Culpa (2018)
Elenco: Jakob Cedergren, Jessica Dinnage, Omar Shargawi
Diretor: Gustav Möller
Diretor de Fotografia: Jasper Spanning
Eu, particularmente, acho que esse é um dos filmes mais subestimados pelo Oscar, mas até aí, também não há novidade nenhuma. Embora seja uma grande vitrine de popularidade, existe muita política, camaradagem e senso comum por trás dessa premiação. Durante muito tempo ignorei as indicações, boicotei a transmissão e nunca aplaudi a cerimônia; mas em função desta página, acabei me antenando mais no indigesto prêmio. Minha opinião não mudou, eu continuo detestando o Oscar.
Considero um exagero indicar “Roma” a melhor filme estrangeiro e melhor filme do ano. Poderiam ter deixado uma vaguinha aberta para o título supracitado, que é um belo exemplar do cinema dinamarquês.
Apesar de ter sido rejeitado pelo Oscar, “Culpa” recebeu um premio no festival de Sundance, para o diretor Gustav Möller
Filmado em apenas um ambiente, uma central de atendimento de emergências policiais, “Culpa” é o filme de estreia do Diretor Gustav Möeller, que trabalha muito bem o suspense da trama, a ambientação e a interpretação de seu protagonista, Asger Holm.
O fato de Asger estar confinado em um ambiente apenas, torna o filme extremamente claustrofóbico, especialmente porque não há janelas, somente luz artificial e branca. É bem incômodo! Tal unidade de cenário que poderia ser a ruína de Gustav Möller, vejo como seu principal aspecto de qualidade na construção da narrativa. Assim como o personagem principal, nós também não vemos nada do que está acontecendo do outro lado da linha telefônica, tornando o suspense ainda mais atraente, nossa imaginação flui junto com ele e somente pensamos no pior. A medida que os eventos do atendimento que está sendo realizado se desenrolam, vêm à tona dramas da vida pessoal do protagonista; aumentando ainda mais a carga de tensão do público.
Fotografia e Cores
As cores estão totalmente adequadas ao tipo de ambiente que Asger ocupa: temperatura fria para azul, cinza e branco. Porque o branco também pode ser frio quando objetificado a partir das luzes fluorescentes e acompanhado das cores nesta tonalidade.
Entendo que a escolha por esta paleta de cores esteja relacionada aos ambientes similares que temos na vida real: centrais de atendimento são, geralmente, locais nada acolhedores e pobres em cores para que os operadores não se distraiam, se mantenham calmos e controlados diante do que ouvirão. Tonalidades frias tendem a nos manter passivos, equilibrados e concentrados.
O forte aqui nessa obra é a iluminação; é ela quem falará mais alto no filme.
Segundo o diretor de Fotografia, Jasper Spanning, a iluminação deveria parecer real e não estilizada. O diretor Gustav Möller queria que o set fosse o muito próximo da realidade possível e se parecesse com o beco sem saída em que o personagem principal se encontra preso. Ele passou um dia em uma central ouvindo as chamadas reais: “Foi tão intenso e dramático ouvir todas as histórias dessas pessoas diferentes, mas o lugar em si é um escritório muito comum, com luz implacável. Tubos no teto, práticas e telas de computador desempenharam um papel importante no projeto da iluminação. A chave era encontrar o desenvolvimento visual da história”. À medida que a história se torna mais sombria, o personagem principal sai da luz e adentra planos mais escuros, enquanto ele questiona seu próprio julgamento e o passado, a iluminação se torna mais sugestiva e aprimorada.
Fontes: Creative Planet Network / Birth Movies Death / Filmmaker Magazine
Pra mim, foi quase impossível não associar “Culpa” a outros filmes semelhantes:
- “Por Um Fio”, 2002, de Joel Schumacher. Colin Farrell interpreta um publicitário que se vê preso a uma cabine telefônica onde deve confessar seus pecados para não ser alvejado por um sniper. Todo o filme se passa ao redor dessa cabine, em Nova Iorque. Algo semelhante ao que acontece com o protagonista do longa dinamarquês, a partir do último terço.
- Em “Festim Diabólico”, Hitchcock reúne em apenas um ambiente dois criminosos que tentam escapar ilesos de seu homicídio. Tem análise desse filme aqui.
- Em “Locke”, de Steven Knight, Tom Hardy dá vida a Ivan Locke, um homem de família que recebe uma ligação ameaçadora e passa os 90 min do filme se deslocando de carro. Assim como acontece em “Culpa”, o filme se passa em tempo real.
Em resumo, “Culpa” é um filme muito eficaz na trama de suspense, a atuação de Jakob Cedergren é excelente e a obra merecia uma indicação ao Oscar. Mas esta é uma premiação que está sempre em desacordo com as minhas opiniões e… paciência! O bom é que a gente não precisa de Oscar nenhum pra admirar produções de qualidade como essa aqui.