Trio de Ouro

Sou medrosa por natureza. Quando eu era mais nova, caminhar até a cozinha no escuro, à noite, era o maior pesadelo que eu poderia enfrentar. Subir em árvores, então, foi uma experiência que a minha infância nunca sentiu. Por que? O medo de altura era tudo que eu conseguia pensar quando via meus amigos subindo na pobre plantinha. A realidade é que tudo que não podemos controlar é assustador.

São anos e anos pensando mil possibilidades antes de agir. Antes de realmente fazer alguma coisa. Não sei o que acontece, mas mil teorias da conspiração passam pela minha cabeça que me fazem desistir. Tem uma vozinha na minha cabeça que me convence a nem tentar. Novos desafios, novos trabalhos. Novos amigos e novos amores.

Essa voz, na verdade, tem nome e me acompanha há tempos. Ela se camufla nos meus medos de verdade, como o de altura, e se fantasia de frio na barriga para me impedir de tentar. A ansiedade, que às vezes confundimos com medo, é a maior inimiga dos meus sonhos. É ela quem puxa meu tapete e cria todas as paranoias que eu crio. Claro, ela se aproveita da criatividade e alia a insegurança. Dupla perfeita para a amiga autossabotagem entrar em cena.

Com esse trio, eu já desisti de tentar e viver novas histórias. De acreditar que poderia dar certo, de continuar. Até desacreditar de si mesma. A realidade é que elas sempre vão estar ai para atrapalhar os meus sonhos. Cabe a mim reconhecer esses momentos e não tornar isso um vício. Cabe a mim tomar uma atitude e fazer diferente. Não por ninguém, mas pelos sonhos, pelos objetivos. Até pela água na cozinha, que eu tenho que atravessar no escuro. Dos grandes objetivos, até às mais altas árvores que estão por aí, só esperando para serem escaladas.