Techies Project e porquê representatividade importa

Maria Clara Santana
Code Talks
Published in
3 min readApr 21, 2016

A falta de diversidade na indústria da tecnologia não é nenhuma novidade e projetos que buscam mudar esse cenário também não são. É evidente que não podemos negar que essas iniciativas estão sim impactando e ajudando a diminuir as discrepâncias em nossa área, mas muitas pessoas — incluindo a que vos escreve — sentem que ainda há algo faltando.

Sem dúvidas estamos obtendo progresso em quebrar o estereótipo de pensar em homens — normalmente brancos como Mark Zuckerberg, Bill Gates, Larry Page e outros — quando ouvimos falar em “tech people”, mas pare e pense em dez pessoas de sucesso nessa indústria. Em quantas mulheres você pensou? Quantas dessas pessoas são LGBT? Quantas são não-caucasianas? Eu sei que é difícil nomeá-las mas isso não significa que essas pessoas não existem.

Eventos são ótimos por várias razões, você consegue ver tendências da indústria, aprender diretamente de influenciadores, criar conexões e até mesmo encontrar seu próximo emprego. Agora escolha o último que você compareceu, você consegue se lembrar do quão diverso o público era? Vá ainda mais longe, qual o nível de diversidade do time que organizou, palestrantes e/ou instrutores?

“Nosso planeta é habitado por homens e mulheres, então por que o cenário da tecnologia não deve refletir isso?”

Quantas vezes já ouvimos ou lemos frases similares à quotada acima? Inúmeras e isso não é, nem de longe, ruim. Mas não deveríamos nos questionar “se o nosso mundo é habitado por homens e mulheres, de diversas idades, etnias, orientações sexuais e mais diversas outras características, por que o cenário da tecnologia não reflete isso?”.

Semana passada, enquanto passeava pela timeline do Twitter, eu encontrei o Techies Project, criado por uma fotógrafa americana chamada Helena Price e que tem como objetivo contar a história de pessoas que são comumente subrepresentadas na narrativa mainstream da tecnologia.

http://www.techiesproject.com/

Você pode pesquisar pelo relato de mulheres, pais, pessoas não-caucasianas, de origem pobre, LGBTs, que possuem algum tipo de doença e mais outras características não tão comuns assim nessa indústria. Falando por mim, eu muito raramente me sinto representada e até o momento em que eu achei o Techies Project, eu nunca tinha visto tantas histórias tão diversas contadas por indivíduos que são muitas vezes invisíveis. Fiquei bastante feliz em ler todos aqueles diversos relatos porque pude ver que não estou sozinha. Para nós, seres humanos que naturalmente têm a necessidade de sentir que pertencem a algo, isso é maravilhoso.

Existem vários exemplos de como a representatividade é importante vide a foto do garotinho feliz da vida com um boneco do Finn. Na área de tecnologia, o Diversify by Spotify, um hackathon onde o percentual de participantes por gênero foi de 50/50, é um dos exemplos mais poderosos disso. Com um marketing cuidadoso, com atenção às palavras nos anúncios, atenção às cores, buscando participantes não apenas nos meios mais comuns mas também nas universidades e comunidades, eles conseguiram que 43% dos inscritos fossem mulheres, contradizendo totalmente as famosas palavras de que “não há demanda feminina para eventos na área de tecnologia.”

A frase “falar é fácil” é muito famosa e existe uma razão para isso. O time do Spotify poderia simplesmente ter lançado um código de conduta, dito que apoiava as iniciativas de inclusão e deixado por isso mesmo. Provavelmente eles causariam um impacto interessante mas o resultado não seria nem de longe o mesmo.

Então você, organizador de meetups, conferências e afins, não pare no código de conduta e no discurso da inclusão, se você realmente se importa com esses tópicos, abra chamadas de atividades e divulgue-as na maior quantidade possível de locais. Dê espaço para que pessoas que fazem parte de uma minoria falem por si próprias e criem um impacto muito maior porque ouvir um discurso pode ser muito legal, mas nada inspira mais do que ver alguém com quem você pode se identificar fazendo coisas as quais você sonha fazer.

Esse, com toda a certeza, é um texto com mais perguntas do que respostas. Comenta aqui embaixo pessoas que te inspiram e como você acredita que podemos aumentar a representatividade na área da tecnologia.

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