Piscininha da vulnerabilidade

É preciso ter conhecimento prévio da tripulação antes de avisar que o barco está afundando

Julia Latorre
Blog da Julia
2 min readAug 14, 2024

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Primeiro veio a empatia, logo, a resiliência. Em 2024, é tendência falar sobre vulnerabilidade. Suspeito que tenha a ver, sim, com o TEDx da Brené Brown, realizado há 13 anos e até hoje viralizado. Faz sentido que o termo esteja em voga, já que ele se relaciona tão bem com os anteriores.

Saturar o ângulo sobre a vulnerabilidade ensinou que lidar com ela exige coragem e resiliência. Mais importante do que a coragem, entretanto, é a estratégia.

E aí eu chego na empatia. Estar vulnerável com luz no fim do túnel só é compatível com uma ligeira exposição. Pedido de ajuda.

Piscininha, amor

Do alto do trampolim, percebe-se que é importante escolher as águas da piscininha de vulnerabilidade que vamos mergulhar. Rasas, profundas, cristalinas, turvas.

Não se sabe o que vai acontecer lá embaixo. Pode ser que o salto corra bem, quase sem splash, como foi o da atleta chinesa Quan Hongchan nos saltos ornamentais nos Jogos Olímpicos de 2024.

Tem vezes que dá errado, e é preciso reforços na aterrissagem: salva-vidas ou alguém pra te lançar a boia e guiar à terra firme. Continente.

Quando se opta pela piscininha de águas turvas, corre-se o risco de encontrar alguém que também esteja se afogando, a ponto de se apoiar em você para respirar. Você engasga, consegue submergir para um trago de ar, e voltam a te afogar. É preciso juntar forças sobre-humanas para sair dessa.

A sobrevivência não é garantida. Nadar até a margem exige dez vezes mais força e coragem em comparação à piscininha cristalina dos salva-vidas confiáveis.

Acontece que, de longe, nem sempre conseguimos diferenciar a piscininha de águas cristalinas das turvas. Confundimos os guarda-vidas da vida toda com aqueles ainda em fase de teste. Potencial.

Uma rede social, uma mesa de bar. É preciso ter conhecimento prévio da tripulação antes de avisar que o barco está afundando. Só que, normalmente, a gente só entende isso quando já levou um bom susto no engasgo.

Vulnerabilidade é um termo impetuoso que precisa ser aplicado com a sabedoria de quem já gabaritou resiliência e empatia. Deixá-la fluir oceanos afora, portanto, é arriscado e exige estratégia ou um barquinho bem estruturado, de preferência com uma bússola para que não se esqueça de que lado o sol nasce.

Estar vulnerável é humano, compartilhar dela é necessário.

Recebê-la é para salva-vidas experientes.

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Julia Latorre
Blog da Julia

Comunicadora especializada em gênero.♀ Escrevo aqui sobre o que dá vontade. linkedin.com/in/julialatorre