Adidas 4D — Conheça a tecnologia por trás do modelo

João Pedro Lucena
Coletivo Sneakers
Published in
5 min readSep 2, 2022

A tecnologia e o “universo” dos calçados sempre andaram de mãos dadas, ou melhor, sempre tiveram fortes laços. Falando em laços, os sistemas de amarração são, por exemplo, uma das inúmeras aplicações tecnológicas nos tênis como o Nike Adapt, sistema de ajuste eletrônico desenvolvido pela Nike e aplicado no icônico Nike Air Mag. Caminhando pela estrutura dos tênis, a tecnologia também desenvolveu (e seguirá desenvolvendo) papel importantíssimo não só na confecção de cabedais como no Nike Flyknit, mas também em como fazê-los de maneira mais amigável ao meio ambiente como visto nas colaborações da Adidas com a Parley desde de 2015. Por fim, mas não menos importantes, as entressolas necessitam de um grande empenho em seu desenvolvimento e execução. Temos certeza que você, leitor, tem vários exemplos em mente, ou em caixas, como a clássica Nike Air ou, de tempos mais modernos, o Boost utilizado pela Adidas. No entanto, é de uma tecnologia mais recente ainda que falaremos hoje, o Adidas 4D!

O assunto impressão 3D está cada vez mais presente diversos contextos, mas muitos não fazem ideia de como funciona a técnica e que ela não é tão recente como imaginam. A primeira impressora 3D foi construída na California em meados da década de 80 e devido a sua importância e potencial, a tecnologia foi desenvolvida até as pequenas máquinas que podem ser compradas em diversas lojas e marketplaces ao redor do mundo por preços relativamente razoáveis, assim como as impressoras tradicionais. Da forma mais simples, a impressora 3D utiliza um filamento de algum polímero e constrói o objeto desejado a partir do aquecimento desse material. Foi utilizando uma técnica similar a essa, chamada de “selective laser sintering”, que a Adidas fez pela primeira vez uma entressola utilizando impressão 3D em 2015, originando o Adidas 3D Runner lançado em 2016 e limitado a aproximadamente 300 pares no mundo. Um fato inusitado foi revelado por Marco Kormann, diretor de tecnologia e inovação da Adidas, em entrevista a Complex publicada no início de 2020 em que ele declara que a Adidas perdeu dinheiro em todos os 300 pares vendidos desse modelo. O link da matéria na íntegra se encontra ao final do texto.

Figura 1 — Adidas 3D Runner Triple Black

Mas e se alguém te dissesse que é possível fazer uma entressola a partir de uma resina líquida, luz e oxigênio? Acharia estranho ou improvável? Bem, para equipe da Adidas e da Carbon, empresa de tecnologia de impressão 3D, isso não só foi possível como hoje em dia está presente em praticamente todas as lojas da Adidas ao redor do mundo na entressola 4D. Eles utilizaram um método chamado “digital light synthesis” que se baseia na projeção de feixes de luz em uma resina líquida através de uma membrana que o oxigênio permeia. Quando a luz e o oxigênio interagem com essa resina, ela se solidifica no formato desejado. Essa técnica é muito mais complexa que as utilizadas nas impressoras 3D domésticas, então infelizmente não nos aprofundaremos tanto na engenharia e química do processo, mas se você ficou curioso para saber um pouco mais, ninguém melhor que a própria Carbon para te explicar, então separamos um vídeo da explicação do processo e é só clicar no link no final desse texto para assistir.

Figura 2 — Produção da entressola 4D

Deixando a parte mais técnica de lado, a parceria entre Adidas e Carbon surgiu como um aprimoramento do modelo 3D Runner. Nomeada 4D, os primeiros rumores e imagens começaram a surgir em 2017 e a meta inicial era a produção de cem mil pares até o final de 2018. Incialmente, 300 pares do modelo Futurecraft 4D foram disponibilizados em 2017 no esquema “Friends and Family” e no ano seguinte, início de 2018, os primeiros 5 mil pares foram oficialmente lançados para o público geral.

Figura 3 — Adidas Futurecraft 4D Ash Green

Ainda em 2018, Daniel Arsham, famoso artista dos Estados Unidos, trabalhou com a tecnologia num Futurecraft, e o par que vem dentro de uma caixa lacrada é objeto de desejo até hoje. No Brasil, tivemos em 2019 um modelo super exclusivo de Futurecraft 4D da linha Consortium, o Adidas Futurecraft 4D Onyx, com lançamento por sorteio apenas na Guadalupe Store por R$1499,99.

Em termos de lifestyle, a tecnologia foi bem aceita, e diversos calçados da marca usam o 4D. A silhueta clássica do Ultraboost foi aplicada a entressola, criando o Ultra 4D e até a família Y-3 da marca, com designs mais arrojados e comandadas pelo famigerado Yohji Yamamoto pegou emprestada a tecnologia para seus 4D Runner. No entanto, a linha casual parece ser o primeiro passo para o que a Adidas quer com o 4D.

Figura 4 — Adidas Consortium Futurecraft 4D Onyx

Ele foi alvo de diversas comparações com o Boost, considerado por muitos o ápice do conforto em entressola. Porém a tecnologia foi tomando outros rumos, tendo como um dos principais objetivos passar para ao usuário uma impressão de caminhada (ou corrida) natural, com as treliças acompanhando o movimento da pisada.

Com isso, a família 4D se expandiu e recebeu membros mais “esportivos”, como o 4DFWD e o 4DFWD Pulse (que possui EVA além das treliças). Segundo os criadores, a “fluidez” proporcionada pelo novo jogo de treliças do 4DFWD não poderia ser atingida com o Boost ou com o Lightstrike (usado em tênis de alta performance). A geometria deste novo jogo é formada a partir da análise minuciosa de uma base de dados da pisada de milhares de pessoas e corredores profissionais. Inicialmente, eram 5 milhões de possibilidades, que foram restritas a 25 protótipos. Esses foram novamente testados por pessoas e por dispositivos de pressão, até chegar na versão final e atual, apelidada de “Bow Tie” (ou gravata borboleta). Conhecida pela pegada sustentável em seus lançamentos, a Adidas informou que 39% da composição do tênis é feita em base biológica, sendo chegar a 100% um objetivo já declarado.

Figura 5 — O Adidas 4FDWD

Ao calçar o tênis, é possível dizer que o objetivo inicial foi atingido com sucesso. Mais confortável que os 4D anteriores, o 4DFWD e o 4DFWD Pulse são boas opções inclusive para o dia a dia. Para aqueles que buscam velocidade e bater recordes pessoais, a tecnologia ainda não é a indicada, inclusive pela própria marca, que segue investindo na plataforma Lightstrike e placa de carbono em seus modelos de competição. No entanto, estamos apenas observando o início do desenvolvimento do 4D, e quem sabe, o futuro da velocidade não seja impresso.

Born From Liquid: A Closer Look at adidas’ Groundbreaking 4D Technology

https://www.complex.com/sneakers/2020/01/adidas-4d-deep-dive

Carbon Digital Light Synthesis™ Technology

https://www.youtube.com/watch?v=23at9QglAm8

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