Guerra dos Mundos
Ela, Edmundo.
Ele, Ronaldo na Terra e Deus no céu.
Ela, Palmeirense tão verde que tatuou o brasão na coxa.
Ele, Corinthiano sangue roxo.
Ela, jardinagem e maconha.
Ele, concreto e videogame.
Ela, bailinho funk com as amigas.
Ele, roda de samba com os parças.
Ela, natação e vôlei. Torce pros outros, mas pratica só esses mesmo.
Ele, futebol. Óbvio.
Ela, lanche vegano gourmet. Tem coisa mais saudável?
Ele, podrão. Tem coisa melhor?
Ela, “Asas do Desejo”, de Wim Wenders.
Ele, diz que é “Cidade de Deus” pra impressionar ela, mas é “Tropa de Elite”.
Ela, “The Sims”.
Ele, “Call of Duty”.
E ainda brigam para usar o computador.
Ela, R$6500,00. Arquiteta.
Ele, R$1300. Auxiliar de escritório. Mas sonha em ser policial. Ou engenheiro civil (já que sonhar é de graça).
Ela, vem de família.
Ele, não conhece a dele.
Ambos se encontraram numa noite no metrô.
Ela, porque o carro tinha quebrado e precisava chegar no cliente de qualquer jeito. Ele, bem, porque carro é coisa de rico.
E desde aquele dia, de mundos completamente diferentes — antagônicos até — eles passaram a se conhecer melhor.
Lutam até na cama. É uma mistura de beijos, tapas, lambidas e mordidas. Gritos e gemidos.
Mas a maior batalha não é contra si. É contra a sociedade que não entende como podem se amar. E naquele dia chuvoso, ela com as mãos sobre o caixão dele, sabe que ele perdeu a batalha.
Mas a guerra só está começando.
