O Meu Lanche, a Europa e a Estupidificação da Massa

Douglas Lisboa
O Olavista
Published in
7 min readOct 19, 2021

Por: Douglas Lisboa

Como alguns de vocês sabem, ou não sabem, eu moro na Lituânia, um paisinho no leste Europeu um tanto simpático e bom de morar. Vilnius é a capital. 500 mil Habitantes. Um sossego, se comparado a Paris, Londres ou a minha Rio de Janeiro. Agradeço a Deus por estar morando nessa linda cidade. Povo bom, acolhedor e educado. Mas estou angustiado; não com a gente querida, nem pelo clima frio e tão pouco a comida. Já lhes explico nos próximos parágrafos, e esse é o assunto do texto. Só peço para você, leitor, que não deixe sua preguiça ser mais forte do que a importância do artigo que lho escrevo. Vais entender que se trata, também, de preguiça.

Eu não diria que a Lituânia foi picada com a suposta vacina contra a Covid 19, mas assim como a tal cura para os males do vírus, há uma sequela que o país vem pagando ao fazer parte (há mais ou menos 15 anos) da União Europeia.

Começaram a exigir o passaporte sanitário. Eu estou sentindo, no dia a dia, as consequências que eram previstas, e pelo visto só tende a piorar. A medida não vêm dos pequenos bairros e vilas, não foram os líderes comunitários quem decidiu se é viável ou não impôr o “passaporte da liberdade”. Essas decisões “democráticas” vêm de agentes que não foram escolhidos democraticamente para sentarem nos bancos de decisões da União Europeia. Quem votou neles? Mas são esses “camaradas” que dizem para as autoridades política da Lituânia, a qual o povo escolheu, o que devem ou não fazer. Pobre país, nos confins da Europa, cercado pela Bielorrússia (“Rússia”), Kalingrado (Rússia), e ao subir um pouquinho, achando poder escapar pelo mar Báltico, há uma barreira chamada São Petersburgo (Rússia). Uma risadinha e os russos esmagam os lituanos com toda a boa vontade. “É bom que vocês colaborem conosco, a Rússia está logo ali”. Fazer parte da União Europeia é fazer pacto com satanás. Eles querem a sua alma e não abrem mão disso. Um bom exemplo é a Grécia depois da crise de 2010. Foram salvos pela UE que emprestou 100 bilhões de euros, e agora, por uma coincidência interessante, é um dos países com mais restrição do velho continente. Lembrem-se, quanto mais dívida um país tem, mas fraco é em perante aquele que deve.

No caso da Lituânia é a sua estatura mirrada, sem poder militar e nenhuma importância diplomática. Só tem a perder. “Os Russos estão logo ali”. Dobrar os joelhos ao bloco europeu é o que tem feito. Não tem para onde correr. Está nas mãos do capeta. O panaca do presidente lituano (o próprio povo o classifica com tal adjetivo) faz gestos de bom grado às ordens dos “chefões” membros do CRFeu, do Fórum Econômico Mundial e principalmente da União Européia, em relação a vacina e o passaporte sanitário… ops… GreenPass (beautiful name for beautiful people).

Bem, o resultado dessa obediência quase sacrossanta é óbvio: eu tenho que ficar até mais tarde aqui no meu trabalho nesse dia que vos escrevo o desabafo. Desço à lanchonete do prédio para comprar um sanduíche e garantir que eu não fique de mal humor devido a fome. Ao adquirir o bem pelo direito de 1 Euro a dona pergunta: _ tens o GreenPass? _ Respondo _ não. _ Então o senhor não pode comprar. Eu devolvo o lanche antes de pagar (claro). E ela ainda me faz a pergunta: _ Mas porque você não o tem? E é essa a parte que levanta a questão principal do artigo. Agora é muito importante. Se lês-te até aqui, fique até o final. A coisa é seríssima. Erguendo com sucesso o apetite da curiosidade sua, leitor, sigo os próximos parágrafos. Mas sou sincero. A coisa é braba!

Aristóteles diz que há pessoas que nascem com uma certa inclinação voluntária para a escravidão. Olavo de Carvalho prova isso com o exemplo de Foucault, que dava-se como um cordeiro ao prazer da dor. O masoquista. Eu até acho que o professor Olavo foi bem modesto em dar o exemplo citado; eu não iria tão longe. A crise da Covid mostrou que a tendência servil a nível escravocrata do homem é algo mais comum do que se imagina. É natural do ser humano (eu não e nem você) aceitar o seu destino sentadinho e bem comportado.

