A Nova Era das Relações Líquidas

Leonardo Sevilhano
Coluna
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2 min readSep 6, 2020

por Leonardo Sevilhano

Photo by Joan Torruella on Unsplash

Mesmo em meio a uma tragicomédia de nível mundial, tenho conseguido me fazer contente de forma bem simples. Talvez seja o isolamento forçado, não sei. Mas fico feliz em ter me reencontrado nas prateleiras cheias de livros que, confesso, andavam bem empoeirados.

Dentre essas descobertas me deparei com uma reflexão tão viva e pulsante quanto que insiste em prevalecer. Abri um livro antigo que meu pai havia ganho de uma “admiradora”. No verso da capa, uma dedicatória bem pessoal com desejos de boas leituras e uma singela forma de se eternizar naquela obra.

Dessa dedicatória, me vieram as famosas cartas de Mário de Andrade a Drummond, o lindíssimo poema de Álvaro de Campos, “Todas as cartas de amor são Ridículas”, e a coletânea de Zygmunt Bauman acerca das “relações líquidas”.

Não me recordo de nenhuma interação com qualquer nível de intimidade como tal. Uma troca de playlist? Uma ligação que durasse mais de 30 min? Hum, quem sabe aquela mensagem espontânea para saber colocar o “papo em dia”?

Abro meu e-mail, nada mais do que um feedback automático em relação a uma vaga de emprego que provavelmente veio de um robô. Olho para o celular e a resposta em mensagem da pessoa que sonhei ontem à noite não chegou como no sonho. Nas redes sociais apenas reações prontas com os tais emojis ou risadas que mal ultrapassam 3 caracteres.

O distanciamento social não é novidade em um mundo em que os telefones, ao mesmo tempo em que aproximam, contribuem para que o individualismo e as relações líquidas prevaleçam.

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Leonardo Sevilhano
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