Charlisvan

mais um Silva que a estrela não brilha

André Paris
Coletivo Voz

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Nesta segunda feira, 18 de maio, um estudante de 17 anos foi espancado, junto com 5 amigos, e executado com um tiro no peito por 4 homens que se identificaram como militares do Exército.

Não obstante o caráter já funesto, inerente às execuções, as peculiaridades do caso contribuem para a maximização de sua característica lúgubre: a motivação para o extermínio do jovem se originou no fato de o mesmo, em companhia de seus amigos, ter saltado a roleta se escusando de pagar os R$ 2,45 referentes a passagem do coletivo, bem como por estar escutando o ritmo funk no modo viva voz de seu aparelho celular.

O ocorrido mostra o quanto a capacidade de tolerância com relação à existência do Outro está num patamar mínimo, quase ausente, em nossa sociedade. O ódio, hoje, se encontra tão banalizado que até se odeia o próprio ódio, vide os clamores da esquerda punitiva.

É importante destacar, contudo, que o ódio, como chama Lebrun, ou a pulsão de morte, como prefere Freud, é característica constitutiva de nossa humanidade, bem como que tal reconhecimento não importa em um salvo conduto para injunção ao gozo desse ódio, este ilustrado pela ação dos “justiceiros” acima descrita. Afinal, como bem aponta Lebrun (2008, p. 28):

“Não é, portanto, o ódio como tal que deve ser proibido, dado que, de qualquer maneira, é impossível erradicá-lo, mas o que é necessário renunciar é o gozar de seu ódio. É manter-se no gozo do ódio que é proibido.”

Se abdicarmos do exercício da tolerância, como o fizeram os executores de Charlisvan, teremos para nós direcionadas as interrogações de Empédocles em As Purificações, citada por Girard (2008, p. 60): “136 — Não ireis parar com essa matança de sinistros ecos? Não vedes que vós vos devorais uns aos outros na indiferença de vosso coração?”.

Sugestões de Leitura

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

GIRARD, René. A Violência e o Sagrado. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

LEBRUN, Jean-Pierre. O Futuro do Ódio. Porto Alegre: CMC, 2008.

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