Nada vai dar certo, e tudo bem!

Planos, resoluções e condicionamentos.

Francisco F.
{DEi | CHÁ}
4 min readJan 15, 2018

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Terminei David Copperfield, só pra registrar, valorizar (que a gente não faz muito isso por aqui), foram mais de mil e trezentas páginas e eu me sinto tão órfão de Dickens, quanto fiquei de How I Met Your Mother. Aquele vazio, “disimpaciência”, um ócio-produtivo-introvertido e aleatório à qualquer vapor barato, um aperreio de vida. Volto a ler Caio, e ele me lembra que escrever não é como andar de bicicleta, a gente esquece, fica enferrujado e quando volta passa vergonha, bombeia, fica relapso, se deixar.

Mais uma vez eu me deparo com um vídeo na internet que me deixa inquieto, agitado por dentro, tenso por fora. Não consigo fugir das discussões sociais, das percepções e analises de resultado, tudo volta a mim, e roda, gira, como a vida, em 45 minutos ou menos, pode virar de cabeça pra baixo, e é por isso que é sempre bom lembrar de não ficar acomodado, bem ou mal acostumado, em nenhum lugar, porque o mundo faz movimentos circulares, e não tem baixo nem cima dentro do espaço, está tudo mudando, numa constante, em movimento. Não é místico, nem mágico, independe dos signos e seus ascendentes, dos Deuses e seus descendentes, é movimento, é massa gravitacional, é física real, não precisar crer, é só ver, está tudo no ar.

O mundo ocidental cresce dentro de realidades condicionadas, de sonhos fabricados, de desejos impostos e meias liberdades. Começa em casa, evolui na escola, se intensifica na faculdade e fecha no mercado de tralho. Tudo prontinho pra um sonho perfeito e muita frustração pessoal. Sou eu que estou dizendo, pode se eximir da culpa se quiser, mas não fugir do efeito e da causa. Pois é essa a ordem para nós. Estamos sempre querendo o resultado, mas pouco dispostos a lutar pela causa. Não precisa ir muito longe, é só fazer uma visita à casa daquele amigo que tem um espaço bacana pra receber o pessoal ou um jardim agradável de se estar. A gente fica vendo todas aquelas plantas, e paletes, toda aquela cor, tudo feito a mão, entre amigos, plantado, regado, podado, decorado. Nada foi caro, pouco investimento foi necessário, mas muito trabalho foi gasto. E é aí onde dói. O que nos impede de colar uns palitinhos, restaurar um móvel, dá um up na casa com uma lata de tinta e uns quadros feitos em 2 minutos via tutorial passo-a-passo online? Exatamente, nada. Absolutamente nada nos impede de realizar pequenas (porem significativas) melhorias diárias em nossa casa, nas nossas relações, atitudes, ciclos, vias, espaços, cabeça, corpo e alma. Não importa o quanto você tentou, o quanto aquele emprego ideal não chegou, você não tentou o bastante, é preciso procurar mais, de outro jeito, em outro lugar.

Não se alcançam resultados diferentes fazendo sempre a mesma coisa, sem sair do lugar.

Desde que eu aceitei que ser médico, morar num flat, com um cachorro, um gato, um jardim interno, um carro do ano e um banco de milhas alto, não ia dar certo, eu economizei pelo menos uma década da minha vida, muito dinheiro, trabalho e dor de cabeça para alcançar um estilo de vida que em definitivo, e em essência, não me satisfaria, não era pra mim. Mas como fugir disso? A gente foi ensinado: depois de tal idade já é pra estar naquele canto, morando na capital, longe dos pais, dando um jeitinho, sendo independente, dividindo a vida com aquela pessoa ideal.

É assim que (não) funciona, e no momento em que você aceitar que isso tudo não vai dar certo, você estará livre pra enxergar as possibilidades que estão ao alcance de suas mãos, a sua volta. O que você pode fazer hoje para mudar/melhorar a sua realidade e das pessoas a sua volta? E agora, nesse exato momento? Porque ontem já passou, e mesmo o amanhã pertencendo a você, nada lhe garante que ele vá chegar.

Quanto mais idealizamos nossas metas, mais distanciamos elas de serem concretizadas. Não há como controlar as pessoas e situações, isso tudo tem vida própria e acontece além de nós, todo o tempo que dedicamos para muda-las, estamos deixando de entende-las, vivê-las e aprender com elas a como ser mais. Não precisa pular da cadeira, sair gritando para o mundo que tudo mudou agora, não há necessidade de good vibes e alto astral. Nada disso é novo, nada disso é original. A realidade é a base, e é apenas dela que precisamos para nos sustentar. Enxergar com clareza as situações e pessoas, abandonar o ego, diluir o orgulho, ouvir mais, falar menos, sonhar menos, fazer mais. Escutem Gustavo Gitti quando ele diz que sempre existe uma saída, você só nunca foi mentalmente treinado para a encontrar. A má notícia é que a culpa é sua do que quer que esteja lhe acontecendo agora, a boa notícia é que você também é plenamente capaz de mudar.

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Francisco F.
{DEi | CHÁ}

Autor de livros que nunca foram publicados, escritor fantasma de si. Analogical Influencer, Budismo, literatura, David Copperfield, vinho e Clube da Luta.