Olá minha amizade de leasing

Bruno Luiz Mattos
Coletivo (des)versificados
3 min readDec 18, 2014

Hoje descobri que tempo é uma memória. Se fossemos eternos, ainda haveria tempo. Ainda poderia quantificar quanto tempo se passou desde nosso último contato, ou melhor, desde que acabou nosso contrato de leasing. O tempo passa porque nos lembramos do ontem. Morremos porque o corpo se lembra do ontem. E nossa memória celular é implacável. Um dia só é pouco para que seja notado essa passagem do tempo, e em determinados dias, paramos e pensamos e vemos o quanto envelhecemos.

O problema é que não sou eterno e cada segundo que passa é um segundo a menos de vida. Cada decepção traz um aprendizado, mas leva um infinito inquantificável (o pleonasmo é de propósito) de tempo e vida. Existem pelo menos umas dez mil pessoas que poderia conhecer e gostar da mesma forma que gostei de você, mas não tenho tempo o suficiente para elas, por isso que, quando uma aparece, devemos arriscar. E você apareceu.

Sabe, por muito tempo eu pensei que o problema estivesse comigo. Mas foi quando eu aprendi esse termo novo, “leasing”, que tudo ficou claro. Você arrendou minha parte boa e quando eu não quis mais ser explorado, o contrato foi simplesmente interrompido. Sem email, carta ou um SMS. Nem um whatapp. Mas é a moda agora né? Talvez devesse chamar isso de “parasitismo”, mas os parasitas são honestos, eles deixam claro desde o início qual seu propósito.

Será que estou sendo injusto? Seu comportamento após “aquele fato” apenas trouxe a tona o que já existia há muito tempo? Será que suas atitudes eram honestas e eu na minha inocência achei que existia algo? Algo puro, não me entenda mal, acredito que uma amizade é um amor tão nobre e intenso quanto o amor que exige beijos e sexo. E acreditando nisso eu me entreguei como me entrego quando amo. Essa nossa amizade não deveria ser um contrato de leasing, não mesmo. Eu perdi vida, você perdeu amor. Ou talvez não, talvez você não saiba o que é amor, e o que eu ofereci, pensando ser o certo, o adequado, a medida do que você merecia, não tratava de meras Cláusula do leasing firmado unilateralmente por você.

Eu te amo, mas esse amor ficou no passado. O tempo passou, a memória dos fatos só encontram só os fatos que justificam os motivos para meu afastamento, não de você é claro, porque você fez esse trabalho, mas da esperança que fosse tudo um mal entendido. E por fim, mais uma vez estou enganado, aquela parte celular que sempre me levava aos bons momentos também se dissipou. Se somos nossas experiência, acho que agora sou um pouco mais forte, porque é o que resta depois de um soco, porque sobreviver nos torna mais forte. Diga-me, mas responda para si, não precisa enviar nada, porque será ignorado: ter desejado uma amizade tão verdadeira a ponto de imaginar que seria para sempre me torna patético?

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Texto postado como parte do desafio semanal do coletivo (Des)versificados que consistia em escrever uma carta.

“Amizade de leasing” é uma carta simbólica para todas as pessoas que se dizem amigos, mas quando não precisam mais se vão. Tipo aquelas pessoas que começam namorar e nunca mais fala com você, porque afinal “uma pessoa só pode preencher totalmente a vida dela”. O engraçado é que, quando terminam o tão “namoro perfeito” primeira coisa é (tentar) reatar laços com os amigos.

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Bruno Luiz Mattos
Coletivo (des)versificados

Bacharel em Sistemas de Informação, tentando montar uma empresa e autor do Livro “No Encontro de Uma Constante”.