Performance
“The more you open your mouth / The more you’re forcing performance
/ And all the attention is leading me to feel important (completely
obnoxious).”
é só mais um mês imaginário no interior da tua voz pontiaguda
onde nos friccionamos até que nos rasgues as ideias
porque a tua voz tem o timbre hipnótico do desespero
e pode facilmente atravessar-nos a insegurança
o que é sempre reconfortante.
e quanto mais abres a boca, maiores são as tuas possibilidades de
performance
afinal, a vida pouco mais é do que um breve desafio cinematográfico
e tu estudaste em física que a causalidade é a identificação da origem dos
fenómenos,
e, a partir daí, nada na vida te poderá mais escapar.
aprendeste que o social é um tabuleiro de xadrez onde fazer batota é
automaticamente ganhar.
é só mais um mês nos teus planos
e tudo vai ficar bem.
ainda que por hoje só a tua energia obsessiva em encontrar soluções
para pequenos detalhes irrelevantes seja extenuante o suficiente para
impressionar alguém
mas, no futuro, tudo ficará bem porque os teus objectivos
fulguram deslumbrantes sobre um pedestal de glória
e são tudo o que necessitas para te achares boa pessoa.
Sara F. Costa, “O Sono Extenso”, Âncora, 2012