A comunidade como ponte entre o indivíduo e o mundo

Futuro Possível
Revista Possível
Published in
4 min readApr 22, 2020

--

Por Lu Couto - Comunicadora, diretora criativa e pesquisadora de narrativas regenerativas para futuros possíveis. Lu é idealizadora do Futuro Possível.

Entre o indivíduo e o mundo existe uma ponte que é caminho e ferramenta motora rumo a futuros possíveis para nós e o planeta. Essa ponte é a comunidade. Ela nos tira do lugar de impotência e separação e nos convida à dança do interser com o outro. Uma bela dança da diversidade, dos medos, das dores, das limitações auto-impostas ou não, da abertura, das potencialidades e dons, da expansão, da realização, da co-responsabilidade, da consciência, do fazer dos sonhos realidade juntos.

Antes de começar, preciso fazer uma ressalva. Quando falo de comunidade, preciso deixar claro que a questão aqui não é escolher entre viver em comunidade ou não, mas qual o nosso grau de consciência e engajamento nas comunidades que fazemos parte: no nosso bairro, no trabalho ou mesmo no ecossistema como um todo.

A ideia central de uma comunidade é permitir que todos prosperem e expressem seus dons em benefício do grupo. E isso é algo tão bonito quanto a própria vida. Para chegar lá, precisamos de um modo de pensar e agir que promova a conexão em todos os campos. Nesse post vou abordar um pouco sobre essas habilidades e premissas que podem ser de grande ajuda nesse momento em que estamos reaprendendo a dar as mãos para não cair.

Então vamos lá!

  1. Os primeiros passos para essa (re)conexão entre os indivíduos passam pela capacidade de observação e pela comunicação sensível. Duas habilidades que podem ser desenvolvidas e que nos levam a sair do lugar do julgamento para um lugar de cooperação. E, mais do que isso, nos ensinam a criar uma cultura de fato regenerativa partindo do lugar interno e externalizando através do cuidado com o outro.
  2. A diversidade como campo de aprendizado potencializador, é outra premissa e presente. Pois enriquece a nossa forma de ver as diferenças, mesmo as irreconciliáveis. Nos provocando a entender a diversidade como um aglomerado de tesouros que nos levam a evolução.

“Toda separação é falsa e socialmente criada”.

Thomas Berry e seus ensinamentos sobre comunidades intencionais trouxe para nós a ideia de “O grande trabalho”, nos ensinando a participar conscientemente da transição para co-criamos uma presença humana na terra mais próspera e regenerativa. Ele nos convida a re-habitarmos esse espaço trazendo em nossos corações e mentes a compreensão de interconexão com todos os seres.

3. Nossa terceira premissa é a constante evolução. Partindo de um lugar de confiança, verdade e amor, mergulhamos no fluxo de amadurecimento do grupo, compreendendo esse processo como nunca acabado. Uma evolução que às vezes dá, sim, passos para trás.

4. Outra ponto, dos mais importantes, é estabelecer uma visão clara e compartilhada que ajuda o grupo nas tomadas de decisão e resolução de problemas. Um propósito coletivo. Aquilo que nos une, nos motiva e nos faz agir. Uma visão que parte da amizade e se reforça nela, no cuidado e no apoio mútuo. Comunidades são espaços em que nos sentimos acolhidos enquanto indivíduos e que nos vemos a serviço do grupo criando coisas que funcionam como caminho para o mundo que sonhamos juntos.

A visão comum é o coração nutridor da comunidade. Ela é uma resposta ao presente apesar de ser uma visão futura. É uma expressão do que queremos criar. É um compromisso que revela valores fundamentais e que oferece um ponto de referência para todos.

5. Abraçar os conflitos como propulsores evolutivos, aprendendo sobre respeito mútuo, aceitação, democracia, interdependência, organização e harmonia é nossa quinta premissa e àquela que assim como a diversidade desafia o senso comum de que a diferença é algo negativo. Dentro de uma comunidade, as tensões exercitam a potência do grupo.

Para além das premissas, temos o campo do grupo como um dos elementos mais interessantes nessa dança da comunidade. Ele nos ajuda a compreender não só o que cada um traz para a formação, mas a sabedoria que emerge desse encontro. É muito interessante pensar sobre as forças que agem em atração e divergência dentro do todo.

“O universo é uma comunhão de sujeitos, não uma coleção de objetos”.

— Thomas Berry

O campo é alimentado pelos materiais trazidos por todos consciente e inconscientemente. Escapando ao nosso controle. O campo tem sua própria vida e energia dinâmica. Ele não é só passivo, é ativo. Capaz de modificar e acomodar nossas atitudes e comportamentos individuais. O campo é feito por e para nós. Ele tem sua própria sabedoria.

Para encerrar esse texto, gostaria de concluir falando sobre justiça social. Não podemos ignorar que nossas velhas estruturas estão projetadas para manter padrões de exclusão e separação. Racismo, machismo, xenofobia, homofobia, transfobia e tantos outros problemas sistêmicos que impedem que fluxos de conhecimento, prosperidade e atenção sejam distribuídos de maneira igualitária. Ver nossas comunidades usando a lente da inclusão e da justiça social é fator fundamental para a criação de um mundo mais justo. E esse trabalho é feito com organização, dedicação, ação política e compromisso reafirmados diariamente.

__________

Se você gostou do post, é só aplaudir e aplaudir o quanto quiser até o limite de 50 palminhas :) É empolgante e ao mesmo tempo funciona como um termômetro e nos ajuda a seguir desenvolvendo nossa revista.

--

--

Futuro Possível
Revista Possível

Movimento que investiga futuros possíveis a partir da lente da regeneração.