O que há nas escolhas
Escolher é perder, e é preciso saber perder melhor
Por Gustavo Machado
Vale para a literatura e vale para a vida (como se essas coisas se separassem).
Quando se fala em escolha, creia: há perdas no horizonte. E não existe atalho. Protelar escolhas é perder tempo. Já aí reside uma primeira perda. Fugir, mesma coisa. Escolher entre duas possibilidades quase perfeitas não é bem escolher; é um luxo com que a vida raramente nos brinda e que, por ser luxo, não entra no departamento das escolhas. Ninguém escolhe, entre dois pares de sapato do mesmo número, qual dos dois tem o tamanho certo. Nem, pela beleza, entre os dois consortes mais lindos do universo.
A escolha real é a que se faz entre perder muito ou perder menos; entre dois graus de fracasso, duas intensidades de dor, duas profundidades de corte ou gravidades de laceração. Não é necessariamente escolher entre o menos pior, mas, muitas vezes, optar pela dor que mais convém. Nada disto tem a ver com o conformismo que ata em nós frouxos as boas gravatas dos conformados, mas com a temperança, com a elevação e o distanciamento crítico necessários para que se compreenda uma verdade dura e simples: escolher é perder.
Perder melhor para perder menos. É mais um optar pelo menor número possível de baixas de guerra, quando a guerra se faz inevitável, e não a obviedade de escolher entre guerra e paz. Entres anéis de dedos, há sempre uma perda indelegável. E, como único conforto, a certeza de que a vida vai nos ensinando a perder cada vez melhor, numa balança de lógica única. Escolher bem é perder com maestria.
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Gustavo Machado é autor dos romances Sob o céu de agosto, lançado no Brasil, em 2010, e na Alemanha, em 2013, e Marcha de inverno, publicado em 2014. O autor escreve semanalmente neste espaço.