Esquerda de interior?

Samuel Lemos
{DEi | CHÁ}
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3 min readAug 1, 2016

“Menos de 30 e não esquerdista: Sem Coração!

Mais de 30 e esquerdista: Burro!”

The Edukators

Todo poder emana do povo?!

Jornal O Estado — 05/10/88

Repristinação, Ontognosiologia, Parlamentarismo, Inconstitucionalidade…

Tridimensionalidade do Direito em Valor x Fato x Norma.

No direito temos claramente o que é obrigatório, o que é permitido e o que é admissível. O povo tem ideia do que seja isso? Alguém tem realmente ideia da linha que separa o teórico-do-prático?!

Mas querelas falaciosas à parte, seguimos: Digladiando-nos por um lugar ao sol (meros mortais)! Enquanto os bacharéis seguem bem treinados em manter o Status Quo — caótico “a despeito de sua enorme intelectualidade”.

Quantos ouvidos são necessários a um líder para que ouça o choro do povo? — Bob Dylan

Algum tempo atrás a definição era clara, e confesso grosseira, em minha cabeça:

- A esquerda preocupa-se com reformas sociais e quebra do status quo;

- A direita deseja manter a ordem como está;

Mas isso é, na prática, esquisito para alguém que morou toda a vida em uma cidade pequena, com uma mentalidade política bastante aflorada (Infelizmente por motivos dúbios, mas bastante ativa!); de modo que sempre se associou política a pessoas e não a partidos! Quando criança, a lógica era simples: havia o lado verde (do bem!) e o vermelho (do mal!) — ou o velho bacural e bicudo. Com o passar dos anos, a conjuntura mudou e o lado do “bem” tornou-se o lado do “mais” e “mais” e “mais” do mesmo. O partido passou por mudanças e tomou medidas que nos fizeram contestar até que ponto ele não se perdeu dentro de si mesmo.

Outra coisa que mudou foi a minha maneira de enxergar tudo isto. Enquanto curioso do estudo da história, me pareceu cada vez mais que o modelo brasileiro de fazer política advinha simplesmente dos senhores feudais que negociava vassalos e trocava proteção por um juramento de guerra quando fosse o momento. A impressão é que para a própria população da cidade seu bem estar coletivo era segundo plano, o importante era se haveria uma casa, uma feira ou remédios para os filhos…

Meu consolo era:

No interior é diferente! Em nível macro é que se faz política e os debates e as ideologias ganham vida!

Mas com o tempo tudo passou a se misturar…

Se eu não consigo aplicar um conceito político em minha cidade, para quê ele serve?

Onde há ideologia de esquerda (?!) ou direita (!?) num governo corrupto que avança, avança e avança rumo a um destino tão desconhecido por nós quanto aplaudido?

Faz diferença?

O que fazer com as etiquetas que colocamos nos partidos, quando a prática macro-política de conchavos e alianças revela-se tão mesquinha e pequena quanto os velhos Jingles de carros de som nas ruas e uma multidão alienada por um emprego na prefeitura?

Então como diabos eu posso ter orgulho de ser esquerdista — e me defino assim — se os representantes que escolhi demonstram que antes dos 30 eu apesar de ter coração já sou burro?

Há dois arquétipos nisso tudo tão clichês quanto verdadeiros:

a) TUDO em nossa sociedade gira em torno do jogo de interesses;

b) Todo povo tem os governantes que merecem;

Fico refletindo comigo mesmo: Será que somos tão ruins assim?

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Samuel Lemos
{DEi | CHÁ}

Pai de Gabriel Curinga e nas horas vagas, ArCaNj0 Pescador de Ilusões.