REUNIÕES FAMILIARES
E mais uma daquelas reuniões familiares… Gente que se vê todo dia e não se suporta; gente que se vê por semana e mal se tolera; gente que não se vê há anos e odeia ter que se ver a tão pouco tempo desde a última vez… “O quê? Só dez anos?”; gente que nunca se viu, e preferiria continuar assim…
No fundo no fundo todo mundo odeia reuniões de família! “Um séquito de sanguessugas que se aproveitam de um vínculo normalmente indefinido! Ops… Oi Tia! A quanto tempo?! Como vai a Julinha?”; e por aí vai…
Ter que mostrar materialmente que está bem é normalmente a principal preocupação dos chefes de família:
– Esse ano eu tive uma considerável melhora nas finanças!
– Foi mesmo? O senhor foi promovido a quê?
– Trás mais cerveja meu filho! E rápido que chegou a vez do seu tio contar as novidades… — Após os mais velhos irem embora:
– E foi Pai? O senhor foi promovido a quê?
– Não fala besteira! Não lembra que você tirou o aparelho?
Mas sem dúvida a pior parte dessas reuniões á aquela tradicional pergunta que curiosamente teima em não calar no ressuscitado de cada ano:
“Lembra de mim?”
Ah Cruel indagação! Indefensível cruzado de direita. Sempre vem uma prima-meia-irmã de uma tia avó desconhecida (quando aparece gente conhecida na reunião viu!?) que surge do nada e te faz essa pergunta com um brilho nos olhos ainda por cima! Para não falar no ridículo acréscimo: “Você estava chorando e pedindo bubú da última vez que eu estava com sua mãe! Lembra não?”.
Para não falar naquela hora em que você tem que aturar um tio que você viu três vezes na vida te falando sobre suas últimas frustrações sexuais:
“Ela disse que entenderia, me amaria acontecesse o que fosse, e não pôde esperar mais quatro meses? Tem noção Joaquim o que são cinco anos juntando dinheiro para um estoque ilimitado de viagra? Mas ela vai ver! O Alemão só agüenta três noites seguidas… no máximo!”.
Obs: Vale lembrar que seu nome não é Joaquim, só não vale é perguntar como seu tio sabe tanto sobre o Alemão.
Uma reunião chega a seu ponto crítico quando sua mãe te puxa para dar lição de moral sobre o álcool baseada no comportamento dos seus tios (isso se a reunião não for da família dela claro!). Como de praxe ela começa com uma explicação religiosa, quando ela começa a se contradizer, ou não sabe algo que você se pergunta da bíblia, ela apela para contar experiências particulares sobre a bebida, aí depois de muito se comprometer e falar mal dos bêbados da festa a conversa encerra porque seu Pai está correndo pelado junto com seus tios atrás dos cachorros de rua. Coitado! Vai dormir no sofá até a próxima reunião de família, se bem que ano passado mamãe disse a mesma coisa. Quem sabe próximo ano os “generais” evoluam do estágio de “Homo bebalus” pelo menos para “Homo Ebralus”, que é mais fino segundo sua tia (formada em física e curiosa em latim).
Impossível não falar dos “amigos-secretos” familiares. Aqueles momentos de infernização, digo, confraternização onde a gente sempre ganha um estoque ilimitado de meias, cuecas e constrangimentos. Claro que suas bruxas, digo, tias nunca entenderão que você não tem mais seis anos e sempre te comprarão presentes para essa idade.
“Ah, mas ele já tem esse tamanho! Como cresceu tanto em dez anos?! Mulher essas crianças de hoje… tsc, tsc, tsc… Teremos que trocar! Faz o seguinte, você vai lá em casa brincar com o André um pouco, coitado, ta numa fase tão difícil que nem aceita mais os brinquedinhos que eu dou… Quer ser adulto imagine! Quatorze anos! Essas crianças estão cada vez mais precoces! Você vai lá e depois da brincadeira eu te levo para loja! Prometo que te pago um sorvete tudo bem?!”.
Claro que isso tudo é na frente da única prima gostosa que você tem. Não lembra? Aquela que da última vez que você a viu era dona de 60 kg distribuídos em 1,20cm de altura. Já esqueceu? Ela vivia te chamando para brincar de médico e você dizia que não era veterinário, ainda mais de paquidermes! Pois é… Agora são 58 kg em 1,78cm, Vai ser gostosa assim lá na…
E o Natal? Mais gente que você nunca viu em maioria te jurando fidelidade eterna e dizendo que seu avô era um grande jogador.
- Mas ele era coxo! Além disso, odiava futebol!
- O Quê? Aquilo era um disfarce para enganar o outro time rapaz! Assim ninguém dava nada por ele e não o marcava!
- Mas fora dos gramados? Até os 83 anos?
- ÉÉÉÉÉ… Frederico! Traz outra cerveja aqui pro amador! Traz duas que o camarada aqui não sabe de nada!
E finalmente chega a hora de comer o peru de Natal, quer dizer, o frango recheado, que pra variar já está frio, afinal é tradição de família sentar-se a mesa completamente embriagado, e “quebrar uma tradição é um pecado muito grave…”. Claro, como sempre eles juram passar o próximo ano sendo uma família mais unida, e prometem não brigar nunca mais! Aí seu Avô fala em dividir os custos da festa do próximo ano e começa tudo outra vez…
