Todo sobre mi madre
Calma, não é uma crítica de cinema. Apenas peguei— com todo respeito — o título do sensível filme de Pedro Almodóvar para começar este texto. Na trama do diretor espanhol, a história de três mulheres fortes se cruza num delicado e pungente retrato de amor e sororidade. É inevitável assistir ao filme e não pensar nas mulheres que me cercam, principalmente na minha mãe.
“Minha mãe é um personagem especial em minha vida”, contou Almodóvar num artigo publicado no jornal El País, em 14 de setembro de 1999. Tal como ele, também encontro inspiração na minha mãe e na relação que tenho com ela. Escrevo sobre e para ela desde que me entendo por gente. Antes de saber escrever, desenhava.
Eu aprendi muito com minha mãe, sem que nem ela nem eu tenhamos dado conta. Aprendi algo essencial para o meu trabalho, a diferença entre ficção e realidade, e como a realidade precisa ser preenchida pela ficção para tornar a vida mais fácil.
- Pedro Almodóvar
Nós somos muito parecidas. Fisicamente, no jeito de falar, pensar e de ser. Mas temos lá nossas diferenças, que são facilmente dribladas com paciência e uma dose de bom humor. Depois de 24 anos de convivência, elá já entendeu que jamais serei tão organizada quanto ela. E tá tudo bem.
Talvez eu não saiba tudo sobre a minha mãe, mas ela certamente sabe mais de mim do que eu mesma. Ela é a primeira pessoa para quem eu conto qualquer coisa que acontece no meu dia a dia, desde às mais simples até as mais complexas. Mesmo que ela possa não saber exatamente o que me dizer, oferece seus ouvidos e seu colo sem igual.
Ela sempre respondeu a todos os meus questionamentos com naturalidade por mais constrangedores que eles pudessem ser. Nunca me poupou de mostrar o mundo como ele realmente é, sem deixar de estimular o meu olhar lúdico. Juntas dividimos absolutamente tudo. Angústias, alegrias, segredos e inclusive roupa. Ela dá asas para todos os meus sonhos e traz meus pés de volta ao chão quando necessário.
Às vezes eu penso “Meu Deus, como ela consegue fazer tanta coisa ao mesmo tempo?”. Até cansada parece incansável. A verdade é que nós, filhas e filhos, não somos dotados de entendimento suficiente para entender essas verdadeiras entidades que são as mães.
Me sinto contagiada por sua confiança, força e otimismo. Admiro sua racionalidade e também o alto astral. Observo a forma como trata as pessoas e como recebe do mundo todo o bem que emana. Reparo, ainda, nas características que ela incorporou da minha avó para absorve-las também.
Eu tento, mas não sei ser concisa e objetiva quando se trata de escrever sobre ela. Tenho tanta coisa pra falar além de tudo o que expresso todos os dias, que sempre fico com a sensação de que algo ficou por dizer. Com o passar do tempo, o amor só aumenta, as palavras se reciclam e volto a repetir o que talvez já tenha dito em outra ocasião.
Ela merece todas as palavras e adjetivos do meu vocabulário.