O Diário Oficial do Escritório de Patentes dos Estados Unidos (Washington, DC: Government Printing Office, 1895)

Deadlock: Da Tecnologia da Informação para Tecnologia da Emoção

Você chora o leite derramado ou faz algo com a gota que restou?

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Existe um conceito da computação chamado deadlock que em tradução significa “impasse” ou, num isolamento descarado de palavras, “bloqueio da morte”. Em linhas gerais e resumidamente o significado diz respeito à um interbloqueio; um conflito interno na execução de uma determinada tarefa, em que a mesma fica travada por necessitar de, por exemplo, dois (ou mais) processos específicos que deixam de seguir sua ordem porque um necessita que o outro seja concluído para que possa ser finalizado e a tarefa venha a ser executada. A ação determinante para que esses processos sigam acaba se tornando a mesma e acabando por tornar-se impossibilitada de realizar-se enquanto estes a aguardam eternamente, travando, pois, a tarefa final.

Sejamos mais claros? Sim. Você está numa rua encruzilhada, congestionada, quatro carros parados no centro dela, atrás deles, e em cada caminho, um engarrafamento a perder-se de vista. Você não pode dar ré, nem seguir em frente. É preciso que um carro saia para que outro passe e nenhum possui espaço para manobrar. Um depende do outro e nenhum pode fazer nada por si enquanto o outro não faça. O que fazer?

No computador: reiniciar, reprogramar, desfazer e fazer em seguida novamente identificando o impasse de forma a não repeti-lo novamente. Na vida também. Talvez você coloque uma rampa em cima do capô de um carro, e pule por cima deles. Quem sabe não desça até o final da rua e mande o ultimo carro volta e o penúltimo e antepenúltimo até chegar no seu. Só você pode fazer algo pelo seu carro, ninguém do carro vizinho o fará, e ainda que tenha intenção de o fazer, não é prudente o esperar, você pode esperar para sempre.

Com quantos Deadlocks nos deparamos todos os dias? Realmente esgotamos todas as possibilidades? O mundo não é grande demais para considerar que já tentamos de tudo? O que nos impede de agir é a espera, a ordem dos processos ou dependência com falta de ação? É possível reiniciar a vida, reprogramá-la? Estou diante de um impasse ou não estou disposto a procurar um passe “in”? Acabou ou ta só começando? Ser ou estar?

Nem todas as perguntas foram feitas para serem respondidas, algumas muitas-quase-todas apenas servem para pensar. E tudo bem, tá? A linha do horizonte será sempre a linha do horizonte. Você pode caminhar para ela e jamais chegará, porque quanto mais andamos em sua direção mais se distancia de nós. Porque o objetivo não é encontrá-lo, é caminhar. Primeira lei de Newton com ressalva: “um corpo em repouso tende a ficar em repouso”, nesse caso, até que uma força interna seja aplicada neste corpo.

Você não é um deadlock, você está em um. Você não é esse momento de tristeza, esse sentimento de derrota, essa angustia, esse medo, esse desespero. Dor, desconforto, falta de paz. Você está! Assim como estará em momentos de felicidade, sentimento de vitória, confiança, coragem, calma, etcetera et al, mas também nunca os será. Tudo, tudo passa. Passageiro, passagem, passe, há de passar. CALMA!

Faço terapia, tomo de 4 a 6 pílulas de remédios por dia, tenho 11 tipos de alergia, problemas de saúde mais graves, dívidas várias, tomo conta de toda minha família e o gosto do sangue eu conheço bem desde a infância, seco e molhado. Sofro, choro, quero morrer também, um dia sim, oito não, e vice-versa, não necessariamente nessa ordem. Não tenho a menor vocação para Augusto Cury.

Meus textos não tem rabiscos de arabescos, nem gatinhos feitos a mão. Minhas poesias não publicadas não entram na hashtag #focoforcaefe. E minhas fotos não são milhares de selfies com mensagens motivacionais de autores descontextualizados que nunca li, sequestrados do pensador.

Só sei de mim. E enquanto aprendo mais sobre, eu posso ajudar alguém a buscar aprender também. Então o que eu posso lhe dizer é que vai doer sim! Não vai ser fácil. Você vai sofrer, vai chorar, se desesperar. Vão lhe machucar, você irá machucar a si mesmo também. Viver é mais difícil que morrer, e a morte é algo completamente inútil, só pra constar. Você não é o que você diz, nem o que você faz, você é o que faz com o que fizeram com você.

Clip art imagem, por Cliparts.co

É preciso se conhecer melhor, culpar-se menos, pensar mais em si mesmo que nos outros, fazer mais por você, largar o que lhe faz mal sem receios, sem resignações. Dicas, apenas dicas, não existe formula e um amigo sempre me disse: “Burrice é fazer a mesma coisa sempre e esperar resultados diferentes”.

Está lá, em Clube da Luta de Chuck Palahniuk, que as vezes as coisas que você não faz é que ferram você, que somente chegando ao fundo do posso você pode ser salvo, que perder tudo é libertador. Somente perdendo tudo você é livre para fazer o que quiser. E Neil Gaiman lhe aconselha a cometer erros, erros incríveis, muitos e vários, pois cometendo erros você estará fazendo coisas novas, coisas incríveis, incentivando você mesmo, agindo, fazendo qualquer coisa, e é preciso fazer algo! Somente errando é possível acertar. O Primeiro avião não ganhou os céus sem acidentes, a eletricidade surgiu de algo mortal e por causa de estar no lugar errado, na hora errada e ser acertado na cabeça por uma maçã é que foi estudado e descoberto o motivo de se ter os pés no chão. Não é otimismo babaca, não é conformismo religioso, é realidade, fatalismo massivo, que do mal o bem se fez.

A maioria do que pensamos serem deadlocks, são apenas desculpas que nos damos para procrastinar. Permanecer por muito tempo numa situação que causa dor e tolhe a liberdade exige também que muito tempo seja empreendido para sair dela. Sejamos empreendedores. De todas as lutas que travamos diariamente, a maior e mais pesarosa de todas será sempre contra nós mesmos, contra a nossa sombra, a sombra que Jung definia como a projeção de nós mesmo na sociedade.

Não é prudente pautar as resoluções externas baseadas nos ajustes internos. São timings diferentes. E o fato de você está começando a ter clareza das ideias não obriga o mundo a ser claro para além das portas e janelas também, e tudo bem. No entanto é apenas a partir dela que se pode fazer algo de concreto lá fora. Tomar whey sem malhar não lhe trará músculos, e o mesmo vale para a cabeça. Tomar clonazepam, paroxetina e afins sem trabalhar a cabeça não lhe trará resultados. Um corpo cheio de químicas é um corpo meio cheio ou meio vazio, perspectiva e sintaxe a vontade, e só.

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Francisco F.
{DEi | CHÁ}

Autor de livros que nunca foram publicados, escritor fantasma de si. Analogical Influencer, Budismo, literatura, David Copperfield, vinho e Clube da Luta.