A teoria é a seguinte: o indivíduo comum não suporta a solidão — Eu escreverei isso com mais detalhes em uma próxima oportunidade. Espero que o pequeno resumo dê uma noção da enrascada em que estamos. O homem tem medo da vastidão da realidade. Ao estar sozinho, percebe melhor essa realidade; principalmente quando está escuro e em um lugar isolado como uma zona rural, uma mata ou, mais patente ainda, em meio a uma selva. Quanto mais selvagem, mais o peso da realidade se debruça sobre seus ombros. Essa vastidão é caótica para ele, por mais que seja óbvia que, por definição, o cosmos seja ordem. Mas é ordem obscura ao limitado ser humano. Esse ambiente é afastado daquele que é construído pelo homem para criar um micro-cosmos onde compreende o que está acontecendo. Tal área é de uma ordem inferior ao cosmos, artificial, adaptada e geometrizada apenas para que seja compreensível à sensibilidade física e cognitiva. Muitas vezes simétrica, mas envolto de cascas burocráticas, muros, e muros que o afasta da Realidade. Isso é o que chamamos de cidade e o indivíduo adaptado àquele meio é o cidadão. Agora ficará mais claro.

Como ele não suporta o lado de fora do muro, se protege do lado de dentro onde mesmo não conhecendo toda a complexidade burocrática do micro-cosmos têm ali certas garantias chamadas de leis, autoridades, constituição, civilização, funções, empresas, etc… ou seja, não é preciso compreender tudo. Cada um fazendo a sua parte, o micro-cosmos mantém a sua ordem. Mas o problema disso é quanto a tomada decisões em todos os níveis. Para vestir uma roupa é preciso ser — nos termos de Carl Young — a persona. Não é você que escolherá a roupa e sim a moda. É preciso estar adequado ao mercado minimamente fashion, e você não o cria. Alguém sempre faz pelo indivíduo e o indivíduo sempre procura alguém que faça por ele. Isso é apenas uma escolha da roupa para estar adequado ao meio. Isso pode subir para níveis mais sérios e complexos como o das políticas sociais e a ciência. Uma decisão técnica e científica deixa para os cientistas e técnicos. É preciso confidenciar nossa esperança neles, pois numa crise eles irão resolver. Mas há, dentro das comunidades científicas e técnicas, os debates e confrontos. Os resultados são divulgados em revistas especializadas ou mídia. Está tranquilo. Estamos a salvos. Eu resolvo o problema de encanamento, você resolve o problema da contabilidade da empresa, pois eles resolvem o problema político e econômico do mundo. Está tudo em ordem.

Porém, quando chega na mídia, estranhamente é pedido que o povo confie na ciência, por exemplo. Essa sutileza ninguém percebe. Ciência é um termo abstrato para uma mensagem de ação, pois ciência não age, quem age são indivíduos: os cientistas. A mídia é o canal pela qual a massa se informa e é assim desde a revolução francesa. Mas há outro problema, já que “mídia” também é um termo abstrato, e portanto não age, quem age são os jornalistas que se organizam hierarquicamente para fazerem tal divulgação. Ou seja, há indivíduos que formam a opinião de outros indivíduos. E essa é a grande pergunta: quem são tais indivíduos a qual a massa deposita tanta confiança? Quem são os indivíduos cientistas que estão debatendo. Estão debatendo? Isso é engraçado, pois escutamos somente a parte do: “há um consenso científico acerta de Y”.

A massa só se deixa ter a opinião formada porque não consegue ficar sem a tal opinião formada. Lembrem-se, que o ser humano tem medo do caos, do lado de lá do muro. Precisa de uma autoridade para mantê-lo inserido no meio. Está pedindo por isso o tempo todo.

Creio que entenderam o problema que Aristóteles já havia pensado. Muitas pessoas imploram por ser escravas. Não há nada mais claro do que isso. Muitos escravos, no fim desse terrível período no Brasil, ao serem libertados, pediram para voltar às fazendas no intuito de servirem aos seus senhores outra vez.

O mundo era obscuro demais para os pobres coitados. Manter-se adequado é o tal papel social, estar na moda, dar o próximo passo junto com todos. A crise dessa tal pandemia traz isso à tona quanto ao cerceamento claro da liberdade. O medo do caos, do obscuro e da morte (que nessa zona artificial do micro-cosmos já nos esquecemos que é inevitável) traz à massa o desejo da obediência. Não todos, mas os que têm aquela inclinação já teorizada por Aristóteles.

Eis a mágica da aceitação de algo tão absurdo como a escravidão não camuflada que é o GreenPass (que nome mais de lindo!). Só se pode frequentar bares, ir ao restaurante, supermercado, teatro, cinema e comprar um lanche na lanchonete do prédio para matar a fome, se estiver adequado ao micro-cosmos criado por burocratas que não elegemos, não sabemos quem são, muito menos sabemos sua religião, princípios ou cultura, mas que falam em nome, não dos cientistas, mas da ciência. E em nome desse ser todo poderoso chamado ciência, vale a pena tirar toda a liberdade. Sem exagero, porque hoje é o cinema, amanhã será o salário, depois de amanhã criarão guetos e nos marcarão com um sinal no peito para mostrar quem são os perigosos da sociedade. Pagaremos o preço. Não olvidem-se que a ciência nos presenteou com o nazismo, maoismo, stalinismo, leninismo, eugenia, racismo, esterilização, aborto e bomba atômica. Mas por medo da realidade permitimos que algum demônio construa para nós o admirável mundo novo. Se não é a estupidificação que nos faz chegar a esse ponto eu já não sei mais o que dizer. Fico aqui, com fome, sem meu lanche, mas com a dignidade em dia.

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