Os ensinamentos de Gandhi para uma liderança baseada na não violência

Andressa Luz
Coletivo Yama
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5 min readJul 30, 2020
Imagem mostra uma inscrição no chão com a frase: Where there is love there is life (Gandhi)
Photo by Mick Haupt on Unsplash

Mahatma Gandhi nasceu há 150 anos e até hoje podemos ver os reflexos de sua influência em todo o mundo, principalmente nas mobilizações por causas políticas, ambientais e sociais que tratem de ações de violência com as outras pessoas e também com a natureza, como abuso de poder, desigualdade, racismo, homofobia e desmatamento, por exemplo.

As manifestações pacíficas são pautadas no exemplo de luta que esse líder conduziu durante o processo de independência da Índia, dominada por uma colonização britânica que queria acabar com a cultura e a tradição daquele povo.

Ele foi um dos maiores líderes da história e levou multidões a conhecer e praticar o conceito de ahimsa, ou não violência. Uma de suas frases mais famosas é: “Posso até estar disposto a morrer por uma causa, mas nunca matar por ela”.

Imagem de Mahatma Gandhi
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Seu método era conhecido por ser uma resistência como meio de evolução, baseado em dois pilares: o da verdade e o da não violência. O nome indiano para esse tipo de luta é satyagraha e refere-se a valores éticos, significando “agraha” ater-se à verdade (satya).

Mas isso não quer dizer que houvesse passividade ou inércia. Ele promovia ações de desobediência civil e se tornou idealizador e fundador do moderno estado indiano e grande influência para outros ativistas democráticos e antirracistas.

Quais líderes foram influenciados por Gandhi?

As estratégias e os ensinamentos de Gandhi para uma liderança de paz ficaram conhecidos em todo o mundo e suas metodologias libertárias influenciaram outros importantes líderes do século 20, que promoveram transformações sociais significativas também em outros países.

Mesmo em outros contextos com culturas diferentes, a não violência se mostrou um método eficaz de promover grandes mudanças sem precisar machucar outras pessoas.

Martin Luther King Jr.

Foto de Martin Luther King Jr.
Photo on Wikimedia Commons

Aos 35 anos de idade, Martin Luther King Jr. tornou-se o mais jovem ganhador do Prêmio Nobel da Paz como reconhecimento à sua luta contra a segregação racial durante as décadas de 50 e 60, período em que os Estados Unidos viviam um intenso sistema de opressão racial.

Na história da luta do movimento negro, foram conduzidas ações de desobediência civil, como o não cumprimento de leis e normas de forma pacífica, exemplificado no caso do boicote no transporte coletivo contra o fato de não poderem sentar nos mesmos assentos que os brancos.

O boicote durou 382 dias, período em que Luther King ficou preso e o resultado foi a decisão da Suprema Corte dos EUA, em 1956, de que a segregação racial em locais públicos nos EUA era ilegal. Era uma vitória do movimento negro na conquista de direitos civis.

Luther King se tornou líder desse movimento, rodou o país apoiando inúmeras greves e lutas estudantis. Suas ações resultaram ainda no direito de voto aos negros no Alabama, onde ele fez seu famoso discurso para mais de 250 mil pessoas: “Não devemos deixar que nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma”.

Nelson Mandela

Nelson Mandela em seu discurso na ONU
Photo on ONU/P. Sudhakaran

Comemorado em 18 de julho, o Dia Internacional Nelson Mandela homenageia o nascimento do líder e ex-presidente da África do Sul, uma referência na luta contra o apartheid e por uma sociedade mais justa e igualitária.

Desde jovem ele atuou na militância política contra o regime de leis que separavam negros e brancos em espaços públicos. Inicialmente como membro do CNA (Congresso Nacional Africano), participou de manifestações de desobediência civil, usando espaços reservados aos brancos como banheiros públicos e correios.

Mandela chegou a participar de um grupo armado que causou uma violenta reação do governo e resultou em sua prisão, onde ficou por 27 anos. Apesar disso, ficou conhecido por sua habilidade de negociação e por ser um símbolo de resistência não violenta. Foi eleito presidente do país em 1994, após uma expressiva vitória nas urnas e também ganhou o Prêmio Nobel da Paz pela atuação política no processo de transição e de luta pelos direitos da maioria negra sul-africana.

Leymah Gbowee

Foto de Leymah Gbowee
Photo by By Fronteiras do Pensamento

Ainda no continente africano, outro nome se destaca na luta que tem como base a não violência. Leymah Gbowee é ativista e esteve à frente do movimento feminista pela paz que colocou fim à segunda guerra civil da Libéria, em 2008, e resultou na eleição da primeira mulher presidente de um país africano.

Ela se dedicou ao trabalho de reabilitação de pessoas traumatizadas pela guerra e seus episódios de extrema violência. O movimento liderado por ela ficou conhecido por promover ações inusitadas, como ficarem sentadas diante de agentes repressores ou em lugares públicos estratégicos com todas vestidas de branco e até mesmo greve de sexo, em que elas anunciavam se recusar a fazer sexo com seus respectivos companheiros até que a guerra tivesse acabado.

A experiência também rendeu a ela um Nobel da Paz e mostrou ao mundo a importância da participação ativa de mulheres como liderança em movimentos populares, tanto para a justiça social como para a condução de uma cultura de paz, já que abriu precedente para o estabelecimento da paz no resto do continente.

A violência afasta e a não violência aproxima

Gandhi é uma unanimidade quando o assunto é cultura de paz, inspirou esses líderes e seus ensinamentos continuam presentes. Segundo Martin Luther King Jr.:

“Gandhi era inevitável. Se a humanidade há de progredir, não poderá esquecer Gandhi. Ele viveu, pensou e agiu inspirado pela visão da humanidade evoluindo para um mundo de paz e harmonia. Se ignorarmos os seus ensinamentos, não poderemos queixar-nos”.

Essas pessoas provaram ao mundo que é possível promover grandes mudanças sem usar violência e, como no caso de Mandela, que ela só gera repressão e não resultados efetivos.

Aprendemos também com esses grandes modelos éticos que a não violência não se confunde com passividade, é um caminho que exige muito diálogo, tolerância, perseverança e paciência e que a luta não violenta contra as injustiças deve ser uma prática constante.

Que essas histórias nos sirvam de inspiração para que possamos fazer a nossa parte para a construção de uma cultura de paz também no presente e no futuro.

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Andressa Luz
Coletivo Yama

Jornalista e ux writer, acredito na comunicação, principalmente na linguagem escrita, como forma de liberdade e conexão comigo, com as outras pessoas e o mundo.