Comunicação Não-Violenta na reta final das eleições

Andressa Luz
Coletivo Yama
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3 min readOct 23, 2018

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Faltam apenas alguns dias para sabermos o resultado do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil — e de alguns estados também para governador. Podemos dizer que 2018 já está marcado por muitos ataques entre os candidatos, inclusive com fake news, e entre os próprios eleitores.

Discursos carregados de ódio, intolerância e, até mesmo, homofobia e racismo. Nos deparamos o tempo todo com esse tipo de manifestação de linguagem, na TV, nas redes sociais e inclusive nas nossas conversas do dia a dia. Haverá algum resultado positivo diante de tudo isso? Nem tudo está perdido. Alguns preceitos da comunicação não-violenta podem nos ajudar a estabelecer uma real conexão com o outro, mesmo que ele tenha uma opinião política totalmente contrária à nossa.

A essa altura, as discussões tendem a se tornar ainda mais impacientes. Muito já foi apresentado, debatido, discutido. Por mais difícil que seja, por que não nos esforçamos para evitar a hostilidade e promover uma comunicação mais autêntica e não violenta? Separamos algumas dicas baseadas nos ensinamentos de Comunicação Não-Violenta, de Marshall Rosenberg.

1- Respeito e empatia, acima de tudo
Por trás de um voto na legenda de um partido ou em um candidato em quem se acredita, está um eleitor. Uma pessoa que tem necessidades e merece ser tratada de forma respeitosa e empática, por isso evite piadas, ironias e xingamentos.

Diálogos são saudáveis e dificilmente haverá um consenso na escolha. Mas, não é hora de perder uma amizade ou um laço familiar que você preza. Seja qual for o resultado, será preciso união.

2- Ouvir, ouvir, ouvir
Essas necessidades se transformam em opinião e muitas vezes estão tão latentes que não se separam da convicção política. Seja qual for o candidato escolhido, há motivos que devem ser respeitados. Debater sobre crenças é algo sensível e pode gerar conflitos. Às vezes, é melhor só ouvir.

Ouça, não confronte. Antes de concordar ou discordar das opiniões de alguém, tente sintonizar aquilo que a pessoa que está sentindo ou precisando. Lembre-se que você também quer ser ouvido, não é mesmo?

3- Busque coisas em comum
Apesar das diferenças ideológicas, todos nós queremos que o país melhore em questões como saúde, segurança, educação etc. No diálogo, tente encontrar argumentos que evidenciem esses pontos em comum. É possível fazer observações e apresentar seu ponto de vista, fundamentar, mas sem discutir, sem fazer isso somente para buscar um conflito, mas porque você considera relevante. Quais são suas necessidades? Quando fazemos observações e contamos como nos sentimos, do que precisamos, a probabilidade de conseguirmos uma melhor conexão pode ser maior.

4- Faça-se entender
Muitas vezes o que você diz não é exatamente o que quis dizer, os conflitos nascem justamente da incapacidade de se fazer entender. Isso não quer dizer que o outro seja capaz de te entender, talvez você não esteja se expressando de forma clara o suficiente.

Por isso, preste atenção em como sua mensagem está sendo passada. Na dúvida, pergunta, explique. Não deixe lapsos. Checar o entendimento sobre o que o outro disse e checar também se ele entendeu o que você falou é algo importante. Num diálogo precisamos checar o entendimento todo o tempo.

Além disso, estruturar o que você vai dizer também contribui. Não tenha medo de expor sua vulnerabilidade, suas necessidades, de forma clara.

5- Reflita sobre suas relações
Essa é uma hora propícia para avaliar a saúde de suas conexões, a forma como você está se relacionando com o outro. Passe algum tempo a cada dia refletindo calmamente sobre como você gostaria de se relacionar consigo mesmo e com os outros.

É hora de refletir sobre o que será dito, de ter cautela com a exposição desmedida das opiniões. Não é para deixar de ser autêntico, mas também lembrar que, inconsciente ou conscientemente, você pode gerar conflitos que podem trazer consequências das quais você pode se arrepender.

É o Yin Yang, ou seja, as energias opostas existirão, mas elas também são responsáveis pelo equilíbrio, em tudo há dualidade e não é diferente com opiniões. Por mais que a forma de pensar de uma pessoa que você ama seja contrária à sua, você tem certeza que quer desfazer os laços que os unem?

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Andressa Luz
Coletivo Yama

Jornalista e ux writer, acredito na comunicação, principalmente na linguagem escrita, como forma de liberdade e conexão comigo, com as outras pessoas e o mundo.