Como fui surpreendida por “O Confeiteiro”
Nessa crítica eu vou te contar tudo sobre a surpresa que tive ao assistir o filme israelense “O Confeiteiro”. Assiste neste último fim de semana e o drama já estava na minha lista há muito tempo. Eu já comentei aqui que tenho usado meu tempo livre pra eliminar algumas destas pendencias fílmicas que está sendo muito bom e produtivo. Tenho assistido excelentes obras.
“O Confeiteiro” conta a história de Thomas, um padeiro alemão que viaja até Jerusalém a procura da esposa de seu amante que morreu. Oren, era funcionário de uma empresa metade israelense, metade alemã e ele tinha um projeto grande em andamento, em Berlim. E assim, sempre que chegava lá, ia ao café que Thomas era dono para comprar biscoitos de canela para sua esposa, Anat, que também tem um café e, para saborear uma fatia de torta floresta negra.
A medida que o tempo avança, os doces de Thomas encantam Oren e eles estreitam a relação. Quando um desaparecimento inesperado do amante do Confeiteiro acontece, ele toma medidas ousadas e transgressoras.
CORES E FOTOGRAFIA
A fotografia é assinada por Omri Aloni, israelense debutante no mercado, velho conhecido do diretor do filme e já inicia com um trabalho belíssimo. Temos muitos closes dos personagens no primeiro ato do filme e uma luz bem suave em cima deles. Em outras palavras, a câmera traduz o luto tanto de Thomas quanto de Anat, de forma cuidadosa, com afeto e sutilidade.
O diretor do longa, Ofir Raul Graizer, também estreante no cinema, diz que o o zoom é sua ferramenta cinematográfica preferida, que é puro cinema pois não há em nenhuma outra arte como o teatro, pintura ou dança. Ele diz ainda que o enquadramento o remete à idade de Ouro italiana, onde havia os cineastas mais maravilhosos e que eles usavam o zoom o tempo todo.
Além disso, ele diz que com o close, nós entramos nos olhos e na alma do protagonista com apenas uma tomada, uma cena. Sempre que há algum tipo de momento de realização ou quando o personagem está saindo de sua zona de conforto lá está o close. São momentos em que os personagens têm algum tipo de compreensão da realidade. Pra ele, este é o momento certeiro de fazer uso do enquadramento.
O QUE A PALETA DE CORES DIZ SOBRE OS PERSONAGENS?
Nesse sentido, comentando sobre a paleta de cores contrastante dos dois locais do filme, Berlim e Jerusalém, um quente, o outro às vezes bastante frio. Omri explica que, embora parcialmente ditado por restrições orçamentárias, pretendia-se que Berlim seria um pouco quente, como um conto de fadas, como um lugar que não é realmente real.
Enquanto isso, Israel é um pouco mais áspero, frio, deprimente. Lá temos a presença intensa de cinzas, azuis, branco e bastante granulado. Porém, quando Jerusalém começa entrar na vida e na realidade de Thomas, a medida que Anat entra em sua vida, a tela se torna mais quente, mais colorida, mais vibrante, embora um pouco da aspereza permaneça.
Quando o café de Anat começa a vender os bolos de Thomas, um pouco desse calor de Berlim é transportado para Jerusalém.
VALE A PENA ASSISTIR “O CONFEITEIRO”?
Eu fiquei surpresa em “O Confeiteiro” foi o fato de a homossexualidade dos personagens não virar o tema central do filme, ele tem muito mais camadas e mais reflexões a nos proporcionar além desta questão apenas. Temos o aspecto cultural, a semelhança entre a gastronomia e o cinema ou qualquer outra carreira que se pretenda seguir, a religião, a temática dos relacionamentos afetivos e muito mais.
Outro fato que me surpreendeu, mas somente após assistir, foi o fato de ser baseado em fatos reais (!). O diretor conta que a origem da história é um homem que ele conhecia que, apesar de ter uma família, estava saindo com homens. Ele soube pela esposa que o ele morreu.
E eu gostei muito do filme exatamente por essas questões que o filme traz de forma tão natural e espontânea. Pra um início de carreira, diria que o filme é fora da curva.
ALÉM DAS CORES
Toda a forma como filme é contado me impressionou muito porque é sensível sem cair no banal ou superficial.
Por exemplo, a forma como assistimos o luto de Thomas, que é singular, solitário. Ninguém sabe de sua existência, de sua dor, é como se ele não pertencesse a nada do universo de Oren ao mesmo tempo que todas aquelas pessoas já faziam parte de sua vida.
Por outro lado, não vemos Thomas chorar, sofrer ou sentir o luto. Posteriormente, temos uma outra impressão sobre isto, mas não vou contar pois seria um spoiler.
FILMES RELACIONADOS
Se você gosta de um bom romance e com temática LGBTQ+, eu escrevi sobre “Retrato de uma Jovem em Chamas”, que é incrivelmente sutil e potente.
Mas se você achou interessante o fato do personagem ter uma vida dupla, provavelmente vai gostar de “Brokeback Mountain” que conta com atuações incríveis dos atores principais.
Mas se seu interesse é cultural e LGBTQ+, você pode assistir “Desobediência” e depois conferir minha opinião aqui.
Por fim, acredito que este é mais um bom filme para quem está iniciando sua jornada por filmes mais alternativos ou fora do circuito mais popular, digamos assim. “O Confeiteiro” tem uma abordagem bem acessível mas traz reflexões interessantes e construtivas além de nos mostrar uma cultura bem diferente.
Iniciantes podem achar as tomadas muito longas, podem sentir falta de cortes, mas deem uma chance. Tudo isto tem motivo pra acontecer, pensem sempre nos personagens e suas emoções! 😉
Muito obrigada por sua leitura, espero que tenham gostado!
Pra você que é meu leitor fiel, eu também agradeço muito e peço que compartilhem com outros cinéfilos. Isso é muito importante pra ajudar a página a crescer!