Como se cura solidão?

Bruno Luiz Mattos
Coletivo (des)versificados
2 min readDec 16, 2014

— Você não acha meio patético começar um texto com esse título?

— Quem é você?

— Alguém que está há muito tempo sem ler nada.

— Então acha que pode aparecer do nada, me encarar com esses seus olhos marrons e um título vai cair do céu?

— Não seja dramático, Igor. Meus olhos são castanhos.

— Prefiro marrom.

— Claro que prefere, assim como minhas minissaias.

— Elas delineiam bem seu corpo. A menina de olhos marrons com curvas Europeias.

— Eca. Marrom eu até aceito, curvas Europeias? Você nem foi na Europa para saber. E se eu me parecer mais com as Russas?

— Se fosse Russa, seu cabelo seria vermelho.

— Você anda muito pervertido hoje.

— “Como se cura solidão?” Simples, chame Amanda.

— A gente devia tá fugindo e não discutindo bobeiras.

— Vamos fugir para pista de dança?

— Além de tarado é doido? Onde você está vendo uma pista de dança nesse café deserto?

— Você já foi menos chata. Venha aqui… Levante comigo e vamos dançar, tenho uma música para nós.

— Você quer curar solidão ou criar hematomas no meu pé?

— Por que não os dois?

— Seu senso de humor não me favorece hoje.

— Então estamos quites.

— De?

— De facilidades.

— Esse é seu plano? Me analisar enquanto fica me levando para lá e para cá?

— Não há planos. Só perspectivas.

— E qual é a diferença?

— Planos é ação, perspectivas é desejo sem preocupações.

— E quais seus desejos, senhor “Perspectiva dançante”?

— Terminar essa história em uma praia, de preferencia no caribe e você ao meu lado.

— Ser galante não vai nos tirar dessa.

— Claro que vai! Meus dons podem ser úteis.

— Desde aquela festa você ficou muito doido.

— Claro né Amanda, quase fui morto. POR VOCÊ!

— Não seja tão dramático. Eu mirei certo.

— Sim. E mais um pouco teria tirado metade da minha cabeça.

— Ficou uma marca sexy. Todo herói precisa de uma cicatriz da guerra.

— Isso já virou uma guerra?

— Precisamos fugir e sobreviver. Em algum momento teremos que lutar, então sim, é uma guerra.

— Eu sempre soube que seu olhar era fatal.

— Só meu olhar?

— Não. Tudo em você.

— Igor…

— Como se cura solidão?

— Quando temos uma guerra para lutar.

— Temos uma.

— E estamos juntos.

— Vamos terminar juntos.

Amanda e Igor são personagens do livro “Aventura Desconexa” e essa cena foi criada especialmente para o desafio semanal dos (Des)versificados.

Imagem: mark sebastian

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Bruno Luiz Mattos
Coletivo (des)versificados

Bacharel em Sistemas de Informação, tentando montar uma empresa e autor do Livro “No Encontro de Uma Constante”.