Eighth Grade

Nanda Vieira
nanda.art.br
Published in
5 min readJan 9, 2019

Confiança é uma escolha

A cena exibida na capa é a que mais vemos durante o filme

Elsie Fischer, protagonista de “Eighth Grade” foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor atriz em filme de Musical ou Comédia — Francamente, não consigo entender essas indicações, uma vez que, “Eighth Grade” não tem nada de engraçado ou de musical. Ou será que eu estou perdendo o senso de humor? 🤔 — Uma indicação merecida, uma vez que ela é o sol desse filme.

O filme retrata uma menina que está saindo do ensino Fundamental para o Ensino Médio, que não tem aquele tipo de personalidade que possamos afirmar ser social. Na verdade, ela não é nem um pouco, nem mesmo nas redes sociais onde cria um personagem bem diferente do que vemos em sua vida cotidiana. Ela não tem amigos, tanto online quanto no mundo real.

É bem interessante observar no detalhe a abertura do filme, com Kayla gravando um vídeo para o YouTube: a câmera se afasta a medida em que ela vai “mentindo”. Uma representação gráfica de que o que é dito por ela não condiz com a realidade, é um indicio de que nem nós e nem ela própria ainda se conhece verdadeiramente.

Gucciiiiii

Gostei de ver a forma como Kayla é retratada: tem profundidade, ela me parece uma adolescente real dos dias atuais e a forma como se relaciona com quem está em volta também. Ainda que seja uma youtuber, sua vida não se passa apenas no mundo digital, embora o acesso às redes sociais seja exaustivamente frequente. Ela tem o comportamento típico de alguém da sua idade e percebemos isso em diversos momentos no longa: suas reações às tentativas do pai em conversar, quando treina o beijo na mão, se encanta com o garoto (já) idiota-popular da classe, sente vergonha em roupas de banho e quando se isola na piscina ao tenta esconder o corpo, diga-se de passagem numa linda cena azul de água. Eu adoro quando diretores de fotografia atribuem texturas às imagens! 😍

Alguém aí sentindo o cheiro de cloro também?

O pai de Kayla, Mark, é um personagem pouco detalhado pelo diretor Bo Burnham, mas observamos que é realista. É comum os pais de adolescentes apresentarem certa dificuldade em se comunicar com seus filhos durante esse período e Mark tenta a todo instante, puxando assunto desde os temas mais banais até os mais sérios; quando nos aproximamos do último terço do filme. Não chega a ser um pai ausente, mas ele não encontra meios para furar o bloqueio que existe entre ambos.

O desfecho do longa tem tensão e é bem-intencionado no sentido de passar mais proximidade entre ambos. Numa conversa meio desajeitada, Kayla finalmente se abre e demonstra seus sentimentos para o pai que também o faz. Não posso afirmar que houve negligência no texto; mas foi um diálogo superficial para uma história que tem uma trajetória realista. Faltou consistência nesse momento para atingir os objetivos que se queria.

Cores e Fotografia

A paleta de cores tem cinza, amarelo e rosa como base. Essa é uma escolha interessante pois tais cores combinadas representam a infância e de fato, a escalação é coerente, uma vez que Kayla está num momento particular de transição. Analisando cada uma em separado, temos traços da personalidade da protagonista.

Da combinação entre branco, que representa a clareza, e preto, que representa a escuridão; temos o cinza que traz a insegurança consigo, é aquilo que é incerto, nem ao menos temos certezas de sua temperatura: pra ser frio precisamos de um toque de azul e pra ser quente, um toque de amarelo.

E é exatamente dessa forma que sua diversidade se dá no longa. Quando Kayla se sente mais confiante, o ambiente é solar e o cinza se apresenta mais quente, ou quase não participa, como no frame abaixo, ponto alto de sua confiança na história:

#QuemNunca ficou toda animadinha com por ter recebido atenção daquele carinha da escola que atire a primeira pedra

A presença do rosa sempre nos inspira ao feminino e sua gradação é que vai ditar a época. Temos aqui um rosa juvenil, mais maduro do que os pastéis que trazem a sensação de infantil demais, não a toa o chamamos de rosa-bebê. Kayla é uma menina feminina, que tem vaidade e notamos isso no primeiro ato, quando a vemos se maquiando para tirar fotos.

A iluminação também é um ponto a se observar pois ela muda de acordo com o humor de Kayla. Notem como é mais escuro quando ela está melancólica, meio triste ou confusa:

Paleta de cores melancólica pro momento ‘down’ da protagonista

Em contrapartida, a menina está transformada depois de ter cumprido o Ensino Fundamental, foi um longo processo de autoconhecimento e seu rosto é exibido mais iluminado. Se no início a câmera se afasta para denotar sua insegurança e confusão sobre si própria, no fim o plano se fecha num enorme close de seu rosto com a intenção de trazer mais intimidade e autoconfiança.

Frame do frame

De fato, o filme está enquadrado como comédia no IMDB, mas eu, particularmente, salvo 2 cenas em especifico, não vejo porquê. Lançado nos Estados Unidos em 3 de agosto de 2018, “Oitava Série”, título recebido em português, não tem data prevista para exibição em telas brasileiras. Uma pena pois eu recomendo e quem me indicou foi ninguém menos que Barack Obama (!), Eighth Grade entrou em sua lista de melhores de 2018. 😊😉

Abaixo o trailer:

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Nanda Vieira
nanda.art.br

Criativa, apaixonada por cores, cinema, música e tudo mais relacionado a essa maravilhosa combinação! 🌈🎬🎵