Os ensinamentos de Gandhi para uma liderança baseada na não violência
Mahatma Gandhi nasceu há 150 anos e até hoje podemos ver os reflexos de sua influência em todo o mundo, principalmente nas mobilizações por causas políticas, ambientais e sociais que tratem de ações de violência com as outras pessoas e também com a natureza, como abuso de poder, desigualdade, racismo, homofobia e desmatamento, por exemplo.
As manifestações pacíficas são pautadas no exemplo de luta que esse líder conduziu durante o processo de independência da Índia, dominada por uma colonização britânica que queria acabar com a cultura e a tradição daquele povo.
Ele foi um dos maiores líderes da história e levou multidões a conhecer e praticar o conceito de ahimsa, ou não violência. Uma de suas frases mais famosas é: “Posso até estar disposto a morrer por uma causa, mas nunca matar por ela”.
Seu método era conhecido por ser uma resistência como meio de evolução, baseado em dois pilares: o da verdade e o da não violência. O nome indiano para esse tipo de luta é satyagraha e refere-se a valores éticos, significando “agraha” ater-se à verdade (satya).
Mas isso não quer dizer que houvesse passividade ou inércia. Ele promovia ações de desobediência civil e se tornou idealizador e fundador do moderno estado indiano e grande influência para outros ativistas democráticos e antirracistas.
Quais líderes foram influenciados por Gandhi?
As estratégias e os ensinamentos de Gandhi para uma liderança de paz ficaram conhecidos em todo o mundo e suas metodologias libertárias influenciaram outros importantes líderes do século 20, que promoveram transformações sociais significativas também em outros países.
Mesmo em outros contextos com culturas diferentes, a não violência se mostrou um método eficaz de promover grandes mudanças sem precisar machucar outras pessoas.
Martin Luther King Jr.
Aos 35 anos de idade, Martin Luther King Jr. tornou-se o mais jovem ganhador do Prêmio Nobel da Paz como reconhecimento à sua luta contra a segregação racial durante as décadas de 50 e 60, período em que os Estados Unidos viviam um intenso sistema de opressão racial.
Na história da luta do movimento negro, foram conduzidas ações de desobediência civil, como o não cumprimento de leis e normas de forma pacífica, exemplificado no caso do boicote no transporte coletivo contra o fato de não poderem sentar nos mesmos assentos que os brancos.
O boicote durou 382 dias, período em que Luther King ficou preso e o resultado foi a decisão da Suprema Corte dos EUA, em 1956, de que a segregação racial em locais públicos nos EUA era ilegal. Era uma vitória do movimento negro na conquista de direitos civis.
Luther King se tornou líder desse movimento, rodou o país apoiando inúmeras greves e lutas estudantis. Suas ações resultaram ainda no direito de voto aos negros no Alabama, onde ele fez seu famoso discurso para mais de 250 mil pessoas: “Não devemos deixar que nosso criativo protesto degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma”.
Nelson Mandela
Comemorado em 18 de julho, o Dia Internacional Nelson Mandela homenageia o nascimento do líder e ex-presidente da África do Sul, uma referência na luta contra o apartheid e por uma sociedade mais justa e igualitária.
Desde jovem ele atuou na militância política contra o regime de leis que separavam negros e brancos em espaços públicos. Inicialmente como membro do CNA (Congresso Nacional Africano), participou de manifestações de desobediência civil, usando espaços reservados aos brancos como banheiros públicos e correios.
Mandela chegou a participar de um grupo armado que causou uma violenta reação do governo e resultou em sua prisão, onde ficou por 27 anos. Apesar disso, ficou conhecido por sua habilidade de negociação e por ser um símbolo de resistência não violenta. Foi eleito presidente do país em 1994, após uma expressiva vitória nas urnas e também ganhou o Prêmio Nobel da Paz pela atuação política no processo de transição e de luta pelos direitos da maioria negra sul-africana.
Leymah Gbowee
Ainda no continente africano, outro nome se destaca na luta que tem como base a não violência. Leymah Gbowee é ativista e esteve à frente do movimento feminista pela paz que colocou fim à segunda guerra civil da Libéria, em 2008, e resultou na eleição da primeira mulher presidente de um país africano.
Ela se dedicou ao trabalho de reabilitação de pessoas traumatizadas pela guerra e seus episódios de extrema violência. O movimento liderado por ela ficou conhecido por promover ações inusitadas, como ficarem sentadas diante de agentes repressores ou em lugares públicos estratégicos com todas vestidas de branco e até mesmo greve de sexo, em que elas anunciavam se recusar a fazer sexo com seus respectivos companheiros até que a guerra tivesse acabado.
A experiência também rendeu a ela um Nobel da Paz e mostrou ao mundo a importância da participação ativa de mulheres como liderança em movimentos populares, tanto para a justiça social como para a condução de uma cultura de paz, já que abriu precedente para o estabelecimento da paz no resto do continente.
A violência afasta e a não violência aproxima
Gandhi é uma unanimidade quando o assunto é cultura de paz, inspirou esses líderes e seus ensinamentos continuam presentes. Segundo Martin Luther King Jr.:
“Gandhi era inevitável. Se a humanidade há de progredir, não poderá esquecer Gandhi. Ele viveu, pensou e agiu inspirado pela visão da humanidade evoluindo para um mundo de paz e harmonia. Se ignorarmos os seus ensinamentos, não poderemos queixar-nos”.
Essas pessoas provaram ao mundo que é possível promover grandes mudanças sem usar violência e, como no caso de Mandela, que ela só gera repressão e não resultados efetivos.
Aprendemos também com esses grandes modelos éticos que a não violência não se confunde com passividade, é um caminho que exige muito diálogo, tolerância, perseverança e paciência e que a luta não violenta contra as injustiças deve ser uma prática constante.
Que essas histórias nos sirvam de inspiração para que possamos fazer a nossa parte para a construção de uma cultura de paz também no presente e no futuro.