A (inter) face da ética.

Rodrigo Morbey
Collekt
Published in
3 min readDec 14, 2020

--

O que torna o design de interface bom? O que é um bom projeto?

Ele precisa ser inovador e disruptivo? Esteticamente agradável? Ser usado por muitos? Ter ótimas avaliações nas lojas e pela internet? Ser imersivo? Cheio de gestos inusitados? Muitos likes no Dribbble? Usar o gradiente da moda?

Nada disso. O bom design de interface precisa apenas de duas coisas: princípios e padrões.

Sem princípios a prática do Design pode se tornar um ato irresponsável e vazio. O trabalho do Designer de interface tem impacto na vida privada, sociedade e em cadeias de trabalho e isso precisa levado em conta.

Em um mundo onde estamos cercados por fakenews e darkpatters o Design de interface carece de princípios.

Princípios aqui são o conjunto de regras que definem produtos, sistemas e serviços úteis e desejáveis, assim como os códigos éticos da prática projetual. Princípios são aplicados ao processo de design para traduzir tarefas, objetivos e requerimentos em estruturas formais e comportamentos na interface.

Podemos dividir estes princípios em princípios de valor, conceituais, de comportamento e interface.

  • Valor: imperativos para o efetivo e ética prática do design;
  • Conceituais: definição do que é o produto e como ele se encaixa em um contexto amplo para seus clientes e sociedade;
  • Comportamento: como um produto deve se comportar de forma geral e em situações específicas;
  • Interface: estratégias visuais de comunicação e comportamento.

Vamos nos atentar para o pilar de valores. Produtos e serviços com princípios de valor devem ser:

  • Éticos: não causar dano; melhorar condições humanas;
  • Ter propósito: útil e usável;
  • Ser pragmático: viável (objetivos de negócio) e factível (requisitos técnicos);
  • Ser elegante: eficiente (solução simples e completa), coerente/compreensível, emocional e cognitivamente estimulante (visual);

E então chegamos no ponto que é interessante para esta discussão, um fator que está escondido nas camadas acima: o bom Design é ético. E por ser ético ele não deve causar dano e precisa melhorar a condição humana.

Não causar danos:

  • Interpessoais: dignidade, insulto, humilhação;
  • Psicológicos: confusão, desconforto, frustração, coerção, tédio;
  • Físicos: dor, injúria, privação, morte ou comprometer a segurança;
  • Ambientais: poluição, eliminação da biodiversidade;
  • Sociais: exploração, injustiça.

Melhorar as condições humanas:

  • Aumentar compreensão: individual, social e cultural;
  • Aumentar eficiência: individual ou grupo;
  • Melhorar comunicação: entre indivíduos e grupos;
  • Reduzir tensões sociais;
  • Melhorar o capital próprio: financeiro, social e legal;
  • Prover diversidade e inclusão.

Outras áreas do Design tem como seu principal impacto a comunicação, o que já lhes garante o enorme poder da persuasão, mas o Designer de interação vai além projetando interfaces que não só se comunicam com o posicionamento de marketing de uma empresa, mas também realizam ações. É responsabilidade dos profissionais envolvidos garantir que estas ações sejam boas para os que são afetados diretamente ou indiretamente por elas. Devemos lembrar que se por um lado temos empresas e corporações com objetivos claros, por outro lado temos pessoas.

O bom Design de interface é ético.

--

--

Rodrigo Morbey
Collekt

Superpower: Designer and UX researcher. S. abilities: obsessed about music, cyclist, biker, veggie, yogi, book hoarder and game addicted. Co-founder at BUNKER79