Mil vidas em uma vida

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado
3 min readOct 10, 2017

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Um dia li em algum lugar que todo bom escritor tem que viver suas histórias antes de escrevê-las. No final das contas, histórias são sobre pessoas e o que acontece com elas. Então como posso escrever sobre uma situação se não tiver eu mesma experimentado ou estado perto disso? Talvez isso explique porque muitos escritores demoram tantos anos para lançar seus livros e se tornar conhecidos — com um mundo desse tamanho e com tanto que há para conhecer e viver, é preciso tempo e prática.

Eu sei bem que ainda tenho muito por conhecer e ainda mais por praticar, mas tive o privilégio de começar bem cedo a viver histórias bastante únicas. Muitas dessas histórias aconteceram durante viagens, onde conheci lugares e estive com pessoas que me ensinaram a imensidão da nossa realidade. Não existe melhor maneira de conhecer e entender o mundo que saindo a percorrê-lo. Logo descobri que não existe melhor maneira para conhecer e entender a mim mesma que viajando e terminei adquirindo certo vício pela vida de Indiana Jones.

Em 12 anos, estive em 10 países. Foram muitas horas sentada em apertados assentos de avião, caminhando em ruas desconhecidas, decifrando mapas e sotaques, percorrendo lugares que nunca pensei que poderiam existir. Horas e horas de puras surpresas, horas e horas deixando o teclado de lado para ser personagem em vez de escritora. Estranhamente, essa é a primeira vez que paro para escrever sobre essas aventuras. Até tentei ter um diário de bordo em uma ou duas viagens, mas sempre havia tanto para ver e fazer, que o dia ficava curto e escrever nunca foi minha prioridade nessas experiências. Preferia vivê-las.

Há pouco tempo completei um ano e meio sem conhecer novos países, embora more em um país onde ainda descubro coisas novas todos os dias. Mas a abstinência de ter meu passaporte carimbado me deixou meio nostálgica. E comecei a lembrar. Lembrei do sabor do melhor hambúrguer que já provei. Lembrei dos cenários de filme (literalmente) em que estive. Lembrei dos guias turísticos mais variados. Lembrei da cor do céu num improvável pôr do sol às 20h. Lembrei do brilho de mil telas piscando na minha direção. Lembrei da sensação de ver um vulcão por primeira vez. Lembrei dos amores que tive, platônicos e reais. Lembrei dos amigos que fiz. Lembrei de quem era e de como voltei de cada viagem. E deu vontade de sentar e escrever sobre cada uma dessas histórias, sobre essa trajetória de querer viver mil e uma vidas em uma única existência.

Ainda tenho muito por conhecer e muitos passaportes por encher! Já vão dois :) Mas ainda nunca vi a neve. Não conheço muito do meu próprio país. Há ainda uma imensidão de pratos a provar, paisagens para ver e pessoas que me vão ensinar coisas fantásticas. Por isso espero que essa série de histórias seja infinita, o primeiro passo de muitos outros relatos, as primeiras histórias escritas de muitas mais que foram e serão vividas.

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Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

Escritora brasileira vivendo no Uruguai 🌎 Escrevendo em português e espanhol 🖋️ Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros