todo café é um convite
tu repetia a senha do wifi, “todo café é um convite”.
todo café é um convite, tudo-junto-minúsculo-sem-acento.
quando aceitei o canudo no meu cappuccino gelado, com toda a minha hipocrisia, tu riu de cantinho. como recusar um convite de quem diz não se importar com as tartarugas? (eu também ri com essa confissão, porque de início não sabia se achava preocupante, cruel ou autêntica mesmo. aí lembrei que quase todas essas são inerentes à vida, menos a autenticidade — para ser autêntica é preciso coragem.)
são essas sutilezas e humanidades e pingos de coragem que me fazem acreditar que a vida pode ser boa. afinal, duro é viver num mundo onde os canudos vão parar no nariz das tartarugas.
ou você aceita, ou surta. a salvação foge do nosso controle. sorte de quem tem fé em seres superiores. minha sorte é ter convites à base de café por pessoas gentis a ponto de aliviar nossa culpa pela destruição do planeta. eu aceito, sem pensar duas vezes.
fevereiro de 2020.
