edições garupa, confira nosso catálogo

Garupa
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8 min readMay 16, 2018

Propondo projetos gráficos que buscam redirecionar as experiências de leitura para quem os lê, os livros das Edições Garupa trazem diferentes interações. Conheça agora o nosso catálogo.

Marimbondo, de Gabriel Gorini

Como é a proposta do selo, Marimbondo é o primeiro livro de Gabriel Gorini. Oitavo título em nosso catálogo, ele é o primeiro com a assinatura “Edições Especiais”, que traz um projeto gráfico limitado, com apenas 120 exemplares. Nesta edição, o miolo é feito parte em pólen 90g/m² e parte em couchê 150 g/m², com capa de alumínio gravada a laser. A encadernação feita manualmente em Códice, é datada do séc. I e representa o início do livro como entendemos hoje, com páginas sequenciais — antes, não havia um sistema construtivo hegemônico. Este projeto gráfico reúne, portanto, elementos que marcam avanços tecnológicos ao redor do livro e ensaia uma relação entre modernidade essencial da forma-livro e o que há de moderno na poesia de Gorini. Em breve, uma nova edição em brochura estará disponível.

é noite na lapa, e nomeio as
ruas em volta: a do rezende, a
gomes freire. os rostos passam
apressados e me pedem poemas
que sou incapaz de escrever, como
aqueles que, ajoelhados, suplicam
“faça o que quiser, senhor. só não se
esqueça de nós”

somos todos como pálidas frotas
de navios que se aproximam do
porto quando ninguém mais está
à espera. os últimos cachorros da
noite, as últimas demandas vencidas:

me disseram que houve
um tempo onde tudo
ainda era intacto

Mugido [ou diário de uma doula], de Marília Floôr Kosby

Mugido [ou diário de uma doula], é o terceiro livro de Marília Floôr Kosby. Esta é a primeira publicação do selo Edições Garupa feita a partir de poemas submetidos à chamada aberta da Revista que semestralmente garimpa ​​autores​ ​fora​ ​do​ ​eixo ​tradicional. Mugido ​nasce da reunião de poemas escritos a partir da memória afetiva de Marília, doutora em Antropologia Social (UFRGS), nos atendimentos veterinários em fazendas na região rural do Rio Grande do Sul vivenciados por ela da sua infância até sua vida adulta. Nesse processo, a mulher do campo e o animal ganham a atenção da poeta — contrariando a ordem antropomórfica e masculina do mundo em que vivemos. Para o posfácio, convidamos a também gaúcha Angélica Freitas que, além de escrever um texto com suas impressões sobre os poemas, decidiu entrevistar Marília e trazer a relação entre a mulher da ​​cidade e ​​do ​​campo.

Nascida em uma região que marca sua presença no mapa latino-americano dos estragos do colonialismo pela escravidão, o patriarcado, o latifúndio, o genocídio de povos indígenas e da juventude negra. A autora de Arroio Grande, extremo sul do Brasil, viveu por cerca de dez anos em Pelotas, onde cursou o bacharelado e o mestrado em ciências sociais. Teve seu primeiro livro de poesia publicado em 2011, Os baobás do fim do mundo (editora Novitas), em parceria com o artista plástico Zé Darci. Entre 2012 e 2014, foi professora de antropologia na Universidade Federal de Pelotas. Seu ensaio “Nós cultuamos todas as doçuras” recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura, em 2016, e o Prêmio Boas Práticas de Salvaguarda do Patrimônio Imaterial Brasileiro, em 2015. Integrou a equipe de pesquisadores de dois inventários nacionais de referências culturais, o da Região Doceira de Pelotas e o da Lida Campeira na Região de Bagé/RS. Às vezes, realiza encontros de vivência de poesia e publica poemas em revistas de literatura e arte. Tem se aventurado em fazer vídeo-artes, vídeo-poemas. Mora em Ipanema, ​ali ​​perto ​do ​​Guaíba, ​em​ ​Porto​ ​Alegre.

Tiráspola, de Ana kiffer

Ana Kiffer é professora associada da PUC-Rio. Entre suas pesquisas, fuça os limiares ou as passagens entre os traços poéticos e o plástico; e as relações entre os corpos e a escrita. É autora dos livros A punhalada (7Letras, coleção Megamini), e das coletâneas Sobre o Corpo (7Letras, 2016) e Expansões Contemporâneas — Literatura e outras Formas (UFMG, 2014) entre outros artigos e ensaios. Tiráspola é seu primeiro livro de poesia.

Em um projeto ousado, as primeiras edições do livro traziam as capas em acetato que revelavam desenhos únicos de linhas de algodão no mesmo papel pólen em que estão impressas as duras palavras de quem escreve sobre o amor e o golpe. Quer dizer, o amor é o golpe. Não! O amor e ´ o golpe…
Ao procurar a quarta-capa de Tiráspola, descobrimos novos desaparecimentos e um novo livro. Nessa nova capa, um labirinto que desvanece entre traços mais sólidos direcionam, novamente, os caminhos das linhas de lã. Dividido em 3 partes, Desaparecimentos é sobre a descoberta de si como um ser apagado pela sociedade em um corpo que envelhece até findar e a memória desaparecer como um sobrevivente.

