Onomatopeias

TRIM TRIM grita o despertador. Modo soneca, oito minutos mais.

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado
2 min readJun 17, 2017

--

TRIM TRIM hora de levantar. Descubro a coberta, tremo sonolenta com o frio invernal até me refugiar nas várias camadas de roupa. Chá com bolacha de café da manhã, como em pé arrumando as coisas.

Mochila: check.

Celular: check.

Cachecol e luvas: check.

Um pouco de cafeína para disfarçar as olheiras: check.

TRIM TRIM faz o alerta do calendário pra me avisar que em dez minutos começo a trabalhar. Fecho uma porta, depois outra, e corrocaminho pela rua até o ponto de ônibus. CLING CLING as moedas caem na caixinha do cobrador e ele me passa o bilhete. Em sete minutos entro no escritório quentinho de calefação e trabalho à espera.

TAC TAC bato nas teclas do computador, palavras e ideias e vídeo e uma entrevista e revisar o site e ajeitar umas coisas com o programador e uma entrevista mais e TAC TAC sigo escrevendo que 10 notas devem sair essa semana e só vão 3. BLOP BLOP enquanto a água esquenta na chaleira, mais duas xícaras de café para energizar o dia e não deixar o TAC TAC parar. Falo, e me enrolo, e troco ideia com os companheiros, e escrevo na lousa branca as ideias que depois tenho que transformar em verdade.

De repente ficou escuro e ZIIIIM ZIIIIIM faz o porteiro eletrônico quando saio. Já é noite. O frio é o mesmo da manhã, só que mais insistente. Corrocaminho até a parada de ônibus e depois corrocaminho até a rua de casa. Vejo a luz da sala acesa.

De repente, tudo é mais suave.

Os últimos passos até a porta do edifício nem se sentem. Subo as escadas, abro a porta, e cheguei. UFFFFF faz meu peito. Posso descansar. Da manhã bagunçada, a casa se tornou noite que abraça e encontro aconchego nas cadeiras, no fogão, nas mil cobertas da cama onde ele descansa um pouco. Ele sempre chega antes de mim. OI diz com sua voz de preguiça e eu sei que estou no meu refúgio. No lugar da onde não quero sair, onde quase todos os ruídos desaparecem e somente escuto as nossas risadas. Rir de todo, de nós mesmos, dos poucos móveis, do frio que faz no apartamento, dos nossos problemas bobos, das nossas brigas fingidas, da nossa felicidade real. Da beleza de acordar todos os dias e sair sabendo que há um abraço para onde voltar.

E com algumas onomatopeias mais brincamos, jantamos, fazemos nossas coisas juntos ou separados até a hora de dormir. Não escuto nada enquanto me perco nas cobertas e ele segura minha mão antes de adormecer.

CATAPLOFT faz meu coração.

Gostou? Essa história faz parte do meu livro AmoreZ, uma coletânea de textos curtos sobre o amor. Conheça o livro no link e se inspire em amores que vão de A a Z 💛

--

--

Regiane Folter
Histórias que queria ter contado

Escrevi "AmoreZ", "Mulheres que não eram somente vítimas", e outras histórias aqui 💜 Compre meus livros: https://www.regianefolter.com/livros