Sobre pessoas

e seus próprios mundos.

Pedro Marques
Coisas e crônicas

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Pessoas e seus mundos particulares, introspectivas, mas com a natureza social.

Hoje acordei atrasado, meu celular descarregou durante a noite, esqueci de coloca-lo para carregar, deve ser por causa dos analgésicos. Horário atípico, pessoas atípicas, e o pior de tudo, sem celular, sem música, sem meu mundo diário.

Sou do tipo de pessoa que coloca o fone de ouvido em casa, tira quando chega no trabalho, e no trabalho coloca denovo, então tira no final do horário, pluga no celular e só tira em casa. Todo momento da minha vida tem de ter trilha sonora, é assim que vivo, mas hoje foi diferente.

Saio de casa, barulhos diferentes, vozes, coisa que não ouço com frequência, e ao chegar no ponto de ônibus as 9 da manhã não sou o único atrasado. Uma moça me pergunta se aquele ônibus que vem passa pela Via Expressa, digo que não e aponto o correto, ela agradece e coloca o fone de ouvido. Silêncio. Não sabia que era assim, esse mundo que existem pesssoas fora do seu smartfone. Então percebi que o que mais buscamos, contato humano, é o que mais nos privamos.

Willtirando

As vezes sua vida tá aí passando que nem ônibus, e você nem vê.

Logo depois do meu devaneio sobre pessoas e ônibus a moça retirou o fone olhou e disse: "Será que a via expressa tá agarrada?" eu disse que não sabia, a expressão dela me mostrou que minha resposta estava sendo um ponto final na conversa, então perguntei, "Você está atrasada pro trabalho também?" Ela sorriu e disse que não, que estava indo fazer uma entrevista de trabalho, que era o trabalho que ela sempre quis, contou sobre como conseguiu a entrevista, sobre como os pais dela ficaram felizes, e que poderia ser o primeiro emprego dela, mesmo tendo 27 anos e recém formada em administração, o ônibus dela chegou, fim.

Provavelmente nunca mais vamos nos esbarrar por aí, mas isso me deixou com um ponto de interrogação imenso na cabeça, "Quantas conversas e causos deixamos de ouvir todos os dias?" viver no nosso mundo de fones de ouvido pode nos privar de várias coisas.

Já dentro do ônibus fiquei olhando para as pessoas e vi que elas nunca se olham, as vezes os olhares se cruzam mas por tão pouco tempo que chega a ser desconfortável. Me acostumei a ouvir minhas músicas e ler tweets pela manhã, sem saber que poderia estar tendo uma boa conversa, como a de hoje. E num segundo momento um senhor franzino, com idade avançada solta a seguinte frase "No meu tempo não era assim, eu conseguia ir no centro da cidade sem demorar várias horas", o mais engraçado é que a frase não tinha endereço, era pra quem se interessase, já que eu estava no meu dia "social" por que não responder? "Aposto que no seu tempo tudo era melhor, não?" não tinha ideia do tapa de luva que iria receber, "Uai, achei que sua geração já estivesse acostumada com essa paradeza toda, por que cês ficam o tempo todo no computador, tudo parado". Pronto. Era a frase que faltava pra completar meu dia de pensamentos sobre pessoas. Logo depois ele me contou como era a região do expominas na época dele, como tinham mais árvores, com todo saudosismo de um Sr. de 54 anos.

Passamos muito tempo navegando num mar de conexões sem fio, mas muito mais tempo sem se conectar com quem realmente importa.

E como já dizia Tiago Iorc,

"Você passa a maior parte do tempo falando de si mesmo e como isso é importante para seu ego mais do que para qualquer outra pessoa, Passe mais tempo ouvindo."

http://www.youtube.com/watch?v=7Qqtqj1odfw

Que tal ouvir mais as pessoas? Tirar o fone de ouvido um dia? Especialmente pessoas como eu, que trabalham com comunicação, se comunique mais.

O mundo gira ao nosso redor, ao redor de cada um, cada um tem seu mundo, mas universos são formados por vários mundos, criemos o nosso.

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Pedro Marques
Coisas e crônicas

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