Herói de Atari, de Leonardo Marona

Em seu quarto livro de poesia, Leonardo Marona inventa a trajetória de um herói pixelado, paupérrimo, pele pouca e punho forte, diante dos golpes de Estado e das grandes cidades. Um herói que é também meu, nosso, porque faz o corpo de símbolo e arma nessa guerra entre nós e os homens de terno — estes também vestidos com suas armaduras engravatadas.

Ilustrações de Alexander Rodchenko dividem o livro em três partes: na primeira, um herói que toma banho e apara os pelos do nariz porque vai ao matadouro é apresentado; ou que observa as pombas sujas e alegres depois do temporal e transforma em um novo mantra o desejo de também ser sujo e alegre depois dos temporais. Já na segunda, questões atualíssimas são discutidas, como as manifestações verde-amarelas e a semelhança dos nossos tempos com outros, que o país já enfrentou. A terceira parte do livro, por sua vez, traz uma resignação inteligente, não desistente, mas povoada de vozes: um pedido de ajuda à mãe já falecida, uma música do Charly García, um poema azul para Paul Celan. Nela, fica claro que não há uma saída para o desmoronamento dessa figura [que nunca foi] heroica, mas que o que o autor nos sugere são possíveis saídas diante de uma persistente crise — uma crise constitutiva.

Não à toa, o projeto gráfico do livro mescla referências modernas — o construtivismo russo, a ficção científica oitocentista — à contemporâneas — seu tamanho é proporcional ao da fita de Atari, e a coloração manual dos cortes do livro intensifica essa semelhança; ou ainda, a cidade hiper povoada contemporânea que invade a figura masculina na capa. Na revolta dos poemas, revolta-dez-horas-de-trabalho-merda-por-dia, revolta-falta-de-visceralidade-nos-seus-contemporâneos, está a jovialidade de Leonardo Marona. Jovialidade que falta aos mais jovens que ele e que prova olhos atentos aos vultos do nosso tempo.

O Martelo, de Adelaide Ivánova

A edição brasileira do primeiro livro de poesia de Adelaide Ivánova, lançado pela primeira vez em 2015 pela Douda Correria de Portugal, possui quatro poemas inéditos e um projeto gráfico que respeita o que há de mais demarcado na poesia da autora: é impossível ler e não se sujar. O livro surpreende o leitor com uma fina camada de tinta vermelha que cobre a capa e suja suavemente as mãos de quem o encosta. Deixando rastros por onde passam os dedos, a publicação é um convite à catarse. Dividido em duas partes, o livro se destaca da atual poesia brasileira ao assumir uma voz verdadeiramente feroz e não temer tratar assuntos cortantes. Nas palavras de Carol Almeida, autora do posfácio: “é chegada a hora de soltar o verbo e o gozo de dizer o que precisa ser dito do jeito que precisa ser dito, ou de como estupro é estupro, trepada é trepada e literatura é sentir na pele o peso das palavras.”

Parvo Orifício, de Catarina Lins

Catarina Lins nasceu em Florianópolis em 1990. é formada em Letras pela PUC-RJ e atualmente cursa mestrado na mesma instituição. “Parvo Orifício” é seu livro de estreia, mas anteriormente já havia publicado a plaqueta “Músculo” na coleção megamini da editora 7letras. com prefácio de Paulo Henriques Britto e ilustrações de Maria Faoro, “Parvo Orifício” foi todo confeccionado manualmente e conta com folhas de papel vegetal em sua composição. Nele, a autora investiga minúcias do cotidiano ou do mundo maior, mesclando a isso insights como “não se dirige portão adentro / no colo dos pais / para sempre”.

O Limite da Navalha, de Italo Diblasi

Este é o primeiro livro de Italo Diblasi, poeta que assume um tom confessional em suas críticas à sociedade contemporânea e faz uso de uma certa primeira pessoa na maior parte dos poemas. “Certa primeira pessoa” porque o ‘eu’ do livro é um ‘eu’ expandido, meio híbrido, é um eu-todo-mundo, um eu-de-hoje, como em Piva, como em Pasolini. Em O limite da navalha, cada capa é única e reflete nos cacos o rosto do leitor [numa tentativa de questionar os papéis que a tríplice autor-livro-leitor estabelece tradicionalmente para suas partes]. “É uma voz que se equilibra no fio da navalha entre o niilismo e a busca de alguma esperança. É uma voz que traz em si um imenso desejo de radical transformação das coisas. Italo é uma demonstração da vitalidade e da potência da poesia contemporânea” diz Sérgio Cohn, da Azougue Editorial.

Caderno de Segunda Mãe, de Guilherme Conde

Lançado em 2015, “Caderno de segunda Mãe”, de Guilherme Conde, é um livro-objeto composto por um pendrive em uma garrafa. Em seu conteúdo, 3 pastas: um pdf de poesias, um álbum e 3 vídeos — tudo desenvolvido pelo artista. O livro-arquivo do poeta remete ao vazio e à vastidão do oceano, hoje cibernético, e a desesperançosa mensagem boiando. A mensagem na garrafa. O pen drive na garrafa. A pirataria — poética, virtual — calculada. O conceito é a rede de informações. Há um segredo contido em algo muito pequeno; alguma poesia pós-internética que quer comunicar através de suas referências.

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na bicicleta, no carrinho de rolimã, nas ideias, uma revista digital, um selo de poesia, uma editora, um coletivo levando desconhecidos a pegar carona