Medo

Tenho medo de perder.

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

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De perder seus olhos verdes, sua barba que raspa no meu rosto. De perder suas mãos e seu abraço firme. De perder a maneira como ele me segura, como se eu fosse tão sua. Da maneira como ele sente ciúmes e parece tão meu. Tenho medo que ele se canse, que ele não entenda, que ache que a intensidade do que eu sinto pode ser facilmente cortada, como um pedaço de papel. Porque eu sou tão facilmente corruptível pelos meus sentimentos, porque eu sou tão tola e meu coração tão mutante. Porque eu sou um monte de coisas que lhe encantam, mas que lhe dão medo.

Como eu faço para que ele entenda que quando eu sinto, eu sinto com todo o meu coração? Que eu me entrego à emoção, boa ou má, com tanta vontade e à toda potência, sem temer pela minha integridade física ou mental. Sem temer nada, nem mesmo os machucados que eu causo em mim ou nos outros. Sem pensar em nada, sem querer nada além da imensidão que eu sinto naquele preciso momento. Como eu faço para que ele entenda que eu quero estar com ele, respirá-lo, observar seu rosto enquanto ele não está reparando? Que não tem nada mais incrível que a combustão que ele me causa? Como faço para que ele entenda que não é uma chama que vai arder e morrer em pouco tempo? Que o combustível é ele, sua boca, sua voz, suas pernas, seu sotaque, sua alma. Como faço para que ele entenda que eu não quero nada mais que me perder nele, me perder em nós dois?

Como faço para que ele entenda, para que ele veja, que eu não sou somente uma garota de sonhos e ilusões? Que não somos uma ilusão, uma noite, uma vez? Que o que nos atraí não é simples ou passageiro, ainda que a suavidade de quando estamos juntos pareça apontar o contrário. Como se a facilidade com que nos entrosamos pudesse eclipsar a força dos laços que nos mantem conectados.

Estamos perdidos, somos estrelas perdidas nessa imensidão de almas que às vezes se encontram, às vezes se perdem. Eu espero que nosso encontro seja mais duradouro que a luz das estrelas, anos e anos-luz. Eu espero que ele entenda que ele me enche de ar, de cor e de beleza. Que quero que ele faça o quiser de nós dois, mas que mantenho o “nós” e o “dois” na mesma frase. Que ele não ouse permitir que as lembranças de nós dois sejam motivo de tristeza, assim como diz a cancao. Que ele encontre o sentido que falta para continuar acreditando.

Deus, qual é a razão disso? Dessa juventude que se perde nela mesma, esses jovens, nós jovens, que não sabemos o que fazemos?

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Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português e espanhol 🖋️ Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros