Empatia inflando o veleiro de exploração interior

Anna Paula Telles Vieland
Coletivo Yama
Published in
4 min readJun 30, 2020
Barco velejando em alto mar em sentido ao por do sol
Photo by Fab Lentz on Unsplash

Quando me identifico com alguém, torno-me um vento forte e suave, inflando o veleiro da exploração interior do outro. Por ser um vento, não controlo a direção do barco. Isso fica cargo do capitão, a pessoa por quem tenho empatia nesse momento. Não tento direcionar, apenas ligar-me com o lugar onde a pessoa está nesse momento. Não levo ideias ou pensamentos sobre o passado ou o futuro. Não levo meus pensamentos. Não levo preferência para onde ir nessa jornada — apenas pelo que vem do coração e por escolha do capitão. O objetivo da minha presença é ligação, nunca correção. Sou uma brisa calma e presente, não uma impaciente e tempestuosa ventania.

Esse é o trecho de um livro de Kelly Bryson “Não Seja Bonzinho, Seja Real” que me inspira mais e mais a cada vez que leio, me fazendo refletir sobre a empatia.

A empatia é da natureza humana e, ao longo de nossas vidas, vai se desenvolvendo. A questão é que o desenvolvimento dessa habilidade pode ser comprometido num momento em que somos inundados por atividades e informações, em que a tecnologia disputa cada vez mais nossa atenção com as pessoas que convivem conosco ou ainda que recebemos cobranças (e nos cobramos) todo o tempo por resultados.

Em tempos de isolamento físico — em que a solidão faz-se presente, os nervos estão à flor da pele e a distância da realidade da outra pessoa muito vezes nos impede de entender diferentes contextos, dores e situações tão particulares que cada um está vivendo — a prática, o exercício da empatia torna-se cada vez mais necessário.

Quantas vezes percebemos que a outra pessoa precisa de empatia? Quantas vezes em nossas conversas abrimos espaço para a escuta? Estamos dispostos a ouvir? Será que quando alguém do nosso trabalho chega em uma reunião com reatividade ou impaciência, nos colocamos na curiosidade de saber como essa pessoa está se sentindo e quais foram as pré-condições e sentimentos que culminaram naquele comportamento? Quantas vezes, em nossas cobranças diárias, reconhecemos que somos humanos e oferecemos empatia a nós mesmos?

Empatia é uma escolha e, se decidimos oferecê-la, precisamos nos empenhar para isso. Ela é definida como uma energia e está relacionada à presença, a estar com o outro, estabelecer uma conexão como os sentimentos do outro (ou com os nossos no caso da auto empatia).

Ser uma pessoa empática é ter a intenção de entender sobre outro, o que significa não direcionar ou corrigir e sim escutar o outro a partir da sua perspectiva. Para que a oferta de empatia tenha qualidade, a atenção precisa estar na experiência e não em julgamentos ou pensamentos de como tentar ajudar. Precisamos perceber qual as condições internas da pessoa, conectando-nos em nossa humanidade, livres de ego.

Alguns mitos sobre a empatia:

  • Tem que resolver os problemas dos outros
  • Tentativa de minimizar os impactos da situação
  • É preciso concordar com o que outro fez
  • Ouvir e ficar em silêncio porque a pessoa está ok com o que aconteceu
  • Fazer algo pelo outro mesmo que isso não atenda a si
  • Não conseguir distinguir o nosso sentimento do sentimento da outra pessoa
  • É ser uma esponja que absorve tudo que a outra pessoa está dizendo
  • Compartilhar nossas experiências sobre o assunto
  • É uma obrigação

Uma questão de escolha

Como escolha, há momentos em que não temos condições de oferecer, pois primeiro precisamos nos acolher e praticar a auto empatia. Um exemplo disso são casos em que nos vemos abalados com alguma situação específica ou nos ferimos com algo que foi dito. Primeiro precisamos ter clareza do que sentimos para depois tentarmos nos conectar com os sentimentos da outra pessoa.

A chave para a empatia pelos outros é a empatia por si, se estamos bem nutridos, conseguimos tomar a consciência empática e assim entrar em ressonância com a situação e com o que a outra pessoa sente. Caso contrário, corremos o risco de criar uma espuma emocional ou ainda cair no contágio emocional, ambos tendo a desorientação e o sofrimento como resultado.

Duas mulheres abraçadas, uma delas encostada no colo da outra com os olhos fechados
Photo by Anastasia Vityukova on Unsplash

Uma resposta empática pode ser algo tão simples quanto um abraço, um carinho, a própria escuta que alivia a tensão do momento. A beleza da empatia está na clareza e investigação que proporciona. Bons ouvintes são pessoas que promovem descobertas e reflexões. Enquanto a pessoa fala sobre o que sente, tem a oportunidade de refletir, de entender seu caos, colocar significado e por vezes ampliar a percepção dos seus sentimentos, enxergar por outra perspectiva, o que pode trazer alívio e calma, acolhimento.

Goethe disse que deveríamos procurar compreender quem somos saindo de nós mesmos e descobrindo o mundo. A empatia é assim uma poderosa alternativa de escaparmos dos limites do nosso ego, torna melhor a vida de quem se dispõe a cultivá-la, impacta positivamente a relação com o meio em que vive e consigo, contribuindo para o equilíbrio emocional. Além de possuir um potencial revolucionário como força de mudança social.

No fim das contas, ter um comportamento mais empático é questão de prática e faz bem tanto para quem recebe quanto para quem pratica.

E você, como tem se relacionado com a empatia? Tem sido uma brisa calma e presente ou uma impaciente e tempestuosa ventania?

Quer saber mais sobre empatia e outras habilidades para estabelecer conexões mais gentis? Acompanhe o @coletivoyama

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Anna Paula Telles Vieland
Coletivo Yama

Encorajando conexões mais gentis e fomentando a gestão humanizada para a criação de produtos com empatia e propósito.