Como construímos uma comunidade de confiança | AoH

12 Passos sobre como construímos uma comunidade de confiança de mais de 40 pessoas em 4 dias no curso "A Arte de Anfitriar".

Coletivo Trama
Coletivo Trama
6 min readFeb 20, 2017

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Dinâmica "Café Pro-Ação" sendo facilitada por alguns participantes.

Por ser trameira e vivenciar todos os dias aprendizados e desafios novos de como cuidar de comunidades e articular redes, me interessei pelo curso Art Of Hosting / A Arte de Anfitriar. O que eu sabia é que, no curso, aprenderíamos de forma aprofundada sobre comunidades, nos seguintes aspectos: como elas nascem, se formam e como podemos ter um papel mais atuante no cuidado de comunidades. Entenderia também melhor o universo da facilitação (conhecimento que, uma parte de nós do Trama, estamos estudando há mais de um ano).

No curso, achava que estaria totalmente dentro da minha zona de conforto, que saberia como tudo seria mas, na verdade, aprendi coisas poderosas durante esse processo. Nesse relato contarei algumas delas para vocês.

Nada aprendido no curso foi de forma direta, escrito como um tutorial que, ao ler, você saberá anfitriar comunidades. Em vez disso aprendemos durante o curso, anfitriando à nós mesmos e criando a nossa própria comunidade naquele ambiente.

Para construir uma comunidade de confiança de mais de 40 pessoas em 4 dias, percebi que foi preciso tomar algumas medidas e levar atenção para alguns pontos, para criarmos todo um “campo” e ambiente propício para o nascimento e cuidado dessa nova comunidade. Foram esses alguns dos passos e medidas que precisamos:

1. PROPÓSITO

Por que estávamos todos ali? Qual era nosso propósito em comum?
O propósito foi o que sustentou a comunidade em todos os momentos, inclusive em momentos em que alguém não se sentia anfitriado, nós questionávamos esse propósito. Ele era claro e coletivo, feito para sustentar cada pessoa presente naquela comunidade, se ela compartilhar do mesmo. Era o ponto de partida, o centro e o encontro entre todos presentes ali.

2. ACORDOS

Comunidades são feitas de pessoas, e pessoas têm necessidades diferentes uma das outras. Por isso, uma das primeiras medidas que tomamos no curso foi sentar e ver quais acordos aquela comunidade que estava nascendo precisaria para ser bem cuidada. Diversos surgiram, e eles foram pendurados na parede para sempre lembrarmos quando fosse necessário.

Acordos feitos no curso AoH.

3. TIME ANFITRIÃO

“Time Anfitrião” foi o nome dado ao grupo que gerou o chamado inicial daquela comunidade, os primeiros anfitriões dela. Esse time se reuniu com um propósito em comum e gerou, então, um chamado, resultando na união dos interessados no Art of Hosting.

O Time também era quem sustentava, inicialmente, o “campo” criado para cuidarmos da nossa comunidade, e, durante o curso, ele foi se tornando mais ausente para que novas lideranças emergissem, chamadas lideranças participativas.

4. PARTICIPANTES

Como foi mencionado antes, participantes foram todos os que se identificaram com o propósito, incluindo a mim. Eram os componentes daquela comunidade presente. Eventualmente exerciam o papel da liderança participativa, anteriormente citada.

5. ESPAÇO FÍSICO

Um lugar físico foi preciso para o nosso encontro. Ficamos, então, imersos durante 4 dias em uma pousada/sítio com chalés, espaços para as práticas e bastante natureza.

6. GUARDIÕES

Para anfitriar bem uma comunidade, durante nossa imersão, era preciso cuidar de alguns pontos específicos, como: tempo, colheita, limpeza/ambiente e coração. Por isso, abriram-se espaços para os participantes se escreverem, ocupando esses papéis necessários.
Um exemplo: Os guardiões da colheita estavam durante todo o processo coletando as informações e o fluxo, que ia sendo construído e vivido. E, no final de nossa imersão, eles nos apresentaram toda essa colheita na formato de um Teatro encenado com facilitações gráficas, o “Jornal Anfitrional”.

"Jornal Anfitrional": apresentação final dos Guardiões da Colheita.

