Os Desafios de construir marcas com propósito (de verdade)

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5 min readApr 30, 2020

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Muitas vezes os trabalhos de comunicação ganham vida e começam a fazer sentido apenas quando são veiculados. Nesse contexto, vimos ao longo dos anos uma infinidade de veículos de comunicação surgirem, passando pela tradicional mídia impressa, televisão, mídia Out Of Home e atualmente, os canais digitais.

Esses veículos, na maioria das vezes, levam a informação para apenas uma parcela da população, principalmente quando estamos falando de mobiliário urbano, que em sua maioria, está localizado nas regiões centrais das cidades, excluindo a área periférica.

É justamente esta visão crítica que motivou o Outdoor Social a criar sua proposta de ação. Em um mundo que fala tanto sobre marcas com propósito, essa o traz em sua essência: um negócio capaz de gerar impacto social positivo. Qual impacto? Levar um veículo de comunicação para além do centro da cidade e incluir as comunidades de diversos estados do Brasil na rota dos grandes anunciantes, criando um ecossistema que integra moradores, marcas e comércio local.

“Acho que o grande diferencial do Outdoor Social é pensar em uma comunicação diferente para a periferia, uma conversa não pasteurizada, como era feito antigamente, mas sim representativa.” Emilia Rabello, fundadora Outdoor Social.

O nosso desafio neste trabalho foi encontrar um território para a marca capaz de tangibilizar seu modelo de ação, de mostrar o que de fato significa ser um negócio de impacto, e desvincular a marca da imagem de ONG. Foi olhando para essa perspectiva que nasceu o “Brasil Real”, um lugar que vai além de um conceito de marca; ele existe de fato.

O Brasil Real é aquele das pessoas reais, do senso de comunidade, diversidade, e que consome, sendo, na verdade, o maior mercado consumidor do país.

Paraisópolis

“As favelas brasileiras sempre foram atreladas a criminalidade, e por consequência, as pessoas que moram nesses lugares carregavam esse estereótipo. Era como se dentro desses lugares não existisse consumo.”
Emilia Rabello, fundadora Outdoor Social.

Ok, mas como o ´Brasil Real´ aparece na marca? De que maneira o logo poderia traduzir esse conceito? É aí que mora o “pulo do gato”. Durante o processo, entendemos que para a marca era extremamente importante definir o lugar como destaque, por isso decidimos ´olhar do alto´ para as comunidades onde ela atua. Foi assim que vimos e compreendemos que todo lugar comunica, e o faz de maneiras únicas e originais:

Observamos mapas de diversas comunidades Brasil afora, e entendemos que sua geografia nos possibilitava trazer para a marca todos os Brasis que ela fosse comunicar:

E são muitos! Essa percepção trouxe a dose de modularidade que Outdoor Social precisava, de maneira que sua aplicação também fosse simples.
Afinal, não adianta ter inúmeros desdobramentos de marca, se no dia a dia
a aplicação se tornar um fardo.

Com a marca criada, é hora de contar essa nova história para o mundo.
O Colletivo, junto com sua empresa irmã, a agência Moonstro, teve a oportunidade de desenvolver a campanha de lançamento do novo posicionamento. Não foi a primeira vez que esse cross entre as “firmas” aconteceu, pelo contrário, colaboramos constantemente, só que em Outdoor Social,tínhamos o desafio de somar as características dos lugares (das comunidades), com o que era importante para os anunciantes:

“Toda a campanha desenvolvida pelo Colletivo e Moonstro, junto com Outdoor Social, somou de fato para a marca, trouxe abrangência e conseguiu unir todas as características presentes nesses territórios, que são muito heterogêneos.” Emilia Rabello, fundadora Outdoor Social.

Esse projeto nos convida a refletir ainda sobre o impacto do Coronavírus nas comunidades, e quais as perspectivas para as marcas. Em estudo publicado pela prefeitura da cidade de São Paulo, os impactos da covid-19 são até 10 vezes maiores em bairros periféricos.

Eu consigo enxergar que depois dessa pandemia, vai ter um foco maior nas questões de infraestrutura desses territórios. Acho que vai ter um protagonismo maior para essas ações de saneamento, de saúde e conectividade. Emilia Rabello, fundadora Outdoor Social.

Embora essa população seja realmente a mais afetada, muitas transformações estão sendo impulsionadas nessas regiões, como o mapeamento de pessoas antes descritas como “invisíveis” (por não estarem no cadastro único e nem trabalhar de maneira formal), e o fato de se tornarem mais evidentes as questões de habitação, mobilidade urbana, saneamento básico e distribuição de renda.

Vale ainda destacar algumas provações para quem atua nesse setor e dialoga com os moradores nessas regiões:

Marcas, esse é o momento de se posicionar. Se antes mesmo de enfrentarmos uma pandemia global, as pessoas já estavam atentas aos seus movimentos, no cenário p.C (pós Covid-19), isso irá se intensificar. Se a sua marca é do tipo “assistencialista de fachada” , se até hoje não se mobilizou e propôs alguma ação social efetiva, ou, ainda mais grave, impacta negativamente o mundo, é mais do que hora de repensar suas escolhas. Certamente, as pessoas irão cobrar cada vez mais transparência, verdade e efetividade nas suas ações.

Veículos, estejam atentos às mensagens que vocês têm transmitido. O acesso a informação está livre, as pessoas estão empenhadas em entender o que está acontecendo, questionando e se informando. E sim, vocês precisam ser responsáveis pelo tipo de conteúdo que estão anunciando.

Escritórios de Design, diversifiquem os times e elevem o pensamento do design para pautas que sejam relevantes. O belo pelo belo já não fazia sentido a.C (antes do Covid), agora menos ainda. O design precisa ser representativo, precisa dialogar com as pessoas, ele precisa ser real.

Bom, caro leitor, se você achou interessante a maneira como a gente pensa e entende os projetos, e quer conhecer mais o nosso trabalho, fica o convite para acessar o site e nos seguir nas redes sociais, por lá somos @colletivodesign.

Quer se inspirar e conhecer mais sobre Outdoor Social, e seu modelo de negócio? O site deles está disponível aqui, e nas redes, @outdoorsocial.

Anna Carla Abreu é pesquisadora e estrategista no Colletivo Design

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