De todas as faltas

Júlia Barros
Qu4tro
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2 min readMay 8, 2020

Atenção: Ao final desse texto, sintomas de saudade.

Pode parecer estranho, mas é difícil falar. Parece aquelas ondas que nos pegam de surpresa no mar, e quase nos levam por inteiro. Vem do nada, com tudo. A onda que é saudade. Aquela, que veio sem aviso prévio e o mínimo de preparação. Procurando fotos antigas, ela chegou. Encontrei lembranças melhores do que o tbt da rede social ao lado. Deu saudade de nem imaginar que um dia o mundo ficaria sem abraços. Dia desses, ouvi que o Peter Pan não queria crescer. Certo é ele. Virar a página dá um trabalho… Mais trabalho ainda quando a página te dá um spoiler dos próximos meses.

Afastar. Isolar. Conectar. Se informar. No meio desse vendaval que nos levou pra cantos diferentes, o amor. A vontade de estar perto, de rir com os amigos, de abraçar a família. De dançar, beijar, sair, ir ao cinema, assistir aula. Perto ou longe, com distância de minutos, horas ou dias. Parece que a ligação virou nosso fio de esperança. Quem diria que videochamada seria responsável pelo quentinho no coração, e a ida ao mercado, o passeio mais desejado do mundo. Virou evento. Assim como assistir live. O calendário não dá conta de tanto horário marcado. Sofrência, só as antigas, funk, e em poucos minutos, a festa é na sala de casa.

Há quem diga que tudo isso aconteceu pra nos provar a importância da viver. E de vivê-la. Sabe que é verdade? Quando tudo isso passar, vamos encontrar uma temporada diferente dessa coisa que chamamos de vida. Até porque, o mundo já está diferente. Até as pessoas mais frias tem saudade do abraço. Do toque, do aperto de mão.

Foi preciso perder muitos para entender que somos mais. Pra entender que voto faz diferença sim, e que no final, a empatia é o que prevalece. Ou pelo menos, precisaria prevalecer. Até nos tweets mundiais ela é citada. Porque amar o próximo é, mesmo não entendendo, respeitar. É mesmo não concordando, tentar se colocar no lugar do outro pra ver de outra perspectiva.

2020: o ano das metades. O frio chegou e eu nem senti a brisa gelada no rosto. O verão foi embora sem nem me dar tchau. Sinto falta do bate e volta pra Porto Alegre e das loucuras da faculdade. Sinto falta dos almoços regados a batata frita e risadas. Sinto falta das festas de toda sexta-feira. E da vontade de ver gente todo final de semana. Sinto falta do arrepio cantando Anunciação, como a bruma leve das paixões que vem de dentro. Até porque, já escutamos os sinais. E estamos quase de volta pra brincar no quintal. Mas ainda falta. E a falta que faz falta, nos leva a fazer falta. Ah, que falta faz!

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Júlia Barros
Qu4tro
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