Fomentando o ódio a quem não tem nada

Não ia conseguir passar sem essas linhas. Você vai tomar um café na padoca e pensa que o balconista vai comentar do novo escândalo milionário do dia, ou do envolvimento do Eike ou Cachoeira de novo e de novo, e se pergunta só pobre mesmo vai preso e leva tiro, e do novo processo do Dirceu ou das manobras intermináveis de Cunha (não estão tentando culpar um homem, estão tentando é mexer em algo que está enraizado na podridão pura, que sacode dezenas de corruptos com ele), e ai o balconista vira pra mim e diz:

— Que porra, você que é estudado viu? vão foder o governo com esse aumento da bolsa família? E lá minha vila tem tanta gente que não precisa recebendo essa porra!

Olhei piedosamente, (mas contendo a raiva, não dele, mas do que a mídia consegue em fomentar o ódio a quem não tem nada) para o copo de café e depois para a cara dele e perguntei:

— Me de um nome da pessoa da sua vila que recebe sem precisar, estou fazendo uma matéria e queria falar com essa pessoa.

Ele foi lavar os copos e olhou de soslaio e disse:

— Eu não conheço não, o pessoal que diz, mas que esse negócio tá errado tá, até o Temer lá estava se explicando sobre o aumento, disse que não vem dele.

Ah! isso não tenho dúvidas amigo, tanto que se você perceber ele disse que o certo era o povo não precisar, mas não deu a resposta do que fazer para o povo não precisar mais, você não acha que tinha que ter mais alternativas, mais formação, estímulo, menos impostos, uma saúde digna pra esse povo?

— Sei lá , o senhor quer outro café?

E olhei pra um tiozinho bem velinho com seu copo de café preto na mão, sua carroça que era uma geladeira lá fora. Pensei nas soluções, em tantas que existem, como por exemplo pagar melhor esse povo, distribuir justamente o tanto que se ganha, nem precisava ser nada de bondade, bastava ser justo, mas ai é pedir demais, temos que lutar por uma bolsa, bolsa bondade, bolsa justiça, bolsa igualdade, mas é mais fácil ficar de olho na merreca do povo que nos milhões dos engravatados.