As brigas de rua na Miami desconhecida

Leandro Demori
Coleção Disparo
Published in
3 min readJul 21, 2015

Existe outra Miami além daquela que acoberta corruptos brasileiros endinheirados: é o Dark Side, apelido de uma parte dos bairros da periferia negra. E lá o pau come.

O rei da área é um monstro de mais de uma centena de quilos chamado Dada 5000, um brigão de rua que decide montar um ringue no quintal da casa da mãe e organizar rinhas amadoras. Sua empresa informal é chamada de Battle Ground Extreme Fight Corporated.

Dada tem um nome de batismo, Dhafir Harris. Ele começou a trabalhar de sparring de seu ídolo de infância, um lutar de rua chamado Kimbo.

Kimbo era um mito.

Seus vídeos no Youtube tinham milhões de visualizações, e sua moral como brigador imbatível ultrapassava todos os condados da América. Mas Kimbo caiu pelas mãos do pupilo: em um treino, Dada surrou o ídolo. E surraria mais vezes depois da primeira vez.

Tentando a fama, Dada pedia as fitas das lutas, mas o staff de Kimbo nunca as liberava. Vendo que não faria fama se continuasse por ali, se demitiu e começou a organizar as próprias batalhas.

Os eventos da Battle Ground Extreme Fight Corporated acontecem sempre em feriados, com destaque ao de Martin Luther King. Dada 5000 seleciona os lutadores conforme a capacidade de luta de cada um, monta as duplas com equilíbrio. O evento reúne centenas de pessoas. Quando estão todos ouriçados, seus ajudantes sobem uma lona no meio do quintal e cobram $50 por cabeça por um lugar ao redor da arena. Os combatentes são todos ex-presidiários que passam o tempo todo se chamando de ketchup ─ porque é assim que vêem uns aos outros, sangrando tipo ketchup.

Ali se resolvem as brigas do bairro, evita-se criminalidade e mortes, diz Dada no excelente documentário Dawg Fight (está no Netflix). “Em vez de armas, punhos.” A luta só acaba com desistência, decisão do árbitro ou nocaute. Quase sempre, nocaute. É o que todos querem ver. Lutadores com a cara destroçada são convencidos por Dada a não desistir, a levantar e lutar. Não há médicos em Dark Side. É selvagem. O ringue tem 2,7x2,7 metros, em vez dos 5x5 oficiais. Não há saída.

O principal lutador do bairro é um maluco de cabeça enorme e muito feio chamado Chauncey. As lutas dele são mesmo incríveis. Em uma delas a edição é perfeita e os lutadores combatem como se o senso de propósito daquilo tudo fosse algo superior.

Chauncey vence as lutas, mas tem um final dramático no filme, que tem ainda outras surpresas.

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