7. CHECK IN & CHECK OUT

Abríamos e fechávamos todos os dias com um check in e check out. Alguma atividade que trouxesse a presença das pessoas para aquele dia que começaria, alinhando, por exemplo, expectativas em relação a nossa imersão, ou como cada um ali estava se sentindo naquele momento. Fechávamos o dia com um momento de descontração ou uma roda, onde cada um trazia o que estava sentindo e como estava terminando o dia depois de tudo que vivenciamos.

Esses momentos eram ótimos para entender e ter empatia com o que todos ali estavam vivendo desse processo.

8. O CAMPO

Explicar o que é “campo” verbalmente, é como tentar explicar para alguém o que é tomar um banho de cachoeira, e a diferença de saber o que é isso para de fato tomar um banho de cachoeira. Ele é melhor entendido quando vivenciado.

O campo é um espaço não percebido pelo olhar humano, que permeia pessoas e comunidades conectadas, por isso podemos explicar como uma pessoa tem influência sobre a outra mesmo estas estando longe fisicamente. É o que conecta e contém informações e energias daquela comunidade.

9. APOSTILA

Assim que chegamos no Art Of Hosting ganhamos uma apostila, que vem sendo atualizada e distribuída a cada nova edição desse programa em todo o mundo. Na apostila podemos ler e estudar sobre o propósito desses encontros, o que é campo, facilitação, novos formatos de líderes e também ferramentas usadas para anfitriar conversas significativas entre pessoas.

10. FERRAMENTAS

Por estarmos falando de anfitriar e facilitar, ferramentas para praticarmos foram expostas pelo Hosting Time (e também estavam na apostila) para os participantes conhecerem e treinarem como aplicar elas. Assim, diversos participantes as facilitaram na nossa comunidade durante o curso.

Todos os dias lá aprendíamos e vivenciávamos novas ferramentas poderosas para anfitriar comunidade, criar campos propícios para a co-criação de novas ideias criativas e para ter conversas com boas perguntas.

11. FLUXO

Fluxo, programação ou a falta deles foi um ponto importante do nosso processo. O Hosting Time não foi criado com o propósito de termos uma programação fixa, final e engessada. Pelo contrário, a programação era definida todos os dias no final de todas as atividades, antes de irmos dormir, em um formato de aquário (ferramenta que aprendemos no curso).

Primeiro eles conversavam entre si, enquanto nós ouvíamos ao redor a conversa, e depois o aquário era aberto para darmos opiniões e contribuições para o fluxo. A falta de programação foi um susto para alguns e uma maravilha para outros, mas no fim permitiu que pudéssemos co-criar aquela experiência juntos.

12. OVELHAS DOURADAS

Esse foi o nome que demos para quando não nos sentimos anfitriados ou como um peixinho fora d’água de um grupo. Tivemos diversos diálogos e conversas de escuta profunda para prestarmos atenção, nos aproximarmos e tentarmos acolher quem não estava se sentindo parte daquele momento.

Momento de emoção após a dinâmica do "Fórum".

Compartilhando esses 12 pontos, pode parecer que foi simples e sem desafios construir uma nova comunidade de confiança, com mais de 40 pessoas em uma imersão de 4 dias. Ledo engano! Foram diversos desafios e, por mais que você saiba muito bem como anfitriar comunidades, sempre irão existir “ovelhas douradas” (isso se não forem nós mesmas). Essa é a graça de continuar sempre praticando e re-aprendendo.

Foi a presença de desafios que nos fez enriquecer a experiência. Saímos de lá conectados e nos sentindo uma comunidades, quando antes não nos conhecíamos e não éramos próximos. Tivemos diversos insights coletivos que trouxeram clareza para o processo, e eles nos conectaram ainda mais. Nos abrimos e abraçamos a dor e dificuldade do outro.

E o mais importante: aprendemos que cada um tem seu papel em uma rede, e que anfitriar comunidades é um poderoso conhecimento nos dias de hoje. Juntos somos mais.

Se quiser ir logo, vá sozinho. Se quiser ir longe, vamos juntos.

"Ocupe com Amor", foto de nossa imersão.

Texto escrito por Karmel Arruda. Trameira e participante do AoH.

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Coletivo Trama
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O Trama é uma rede criativa, que busca criar conexões entre pessoas transformadoras, facilitando ações colaborativas na cidade.