Uma ficção de mim mesmo

Bruno Luiz Mattos
Coletivo (des)versificados
4 min readSep 20, 2014

Meu nome é Bruno; e isso você já sabe, acredito eu. Mas é que eu gosto de apresentações, acho ruim deixar algo tão simples e importante solto no ar. Hoje acordei bem cedo na minha casa de “descanso” que batizei como I7. Se você é um pouco como eu, deve saber que I7 foi processador muito potente da sua época, um que eu queria muito ter, logo que ele surgiu, mas que só consegui bem depois.

Homenagear o meu passado, mesmo que de forma excêntrica deixa tudo mais equilibrado. Porque mesmo tendo bilhões hoje e sendo quase impossível perder tudo, financeiramente falando, não quero perder quem sou. E quem eu sou?

Bom, poderia ficar horas falando de mim e infelizmente ainda não tive paciência para autorizar uma biografia minha. Há muitas por ai não autorizadas, mas nenhuma diz o que realmente aconteceu (Saudades do livro Jogador Número 1). Vamos limitar o nosso papo: gosto muito voar.

O bom da I7 é a vista privilegiado do que se encontra em minha volta. Observar meu helicóptero e o jatinho preto (sempre gostei muito de preto) traz imediatamente uma vontade de voar, principalmente de helicóptero. Uma vez foi muito engraçado.

Anna, uma amiga minha, estava escrevendo um livro e me ligou aflita, pois o personagem dela tinha que pular de um helicóptero e mesmo tendo visto vários filmes, ainda não tinha captado as coisas.

“Eu pulo.” — Disse para ela.

Na manhã seguinte lá estávamos: eu, ela e a Mari. Mari era outra amiga nossa que gostava muito de pilotar. Quando soube da novidade logo se voluntariou. O melhor de ser rico é ter ótimo amigos ricos que também eram amigos meus amigos quando eu era pobre.

I7 fica no alto de uma colina com uma ótima vista para o oceano. Realizei algumas pesquisas, vi alguns filmes e claro, contratei uma equipe de emergência. Se era para ser louco que fosse com um pouco de segurança.

Subimos mais ao menos trinta metros. Fichinha. Seria como pular na minha piscina de três metros.

Anna explicou que o personagem havia sido sequestrado e por um milagre (como se em histórias houvesse milagre) conseguiria a oportunidade de pular. Parecia simples, mas nada era simples para a escritora mais lida da América Latina.

“Só porque eu não aprendi inglês ainda” Ela brincava com a gente quando eu mencionava isso.

“Precisamos filmar tudo detalhe a detalhe, quem sabe isso tudo vira uma exposição”. Mari respirava arte e suas galerias sempre possuíam a melhor audiência da região. Ela conseguia pegar coisas até então inexploradas e transformar em algo magnifico. As que eu mais gostava misturavam poesia, pinturas e esculturas. A poesia não propriamente em palavras, mas os detalhes eram tão impressionantes que você sentia as palavras, os sentimentos, as analogias. Ela era ótima em analogia.

Pulei.

Sempre senti uma angustia muito grande vendo cenas do tipo nos filmes. “É tudo probabilidade eu pensava.” Quando você pula em queda livre o ar ganha vida. Ele não é mais um simples vento ou o oxigênio que te mantêm vivo. É o atrito sendo vencido, é a natureza mostrando sua força, é você sentindo tudo como é.

Dura apenas cinco segundos. E uma amostra do universo penetra em sua pele. O barulho do corpo batendo na água é apenas um pensamento, não tem como ouvir de verdade. O impacto é a única coisa que o corpo sente.

E você cai.

Cai.

E cai.

É silencioso. Transparente e aconchegante.

Medo? Claro, e isso que tornou a experiência melhor ainda.

O mar te envolve, mas sente que você não pertence lá. E começa a te expulsar.

Você luta em vão. Luta porque quer ficar.

Mergulhar é uma coisa. Invadir o mar em queda livre é totalmente outra.

Se eu fosse um personagem fugindo de algo muito perigoso, aqueles instantes seriam a energia necessária para continuar fugindo.

Posso está exagerando, mas quando transcrevi tudo isso para Anna não imaginei que ela colocaria praticamente igual no livro. E se ela colocou no seu livro era sinal que tinha sido real. Não real de “Acontecer”, mas real de “Ual, conseguir transmitir bem minha experiência, mesmo parecendo maluco aqueles montes de sentimentos”. E para completar minha felicidade, Mari organizou a maior e melhor exposição sobre o oceano.

Me senti sortudo, primeiro por ter tido uma oportunidade de vivenciar algo incrível e segundo por ter sido parte de dois trabalhos maravilhosos.

Olho para o horizonte e penso: “O que vou fazer hoje?” Claro que tinha muita coisa para fazer, mas poder escolher qual, era um dos benefícios de ser rico.

O telefone toca e o nome “Anna” aparece no visor.

— Tive um sonho incrível para meu próximo livro. Já pulou de paraquedas?

Atenção: Esse texto é uma ficção e a imagem foi retirada da internet. Qualquer semelhança com realidade é pura coincidência.

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Bruno Luiz Mattos
Coletivo (des)versificados

Bacharel em Sistemas de Informação, tentando montar uma empresa e autor do Livro “No Encontro de Uma Constante”.