Crítica | Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips
Enquanto a DC patina para criar uma história coesa nos cinemas, seu universo compartilhado animado funciona desde 2013 criando obras de personagens ‘secundários’ como Esquadrão Suicida e Constantine, que dividem espaço com os ‘figurões’ como Superman e Batman, ainda que — por vezes — apenas coexistindo. De qualquer forma, o estúdio entendeu que estava na hora de finalizar essa narrativa e assim realizou Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips (Justice League Dark: Apokolips War) como o embate final entre os heróis e Darkseid, um dos maiores — senão o maior dos — vilões da editora.
Na trama, Superman (Jerry O’Connell) descobre que Darkseid está planejando uma nova tentativa de dominar o planeta e, para evitar o conflito na Terra, ele e a Liga da Justiça irão até Apokolips em uma incursão final. Entretanto, os planos saem do controle e a trama avança alguns anos para mostrar o — improvável — protagonista da obra, John Constantine (Matt Ryan, reprisando o papel com uma precisão esperada), em um terra devastada pelo vilão. Unindo forças com Ravena e um debilitado Superman, o mago acaba por encontrar uma nova chance de retomar o planeta, enquanto busca uma redenção para si próprio.
Fica claro que a intenção da dupla Matt Peters e Christina Sotta, que co-dirigem a obra, é criar em Guerra de Apokolips um tom diferente do usual. Ainda que as animações da DC sejam conhecidas por não serem exatamente obras infantis, a intenção aqui é dar outro peso para a batalha desses personagens. Embora a ideia seja boa, a ausência de um desenvolvimento propriamente dito é sentida quando alguns dos heróis começam a ser despedaçados em cena. Nota-se também que o roteiro faz certos malabarismos para equilibrar alguns personagens, valorizando uns, mas desvalorizando tantos outros, algo até justificável pelo alto número de heróis e vilões, mas infeliz dada certas resoluções para alguns deles.
Uma das escolhas mais acertadas do longa é a escolha do protagonista. Como o título deixa explícito, a obra em questão não é uma continuação das animações da Liga da Justiça, mas sim daquelas protagonizadas pela equipe “mística”, composta por Constantine, Zatanna e outros — conhecida como Liga da Justiça Sombria — e, portanto, traz justamente o mago britânico como o principal personagem da história. O roteiro se beneficia disso, já que Constantine mostra-se um personagem mais simples de se trabalhar do que o Superman, por exemplo, já que ele mostra-se falho em diversas partes da história e faz com que sua jornada pessoal não soe forçada dentro de uma trama já responsável por abordar núcleos demais.
Essa existência de muitos núcleos é também responsável por fazer com que que Guerra de Apokolips tenha problemas de ritmo. Para isso, o roteiro mais de uma vez pausa a história em pontos distintos para agregar personagens aos poucos, sendo que algumas introduções soam orgânicas — Damian Wayne, Lex Luthor — , mas outras parecem estar lá sem razão aparente que não uma boa referência — como Harley Quinn, personagem que ganha cada vez mais importância dentro dos produtos da DC, mas que aqui soa deslocada e até desperdiçada em certo ponto. O problema se agrava principalmente nos minutos finais, onde subtramas distintas vêm à tona sem que necessariamente exista uma coesão entre elas, apenas pela necessidade da obra decretar o ponto final para todos.
Efetivo enquanto uma conclusão de uma linha narrativa — que engloba dezesseis animações distintas — , Liga da Justiça: Guerra de Apokolips infelizmente não consegue ter o impacto emocional almejado e se prejudica pela curta duração, forçando-se a recorrer à saídas fáceis no seu terço final. Ainda assim, seu roteiro demonstra uma ousadia que poucas vezes um estúdio busca em suas produções, principalmente se tratando de animações mainstream. Fica o desejo de que quando um inevitável reboot aconteça, esses heróis — e vilões — recebam em suas novas aventuras um pouco dessa ousadia, principalmente nas adaptações de grandes arcos dos quadrinhos. Até lá, o espectador pode se contentar com essa amarga conclusão.