O Coletivo Yama, o yoga e o princípio da não violência
Mais que um título para o texto que você está começando a ler, essa frase representa um pouco do nosso manifesto, da nossa essência. Hoje vamos contar mais da origem do nosso nome. Você sabe por que decidimos chamar o nosso coletivo de Yama? Essa história está relacionada a uma prática que surgiu há mais de cinco mil anos: o yoga.
A nossa iniciativa nasceu com foco em encorajar conexões mais gentis e plantar sementes para uma cultura de paz e isso tem tudo a ver com o yoga. Desde o início, nos inspiramos nos preceitos éticos do yoga, principalmente no ahimsa, que diz respeito à não violência.
No Yoga-Sutra, um texto milenar indiano e o principal livro sobre o tema, Patanjali apresenta um compilado com as tradições doutrinárias e técnicas da prática e, com isso, ficou conhecido por transformar o yoga em ciência e filosofia como uma condução de processos de transformação da mente.
Nesse livro, são mostrados os oito passos necessários para seguir um caminho de completa libertação. Eles referem-se a oito estados do ser humano, são interligados e atuam em conjunto e, embora não sequenciais, seguem um ao outro, de forma natural.
Yamas e Niyamas
As duas primeiras partes dizem respeito às atitudes, sendo a base ética do yoga: os yamas e niyamas. No caso dos yamas, que inspiraram o nosso nome, isso significa que são normas de conduta geral, ou seja, a forma como nos relacionamos com os outros, como nossas atitudes atingem quem está ao nosso redor. Podemos dizer que o objetivo é manter uma boa convivência com as pessoas.
Já os niyamas são as disciplinas mais particulares que dizem respeito a nós mesmos: o autodomínio. Em próximas publicações, vamos falar um pouco mais desse e dos outros passos citados no Yoga-Sutra.
Os preceitos éticos do yoga proporcionam uma estrutura mental e emocional que facilita estabelecer e manter um estado de paz. A proposta é nos libertar das ilusões, da ignorância, tirar perturbações mentais e nos conectar com o equilíbrio e a humanidade que existe em nós.
Vale dizer também que esses ensinamentos são atemporais e podem ser feitos por qualquer pessoa, independente de quando e onde, não se limita apenas aos praticantes de yoga ou nenhuma circunstância. Todos podemos praticar!
Ahimsa: ou não violência
Como vimos, os yamas são valores éticos para viver em sociedade, que nos ajudam a melhorar a forma de nos relacionar com as outras pessoas, seja no trabalho ou na vida pessoal.
O primeiro dos oito passos do yoga diz respeito aos yamas e o primeiro dos yamas apresentado é o ahimsa, que serve como base para os demais passos nesse caminho de autocompreensão e autorrealização. E é por isso que o ahimsa também é a base sólida que nutre toda a existência do nosso coletivo.
Segundo Patanjali, quem deseja alcançar a perfeição, ou seja, quem deseja manter um compromisso com o caminho da purificação deve seguir a não violência. O ahimsa é uma exigência ética que serve de base e permeia as demais.
Mas o que é não violência?
A palavra em sânscrito é formada pelo prefixo negativo “a” e por “himsa”, que significa a intenção de causar dano, de usar de violência com seres vivos. Assim, ahimsa pode ser entendida como a ausência de toda e qualquer intenção de violência, ou seja, o respeito em pensamento, palavra e ação pela vida de todo ser.
“Há a intenção correta, que abrange a intenção de não causar dano, a fala correta que implica em evitar a injúria e a ação correta que consiste em evitar matar.”
Assim explica Jean-Marie Muller, autor do livro “O princípio da não violência: uma trajetória filosófica”, que apresenta detalhes importantes sobre a conceituação da palavra:
“Embora a palavra ahimsa tenha uma forma negativa, seu significado é positivo, pois assinala o dever de se libertar do desejo de violência, que é inteiramente negativo. O significado de ahimsa é tão positivo quanto o da palavra sânscrita arogya, que designa saúde e cujo significado literal é ausência de enfermidade. O ahimsa é mais do que uma proibição, é uma exigência. É um princípio.”
E também o que não é…
Se nos restringirmos à etimologia, uma tradução possível de a-himsa seria i-nocência. As etimologias das duas palavras são, de fato, análogas; i-nocente vem do latim in-nocens, e o verbo nocere (fazer o mal, prejudicar), por sua vez, provém de nex, necis, que significa morte violenta, homicídio. Assim, inocência é, no sentido real do termo, a virtude daquele
que não é culpado de nenhuma violência homicida para com outrem.”
No entanto, atualmente, a palavra inocência evoca sobretudo a pureza suspeita daquele que não faz o mal, mais por ignorância e incapacidade do que por virtude. Não saberia confundir a não violência com essa forma de inocência, porém, essa distorção de sentido da palavra não deixa de ser significativa: como se o fato de não fazer o mal revelasse uma espécie de impotência”
Assim como o autor explica, também acreditamos que a não violência é uma forma de ressignificar a inocência como virtude de quem age com força e sabedoria.
Agora que você sabe porque chamamos Coletivo Yama, que tal conhecer mais sobre nós? Acesse o nosso site: https://www.coletivoyama.com/ e gratidão por essa leitura! Nas próximas publicações, vamos falar mais sobre outros aspectos da não violência, esperamos que você aproveite!
*Texto com colaboração de Anna Paula Telles Vieland