O marido perfeito

Por que você não faz nada direito?

Em todos os momentos, era sempre a voz dele que ouvia na cabeça. Não estragar tudo era sua prioridade diária. Até ao pendurar uma roupa no varal se perguntava de quantas maneiras estaria errando. Então, aconteceu. Após acompanhar o parto de sua triceratops favorita, viu o animal se levantar pesadamente, soltar um longo suspiro e se afastar sem sequer olhar o filhote. Sofia entendeu. Era o quinto filho que tiravam da fêmea: ela não queria mais olhar para bebês que não teria a oportunidade de amar.

- Eu vou cuidar dele, Moana. Eu prometo — Era mentira. Todos sabiam, inclusive a dinossauro, que nem se preocupou em corresponder ao afago de Sofia.

As duas eram escravas do mesmo homem. Que frases ecoariam na cabeça de Moana? Fazer tudo direito tinha adiantado exatamente de que para o animal?

Agora, lá estava Sofia na porta do complexo. Um conjuntinho de moletom rosé, cabelos muito bem arrumados, um prato de bolo nas mãos. “Dá trabalho não parecer louca”, pensou enquanto via seu reflexo na porta de vidro.

- Dona Sofia! O Dr. Tomas está na parada! Tá todo mundo! Esse ano tem até estegossauro!

- Eu não posso com aglomeração. Queria deixar uma surpresinha aqui para ele.

Ouviu o barulho da trava se abrindo. Diante da guarita, tirou uma garrafa térmica da bolsa.

- Esse aqui é seu, Félix! Chocolate quente, bem cremoso!

Deus abençoe, Dona Sofia!

“Tomara que eu tenha calculado bem esse sonífero. Eu ia detestar matar esse rapaz. Bom, vai começar o show”, disse para si mesma, respirando fundo. Eles eram tão poucos, os humanos. Talvez não sobrevivessem à competição com dinossauros livres. “Quem mandou desextinguir animais tão fortes? Parece que eu não sou a única fazendo besteira o tempo todo. Não é, dr.Tomas?”, ela falava para o enorme poster com a cara do marido na parede da central de controle.

Primeiro, ativou a abertura dos recintos e do portão de carga e descarga. Nenhum animal tentou escapar. Estavam totalmente sujeitos ao dispositivo de controle neural. Nem os velociraptores expressavam seu comportamento natural. Mas tudo ia mudar. Desativou o sinal enviado para os animais que estavam na parada. Pelos monitores do laboratório, viu os dinossauros se sacudindo, atirando fora arreios, enfeites e humanos. Os condutores no chão, o público sendo pisoteado! Sentia até mesmo o barulho de pescoços sendo quebrados. Libertou as mentes dos dinos do complexo. Notou que não seguiram para a floresta. Foram em direção à cidade. Teriam sua vingança. O sangue escorria pelo pavilhão. Há muito tempo já não havia equipe para garantir a segurança humana em relação aos animais. Mal podia esperar pela volta do marido para o complexo — certamente ele escapara e já estava a caminho. Tinha sua fala pronta:

- Tomas, querido, quero te contar detalhes de como fiz tudo certo hoje.