Viagens

Rodoviária

O lugar mais triste que já vi. Viajar é uma delícia; as rodoviárias, não.

Eros Junior
Coletivo Metanoia

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Posso te contar uma coisa que amo? Dormir em viagens.

Amo.

Seja como carona no carro ou em ônibus — moto não, né! — sentir a vibração das janelas, a luzes fazendo sim, não, sim, não, sim, não, é uma maravilha pra mim.

Me contaram que quando eu era criança e tinha problemas para dormir era só me colocar dentro de um carro — um fusca branco barulhento — que logo eu já estava de olhos fechados e boca aberta (e se você acha que dorme bonito em carro, mude seus conceitos).

Dormir em viagem é parte da aventura, não é?

Amo tanto dormir em viagem que nunca fiz questão de ter carro — eu dormiria no volante.

Quantas vezes já me peguei pensando: “Vou observar tudo e todos ao meu redor, conhecer paisagens incríveis!” e cinco minutos depois estou dormindo pacificamente, sonhando com os anjos.

Mas se as viagens são incríveis, a rodoviária não é. É o lugar mais triste que já vi. E olha que também já fui na minha cota de funerais.

As rodoviárias, sempre com o ar pesado, ou cheiro de poluição de ônibus ou o peso da tristeza das despedidas e a angústia pelos atrasos, onde as viagens mais longas se concentram. Alguém pode dar a volta ao mundo em um barco, mas não se compara à demora de avisar que chegou depois de uma viagem de ônibus.

Os bancos são desconfortáveis, a comida é cara, o clima é tenso.

As lágrimas ficam mais pesadas

Uma vez, dentro de uma rodoviária, consegui acompanhar de longe uma família que ia viajar. Na verdade, era só o filho mais velho. A mãe fez questão de levar os outros dois irmãos junto para se despedir dele e “dar tchau até o ônibus sumir de vista”, me lembro dela ter dito.

Ele, tentando disfarçar os olhos marejados, respondeu “mas eu só vou ficar dois dias fora, mãe. Não precisa pra tanto”.

Talvez ela já tivesse tido sua parte de gente que partiu e nunca mais voltou.

Dá pra encontrar luz.

Por outro lado, nas rodoviárias é fácil de encontrar resistência. Resistência a esse sentimento de solidão.

No meio dos olhos perdidos em relógios, mão segurando passagens como ouro e suspiros pesados sempre encontra-se luz. Ou em forma de algum sorriso desesperado de alguém perdido, ou na forma de algum vendedor. E claro, as leituras de jornais e livros.

Essas não podem faltar.

Eu, pelo menos, faço questão de sempre comprar um livro na volta de alguma viagem. Para fechar com chave de ouro. La cerise sur le gâteau.

O barulho do motor

Não me lembro de uma única vez que não fiquei ansioso dentro de uma rodoviária. A ansiedade na hora de comprar as passagens, não perder as malas, não perder os horários, para ver se o dinheiro dá para comer, se dá tempo de usar o banheiro antes.

De olhar ao redor e ver amigos e parentes se abraçando, um pouco mais forte que o comum. Talvez só naqueles momentos é que eles percebem que toda viagem tem fim.

Mas não há alívio maior do que subir no ônibus, arrumar as malas, se ajeitar nas poltronas, e sentir a vibração do motor.

Seja para começar ou terminar uma aventura.

O sono sempre vem.

PS: as vezes vem pesado demais e faz a gente perder a descida, mas isso é história para outro momento.

Olá, muito obrigado por ter lido esse texto!

Sou Eros, entusiasta das palavras e apaixonado por histórias. Gosto de escrever contos, crônicas e, principalmente, coisas aleatórias. Dá uma olhada no meu perfil para ver outros textos e clica aqui para trocar estórias comigo no LinkedIn.

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Eros Junior
Coletivo Metanoia

Escrevo coisas aleatórias nos cadernos, nas agendas e as vezes no computador. Dê uma olhada nos meus outros textos, se quiser. Metanoia; Impublicável;