[cinco poemas de Rafael Vaz]
Abrindo o edital publicado anteriormente em nosso Instagram, apresentamos hoje: cinco poemas de Rafael Vaz
“Vivo no que há entre o céu e a terra e escrevo sobre isso. Nascido do Xingu e cidadão do Cerrado. Queria eu poder dizer mais coisas, mas há muito mais para se viver.”
O açaizal não está mais lá;
A rua dos três metros não está mais lá.
O pe. Tore ainda está lá.
Rodeado por muros e fios farpados.
São muitas as riquezas que você
Encontra no interior da igreja.
As escolas que eu estudei,
Estão todas fechadas.
Isso foi ontem
Você fez alguma coisa à noite
Uma coisa que você nunca poderia contar
Eu nem conseguia
Me olhar no espelho
Exceto ela.
O solo abaixo de nós
Milhares de passos no seu ritmo
O sussurro dela parece cortar
A máscara mata o som de tudo.
Minha coragem se retorce
E quase perco ela.
Tira todo meu ar
Eu não consigo ver.
Tudo isso está errado
Se eles me verem
O que quer que seja
Que me pegou é forte
Através da dor o que eu vejo
Não faz nenhum sentido.
O primeiro instinto
É de dar o fora para respirar.
Tão intenso que eu
Quase esqueço onde estou.
Eu passei um mês naquele quartinho no centro.
Eram vários inquilinos no mesmo lote.
Onde o senhorio mantinha um lanche na frente.
Nós atados. Colados uns nos outros.
Nós que nos juntavam nesse universo.
Todas as noites quando eu chegava
Tinham aquelas pessoas com suas latinhas
Fumando a incontável pedra do dia. Vi eles agindo um dia
Com todos os olhos em volta. Cegos.
Por trás do portão começava a segunda fase
Dos rejeitados da sociedade. Todos eles viviam em
Extrema guerra de sobrevivência.
Mesmo que fosse pra tomar só uma latinha
No final de semana. Quando tínhamos só manga
E tudo era esperança.
Vida é o que sai dos meus olhos
Quando choro.
Vida é o que sai da minha boca
Quando sorrio.
Vida é o que sai das minhas mãos
Quando te toco.
Vida é o que sai da minha alma
Quando te beijo.
Vida é o que geramos quando
Fodemos uma noite inteira.