O Coletivo Yama, o yoga e o princípio da não violência

Andressa Luz
Coletivo Yama
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5 min readJul 16, 2020
mulher de costas, em cima de uma montanha em postura de yoga olhando pro horizonte, que mostra mais montanhas e por do sol
Photo by Eneko Uruñuela on Unsplash

Mais que um título para o texto que você está começando a ler, essa frase representa um pouco do nosso manifesto, da nossa essência. Hoje vamos contar mais da origem do nosso nome. Você sabe por que decidimos chamar o nosso coletivo de Yama? Essa história está relacionada a uma prática que surgiu há mais de cinco mil anos: o yoga.

A nossa iniciativa nasceu com foco em encorajar conexões mais gentis e plantar sementes para uma cultura de paz e isso tem tudo a ver com o yoga. Desde o início, nos inspiramos nos preceitos éticos do yoga, principalmente no ahimsa, que diz respeito à não violência.

No Yoga-Sutra, um texto milenar indiano e o principal livro sobre o tema, Patanjali apresenta um compilado com as tradições doutrinárias e técnicas da prática e, com isso, ficou conhecido por transformar o yoga em ciência e filosofia como uma condução de processos de transformação da mente.

Nesse livro, são mostrados os oito passos necessários para seguir um caminho de completa libertação. Eles referem-se a oito estados do ser humano, são interligados e atuam em conjunto e, embora não sequenciais, seguem um ao outro, de forma natural.

Yamas e Niyamas

As duas primeiras partes dizem respeito às atitudes, sendo a base ética do yoga: os yamas e niyamas. No caso dos yamas, que inspiraram o nosso nome, isso significa que são normas de conduta geral, ou seja, a forma como nos relacionamos com os outros, como nossas atitudes atingem quem está ao nosso redor. Podemos dizer que o objetivo é manter uma boa convivência com as pessoas.

Já os niyamas são as disciplinas mais particulares que dizem respeito a nós mesmos: o autodomínio. Em próximas publicações, vamos falar um pouco mais desse e dos outros passos citados no Yoga-Sutra.

Os preceitos éticos do yoga proporcionam uma estrutura mental e emocional que facilita estabelecer e manter um estado de paz. A proposta é nos libertar das ilusões, da ignorância, tirar perturbações mentais e nos conectar com o equilíbrio e a humanidade que existe em nós.

Vale dizer também que esses ensinamentos são atemporais e podem ser feitos por qualquer pessoa, independente de quando e onde, não se limita apenas aos praticantes de yoga ou nenhuma circunstância. Todos podemos praticar!

fotografia com close em uma flor de dente de leão, com fundo desfocado que mostra um gramado e dia iluminado
Photo by Aaron Burden on Unsplash

Ahimsa: ou não violência

Como vimos, os yamas são valores éticos para viver em sociedade, que nos ajudam a melhorar a forma de nos relacionar com as outras pessoas, seja no trabalho ou na vida pessoal.

O primeiro dos oito passos do yoga diz respeito aos yamas e o primeiro dos yamas apresentado é o ahimsa, que serve como base para os demais passos nesse caminho de autocompreensão e autorrealização. E é por isso que o ahimsa também é a base sólida que nutre toda a existência do nosso coletivo.

Segundo Patanjali, quem deseja alcançar a perfeição, ou seja, quem deseja manter um compromisso com o caminho da purificação deve seguir a não violência. O ahimsa é uma exigência ética que serve de base e permeia as demais.

Mas o que é não violência?

A palavra em sânscrito é formada pelo prefixo negativo “a” e por “himsa”, que significa a intenção de causar dano, de usar de violência com seres vivos. Assim, ahimsa pode ser entendida como a ausência de toda e qualquer intenção de violência, ou seja, o respeito em pensamento, palavra e ação pela vida de todo ser.

“Há a intenção correta, que abrange a intenção de não causar dano, a fala correta que implica em evitar a injúria e a ação correta que consiste em evitar matar.”

Assim explica Jean-Marie Muller, autor do livro “O princípio da não violência: uma trajetória filosófica”, que apresenta detalhes importantes sobre a conceituação da palavra:

“Embora a palavra ahimsa tenha uma forma negativa, seu significado é positivo, pois assinala o dever de se libertar do desejo de violência, que é inteiramente negativo. O significado de ahimsa é tão positivo quanto o da palavra sânscrita arogya, que designa saúde e cujo significado literal é ausência de enfermidade. O ahimsa é mais do que uma proibição, é uma exigência. É um princípio.”

duas mãos fechadas segurando uma flor
Photo by Greg Rosenke on Unsplash

E também o que não é…

Se nos restringirmos à etimologia, uma tradução possível de a-himsa seria i-nocência. As etimologias das duas palavras são, de fato, análogas; i-nocente vem do latim in-nocens, e o verbo nocere (fazer o mal, prejudicar), por sua vez, provém de nex, necis, que significa morte violenta, homicídio. Assim, inocência é, no sentido real do termo, a virtude daquele

que não é culpado de nenhuma violência homicida para com outrem.”

No entanto, atualmente, a palavra inocência evoca sobretudo a pureza suspeita daquele que não faz o mal, mais por ignorância e incapacidade do que por virtude. Não saberia confundir a não violência com essa forma de inocência, porém, essa distorção de sentido da palavra não deixa de ser significativa: como se o fato de não fazer o mal revelasse uma espécie de impotência”

Assim como o autor explica, também acreditamos que a não violência é uma forma de ressignificar a inocência como virtude de quem age com força e sabedoria.

Agora que você sabe porque chamamos Coletivo Yama, que tal conhecer mais sobre nós? Acesse o nosso site: https://www.coletivoyama.com/ e gratidão por essa leitura! Nas próximas publicações, vamos falar mais sobre outros aspectos da não violência, esperamos que você aproveite!

*Texto com colaboração de Anna Paula Telles Vieland

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Andressa Luz
Coletivo Yama

Jornalista e ux writer, acredito na comunicação, principalmente na linguagem escrita, como forma de liberdade e conexão comigo, com as outras pessoas e o mundo.