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Conveniências numéricas, ingratidão e fim de ano.

Álisson Oliveira
{DEi | CHÁ}

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Em 2016 eu andei fazendo uma porção de bobagens que nem mesmo eu sei dizer o porquê de tanto disparate junto e misturado, contrariamente outras coisas muito boas pediram licença, muito bem educadas, e se assentaram sobre minha vida como as auréolas sagradas que pousam sobre a as cabeças dos homens santos “donde jorram raios de aguda luz e sinuosas labaredas, tal uma rosa-dos-ventos indecisa sobre a direção dos lugares para onde quer apontar”.

E nesses dias finais do mês de dezembro me senti insultado por 2016 ter sido tão injustiçado pela nossa forma egoísta de sempre-querer-mais. Poxa, nossa exigência pela boa-ventura não coaduna com o mínimo esforço racional da qual dispomos para ao menos agradecer, daí surgiu um vômito em linhas correntes dentro de mim manifestadamente elaborado em defesa de um ano que se foi e que poderia ter sido melhor reconhecido:

“O 2016 tem sofrido coitado… e como! Tem sofrido ameaças e pressões por ter sido um ano não tão bom para pessoas igualmente não tão boas para ele.

É fácil correr os olhos por aí e ver gente postando a seguinte missiva: “META PARA 2017: SER MENOS TROUXA.” É pequena, eu sei; “inofensiva”, diriam alguns, mas a milagrosa necessidade de transformarmos as coisas em nós mesmos não mudou nada, ou não foi percebida. Todo santo dia de feira, incluindo os sábados e domingos que não têm feira, temos a oportunidade de um dia novo, ocupado e célere para mudarmos algo e não fazemos absolutamente nada para isso, inclusive deixarmos de sermos menos trouxas ou seja lá o que isso queira dizer. Pois bem, em razão disso nos agarramos a crenças tolas de que um ano todo, robusto com seus meses, poderá mudar milagrosamente tudo em absoluto, num clique. Nos apegamos a ele NOVÍSSIMO por ser também forte e promissor sem ao menos desconfiarmos que é mais fácil culparmos o velho que se vai pelas nossas babaquices. E lá vamos nós todos pular ondinhas e beber muito, mais muito mesmo, para dizermos ao mundo que somos, numa porcentagem mínima, menos idiotas em 2017.

2016, tadinho, tão cabalístico e tem sofrido coisas que só ele bem sabe nas mãos de nosso egoísmo: “CULPEMOS O VELHO! Ainda assim, este outro que se aproxima já está advertido de seu encargo alto para com a (des)humanidade”

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Álisson Oliveira
{DEi | CHÁ}

Professor de literatura, ilustrador e estudante de design gráfico. Vintage; avant-gard; Kubrick; paroxetina; queer; Bauhaus; Esher; Taxi Driver.