Obceque-se pela sua escritora do momento

Canalize do profano ao divino — antes que se afoguem na piscina de ondas

Minha geração nasceu com a 'sss' (soft skill stalker) apurada. São poucas as vezes em que essa habilidade não é uma ponte para uma autossabotagem daquelas que leva a um gatilho pujante que ativa a tempestade de ideias meia boca. Se não estamos usando ao nosso desfavor, são altas as chances de estarmos fazendo isso em nome daquela amizade que precisa saber do desastre na respectiva vida amorosa prestes a ser levado a conhecimento público.

O mar de informação em que navegamos nos convida a uma obsessão qualquer. O lado bom é que material para qualquer uma delas provavelmente não falta. Já o aspecto ruim…é o mesmo.

A atual são os cometas. A antepenúltima obsessão recente foram os acidentes em parques de atrações. Duas semanas enchendo a cabeça com os casos mais macabros e sensacionalistas. Até hoje não encontrei aquele documentário que a HBO tirou do ar. As pessoas se afogavam na piscina de ondas — sente o drama.

A penúltima, não há dúvidas, me deleitei e recomendo. Longe de ser novidade. Assim como Virgínia Woolf era com Shakespeare, Rita Lee com Beatles, bell hooks com Angela Davis…

Vai além do admirar. Estou mesmo falando sobre obsessão. Recanalizar a nossa energia diária do profano ao divino para/com aquilo que nos atravessa.

No dia em que ela anunciou a sua separação em plena coluna de jornal doeu, senti por ela. Só que confesso, ansiei pela sua nova fase criativa.

Recentemente cruzei os cabos e percebi que foi uma das primeiras cronistas mulheres que tive o prazer de acompanhar. Seus títulos anunciam: já sofreu gaslighting. Nota-se também que não se deixou abalar por meia dúzia de 'editores-assistentes' que xingam muito no Twitter, são cúmplices de WhatsApp, feministos até a primeira passada de pano para o brother. Um deles provavelmente foi o cara que lhe chamou de louca pela primeira vez.

Ler de cabo a rabo (incluindo aquelas crônicas em que ela pisou na bola), escutar todas as entrevistas, entender as fases, identificar suas fortalezas e inseguranças de longe tem sido uma das obsessões mais saudáveis dos últimos tempos.

Frutífero porque a obsessão permite entender o caminho com seus erros e logros. Vira e mexe ela ainda solta comentários duvidosos e me ensina diariamente que é muito mais sobre ter coragem do que sobre não errar.