Como a geração Y ama: um comentário

Mariana Gandarela
{DEi | CHÁ}
Published in
5 min readJul 14, 2016
‘We are all made of starts’ — photography series by Daria Khoroshavina

H á algum tempo Débora Nisenbaum publicou um texto reflexivo sobre como nós da Geração Y andamos reagindo às (antigas) regras sociais. Seu texto fala sobre muitas coisas pertinentes, inclusive sobre como nós amamos. Ela aborda e caracteriza um pouco do viés da nossa atitude frente à relacionamentos em geral e amorosos. Isso me deu um estalo e me fez procurar uma posição mais confortável na minha cadeira.

Me parece que não é só isso e pronto, como ela dá a entender em suas sentenças. Nos comentários mais alguém sentiu que faltava algo e se dispôs a falar, e está bem bonitinho aqui. Há de se considerar que esse é também um dos aspectos da geração Y, nós sabemos que ninguém ocupa ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço e que por isso os ângulos de visões podem ser diferentes, claro? Claro. Então eu tenho minha opinião, que é um pouco menos rock’n’roll do ponto de vista da Débora, que diz que:

“ A gente também não se sente culpado por ter relações curtas. Qual o problema de transar com aquele cara do Tinder e nunca mais ligar, se vocês só queriam sexo mesmo? Ou aquela amizade de verão maravilhosa, que foi boa enquanto durou? Pra que tentar ficar achando significado e profundidade em lugares que não precisam disso? A gente já superou o carpe diem, o neoqeav, o nada-acontece-por-acaso e estamos em paz com a noção de que relações humanas não duram — e nem precisam durar — para sempre.”

O que eu, particularmente, não acho que seja só isso. É muito mais que isso, é mais profundo do que essa rapidez de processos. Não é porque aprendemos a nos desapegar tão facilmente, é porque aprendemos a nos conhecer e nos respeitar mais profundamente.

Superficial e terminável não é o ponto

Essa questão de relacionamentos curtos e de perfil superficial e terminável não é o ponto exato da questão de como nos relacionamos, porque isso sim faz parecer que tudo é superficial. O que eu entendo é uma evolução que não se equilibra apenas no fato de um posicionamento contrario e “rebelde” de não querer relacionamentos longos determinados por X razões sociais. O fator que talvez determine que nós da geração Y tenhamos mais liberdade para encerrar relacionamentos pode estar amparada pela evolução da nossa autoconsciência e autonomia sobre nossas próprias decisões.

Simples, “aquele que é bravo é livre”.

As regras sociais estão na mesa de debate da nossa geração diariamente. Não ficamos em dúvidas, criamos coragem e falamos sobre o que é preciso mesmo que isso valha a própria vida. Nós nos dispomos a falar e discutir os assuntos que nos incomodam e que já não podemos ignorar e fazemos isso em respeito próprio e à leveza de viver que buscamos. O que eu vejo na geração Y é a capacidade de renascer a todo momento, e de maneiras diferentes, de fazer combinações diversas e experimentar, de investir em novas fórmulas que possam representar as nossas próprias maneiras de viver. Nós nos superamos continuamente, em respeito à nós mesmos.

Nós nos sentimos mais a vontade para criar, e essa foi uma liberdade que nós nos demos e nos damos (presente) por persistência. Nós nos mantemos em um caminho, que se tornou mais acessível recentemente, da busca pelo conhecimento, muitas vezes rápido e volátil, mas que não significa que essa facilidade nos deixou exatamente mais superficiais pela rapidez das mudanças. Acredito que a lição dessa geração é a de que não estamos satisfeitos, pois sabemos que podemos aprender mais e sempre, e que obstáculos podem ser superados. Nós podemos agora e finalmente definir e listar nossos próprios limites. E podemos apagar e reescrever outras delimitações em novos lugares de acordo com o nosso feeling.

Orgânicos e reais

Nós nos permitimos não só curtos relacionamentos em contra partida dos casamentos “eternos” dos relacionamentos de décadas anteriores, mas nos permitimos casamentos longos e abertos com relações extras, ou nos permitimos ter mais de um parceiro(a), ou nos permitimos casar sem nem mesmo obedecer à regras religiosas. Porque, cá entre nós, hoje nos sentimos muito mais a vontade para falar sobre quem somos e como gostamos das coisas ao nosso redor, e essa sinceridade permite ficar ao meu lado quem compartilha de sentimentos parecidos ou quem não tem problemas com as diferenças. Então agora você percebe que estas estruturas amorosas se fragmentaram em várias outras mil modalidades, cada vez mais específicas e particularmente determinadas por quem se relaciona.

Posso pensar aqui rapidamente em vários exemplos que conheci: pessoas que não querem estar com alguém e viver uma vida sem parceiro amoroso; pessoas que querem estar com mais de um; pessoas que alternam entre as duas ultimas maneiras; pessoas que querem estar só com uma pessoa e que acredita que seja para sempre; e pessoas que não acreditam em para sempre mas também preferem não trocar de parceiro; sem falar das combinações de gênero e das modalidades como o exemplo do relacionamento à distância. Então o que acontece é que hoje nos permitimos ser muito mais orgânicos e reais com nossa anatomia sentimental.

Flexíveis

Nós nos submetemos menos aos padrões e nos aceitamos mais porque nos conhecemos melhor e também nos valorizamos melhor. Então já podemos imaginar que as relações se tornaram mais saudáveis na medida em que temos liberdade para expressar nossos sentimentos que antes eram tão inaceitáveis e outside of the box. As análises situacionais se tornaram mais presentes porque agora podemos falar sobre diferentes pontos de vista. Nos flexionamos aos momentos de nossas vidas. Passamos para um patamar muito mais humano de compreender o outro ao compreender a nós mesmo, e isso transformou as relações da geração Y em respeito próprio e o respeito ao outro como chave fundamental.

Por isso não acho que estamos só quebrando tabus e convenções sociais porque sabemos que elas nos fazem mal infinitamente. Estamos, ao mesmo tempo que identificamos os incômodos convencionas da sociedade, encontrando maneiras mais diversificadas e equilibradas de nós mesmos, porque enxergamos que não é nem o 9, nem o 90. Então eu diria que as nossas relações de amor Y nos dá exatamente um posicionamento mais plural e respeitoso em relação aos amores alheios e ao amor individual que cada um de nós queremos preservar ou desenvolver.

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