado me manda mensagem no me@vnavarro.com.br :wink:

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Vitor Navarro
Codando a vida adoidado

Hi I’m software engineer / game developer, technology enthusiast that loves books, games and being with friends amongst other things.