Sozinho?

Eros Junior
Coletivo Metanoia
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2 min readOct 22, 2020
Photo by Aaron Burden on Unsplash

Eu vejo as pessoas mas elas não me veem. É assim que eu acordo, vivo e durmo todos os dias.

Eu falo a língua deles, mas não consigo me comunicar.

Eu sou igual a eles, mas não consigo me misturar.

Andando pelas ruas durante a noite eu consigo ver as cabeças nas janelas. As portas se fechando. Eu consigo ouvir as risadas nas mesas de jantar. Sou capaz até de imaginar os sorrisos e os abraços.

Mas sentir?

Não.

Você também se sente assim?

Também posso ver seus olhos que me desaprovam. É incrível como nas poucas vezes que eles se encontram com os meus as cabeças viram e ainda sim fingem que não existo.

Seja na chuva ou debaixo do sol ardente eu grito aos céus, imploro por um pouco de atenção. Palavras caem no vazio.

Em meus sonhos eu consigo me ver com amigos. Mas sempre eles se quebram, se misturam entre si e viram pesadelos. No último, estava sentado na porta de uma estação de metrô e me via sozinho.

Sozinho não. Solitário. Milhares, talvez milhões. Com certeza mais de vinte mil pessoas, andando, correndo e se esbarrando, todas olhando fixamente para baixo. Falando sem falar. Ouvindo sem ouvir. Respirando sem viver.

Meu maior medo se realizou quando vi que não era sonho. Estava tão acordado quanto estou agora.

Estou realmente acordado?

Como saber se estou vivo se ninguém me responde quando pergunto “o que é isso?” ou “você não vê que estou aqui?”.

Mas da mesma forma que as pessoas fecham as portas para mim, Deus abre outra. Acordado e não-acordado desse sonho-pesadelo-realidade, eu vejo um papel no chão.

É o desenho de uma pequena cruz com um texto.

“Você não está sozinho”.

Quem me dera se eu soubesse ler.

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Eros Junior
Coletivo Metanoia

Escrevo coisas aleatórias nos cadernos, nas agendas e as vezes no computador. Dê uma olhada nos meus outros textos, se quiser. Metanoia; Impublicável;