A HISTÓRIA POR TRÁS DO NIKE AIR FORCE 1 COLIN KAPERNICK

Robson Valichieri
Coletivo Sneakers
Published in
5 min readAug 15, 2022

Texto de Robson Valichieri

Foto: Reprodução/ Netflix

De imediato, poucos torcedores do 49ers (time de futebol americano de São Francisco), notaram que, durante a execução do Hino Nacional americano, havia um único jogador no campo que permanecia sentado no banco de reservas. Isso ocorreu enquanto todos no estádio — jogadores, comissão técnica, torcedores, staff, jornalistas — estavam de pé, em respeito à bandeira americana, que cobria todo o campo de jogo em uma tradição nos jogos da NFL.

Foto: Christian Petersen/ Getty Images

Este único jogador sentado era Colin Kaepernick, o quarterback dos 49ers. Recuperando-se de uma lesão no ombro, ele não jogaria aquela partida; não faria, portanto, nenhuma jogada espetacular, nenhum lançamento inesquecível, mas seu gesto entraria para a história naquele primeiro jogo da pré-temporada da NFL, contra o Houston Texans, em 14 de agosto de 2016.

Na semana seguinte, em Denver, contra os Broncos, Kaepernick repetiu o gesto. Como novamente não jogaria, permaneceu sem uniforme na sideline dos Niners, e o fato passou despercebido mais uma vez.

O terceiro jogo da pré-temporada marcaria o retorno de Kaepernick ao campo de jogo, e foi desta vez que seu protesto ganharia sentido. Questionado após o jogo, ele soltou o verbo:

“Eu não vou me levantar para mostrar orgulho de uma bandeira de um país que oprime negros. Para mim, isso é maior que o próprio futebol americano, e seria egoísta da minha parte desviar o olhar. Há corpos nas ruas e pessoas recebendo licença e se safando de assassinato.”

E no quarto e último jogo da temporada, Kaepernick pela primeira vez faria o gesto que se tornaria simbólico: ajoelhar-se durante o Hino. O protesto gerou enorme repercussão e atenção da mídia e da sociedade americana como um todo, com muita controvérsia e debates acalorados sobre privilégios, patriotismo, violência policial e desigualdade racial.

Foto: Time photo-ilustration. Fotografia de Michael Zagaris/ Getty Images

No mês seguinte, Colin estava na capa da Time Magazine e no olho do furacão — que acabou o afastando dos gramados ao final daquela temporada 2016–2017; situação que persiste até os dias de hoje. O quarterback alegou ter sido boicotado pela NFL, o que seria negado tanto pela NFL quanto por donos de equipes, mas o fato é que, mesmo com o apoio de outros atletas (muitos passaram a se manifestar da mesma forma que Colin), apenas ele teve esse destino.

Longe dos gramados, assumiu sua posição de ativista dos direitos civis.

Foto: Reprodução/Nike

Em setembro de 2018, Colin Kaepernick estrelou uma premiada campanha publicitária da Nike, que celebrou os 30 anos do slogan “Just Do It”. “Acredite em algo, mesmo que signifique sacrificar tudo”, dizia a campanha. Mais controvérsia — muitas pessoas protestaram nas redes sociais, publicando fotos e vídeos queimando seus produtos Nike, enquanto muitas outras passaram a ver um sentido maior em usar Nike. Apesar das reações negativas, a Nike resolveu bancar a aposta e mais que isso: no início de 2019, a Nike lançou uma jersey (uma camisa de jogo) com o nome de Colin e seu número tradicional, o 7. A jersey “True to 7”, esgotou em minutos, e este lançamento abriria caminho para o primeiro tênis de Kaepernick com a Nike.

Nos últimos dias de 2019, num lançamento quickstrike (quantidade limitada de pares distribuídos apenas para sneaker shops selecionadas) o Air Force 1 Colin Kaepernick “True to 7” ganhou o mundo, caprichando nos detalhes e na mensagem.

O cabedal é todo em couro premium preto. O swoosh traz um gradiente entre preto e branco, uma clara ideia de igualdade entre brancos e negros. Na língua, o logo de Colin, um K7 estilizado. Bordado no heel tab, a imagem de seu rosto. Na palmilha, flores negras. E, na sola, o detalhe definitivo, que fecha o círculo iniciado naquele domingo de pré-temporada em 2016: a inscrição 081416, ou seja, 14/08/16, data daquele primeiro protesto.

Fotos do Air Force 1: Robson Valichieri

Ter este tênis é carregar consigo esta história, e sim, carregar consigo um pouco desta luta.

Se você quiser conhecer mais sobre Kaepernick, recomendamos assistir “Colin em Preto e Branco”, em que ele próprio trata sobre questões de raça, classe e cultura enquanto revive momentos de sua infância e adolescência.

A mensagem de Colin, que encontra ecos em movimentos de luta pelos direitos civis do passado e que caminha lado a lado com movimentos atuais como o Black Lives Matter, ainda se faz necessária e fundamental, no esporte e na sociedade como um todo, tanto nos Estados Unidos como em outros lugares do mundo, como o Brasil.

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