Tênis e Tribos
Qual é a sua tribo no mundo dos tênis?
Nós humanos temos uma necessidade básica de pertencimento. Ao longo da nossa evolução como espécie, ser aceito pelo grupo poderia ser a diferença entre sobreviver ou ser deixado para trás e morrer sozinho.
A formação de comunidades é, ao mesmo tempo, uma causa e uma consequência para que nós possamos expressar a nossa identidade e valores, e assim estabelecer uma relação de afinidade, através da comunicação e de símbolos.
Uma comunidade que se identifica a partir de um gosto em comum, em torno de objeto de consumo, pode ser apenas um grupo de pessoas que gostam de tênis — os chamados sneakerheads.
Dentro de uma mesma comunidade sneaker, existem grupos menores com afinidades ainda mais profundas do que o simples gosto por tênis. No texto, vamos chamar essas comunidades menores de tribos: as tribos do mundo dos tênis.
As comunidades mais evidentes, dentro desse mundo talvez sejam as relacionadas ao gosto por (a) uma marca, como Nike, Adidas, Asics, NB e etc; (b) um esporte específico como o skate, basquete, corrida, futebol ou tênis (o esporte do Guga, no caso); ou à (c) um estilo musical como o hip hop, trap, eletrônico, rock, samba ou pagode (do Alexandre Pires, Péricles, Salgadinho e etc).
Não tenho a menor intenção de criar estereótipos sociais em torno dos tênis, mas observe a cena e imediatamente você vai perceber que os agrupamentos são naturais e podem gerar um comportamento de grupo (e de consumo) que naturalmente irá guiar as escolhas seguintes de cada um dos indivíduos dessas tribos de tênis.
- Os “faria-limers” usam sapatênis e agora estão se interessando por mais alguns tênis de luxo ou hypados.
- Os “funkeiros” tem uma paixão por Mizuno.
- Jogadores de basquete da NBA, além de usarem tênis de performance incríveis, também fazem um desfile de moda antes de entrar em quadra — sempre com um belo par de sneakers nos pés.
- Os chamados “Enzos” são, em geral, os jovens do ensino médio que abusam de Jordans e Dunks (originais ou não) para aumentar a sua credibilidade durante essa fase da vida.
É importante saber que a afinidade por tênis pode ser tanto uma forma de aprofundar as suas relações para outras questões e valores, ou ela pode ser um hábito de consumo isolado, e está tudo bem.
Em todas as tribos, cada indivíduo tem o seu papel em fortalecer uns aos outros e, de forma evolucionária, sobreviver por mais tempo.
Em qualquer tribo, você pode encontrar indivíduos operando com motivações distintas, mesmo que não declaradas — dessa forma as tribos assumem um “modo de ser”, e seus indivíduos passam a ser guiados por motivações e valores similares.
Ainda que todos nós tenhamos várias tribos (com afinidade por tênis ou outros), podemos observar uma escala, que vai do nível 1 ao 5. E, novamente, isso continua não sendo sobre estereótipos ou segmentação social.
Quando a maioria das pessoas que pertence a uma tribo está com a motivação em determinado nível, teremos como resultado um tipo diferente de grupo:
Uma tribo, segundo o trabalho de Dave Logan, é um grupo de 10 a 150 pessoas.
- Nível 1: “A vida não presta.” — Tribos Hostis
- Nível 2: “A minha vida não presta” — Tribos Desmotivadas
- Nível 3: “Eu sou bom” — Tribos Auto-Centradas
- Nível 4: “Nós somos bons” — Tribos Colaborativas
- Nível 5: “A vida é boa” — Tribos Desbravadoras
Você pode encontrar tribos com afinidades semelhantes e cada uma delas estar operando em um nível diferente, pois seus participantes estão com motivações individuais. Observe os comportamentos, comentários e reações. É sobre escolher ser humano e participar de uma tribo. É sobre ser hostil, desmotivado, autocentrado, colaborativo ou desbravador.
A necessidade básica de pertencimento e sensação de comunidade que sentimos, são mais importantes do que o tipo de tribo que você faz parte. A intensidade que você vive essa comunidade pode variar, mas em níveis mais altos, todas as pessoas dentro e fora da sua tribo podem reproduzir uma vida e um mundo melhores.
No mundo dos tênis, da música ou dos esportes, olhe ao redor, entenda e reconheça — não importa se você gosta de Jordans ou Yeezys, Hip Hop ou Pagode, Skate ou Basquete. É o seu olhar para o mundo, a sua necessidade de viver em comunidade e pertencer que vai definir, no final das contas, qual é a sua tribo.